Mesmo com avanços em alguns indicadores, o país ainda enfrenta um cenário marcado por desigualdade histórica, com impacto direto nas periferias urbanas e nos grupos marginalizados
Por Guilherme Schiavo (*)
Foto divulgação: Jornal da USP
Um dos principais fatores que sustentam essa desigualdade é a rigidez das estruturas institucionais e econômicas, que afetam diretamente as populações das zonas periféricas. Nessas áreas, a ausência de políticas públicas eficazes em setores como saúde, educação, cultura e assistência social compromete a formação do capital humano e perpetua ciclos de pobreza e vulnerabilidade.
A precariedade do sistema educacional, especialmente nas regiões marginalizadas, contribui para a alienação social. Sem um ensino crítico e de qualidade, muitos cidadãos deixam de compreender as origens da desigualdade e encontram dificuldade para se mobilizar por mudanças significativas. Dessa forma, a educação deixa de ser um instrumento de ascensão social e torna-se um mecanismo de contenção.
Outro fator agravante é a discriminação racial e social, que restringe o acesso de grupos historicamente marginalizados, como negros e moradores das periferias, a oportunidades de trabalho, educação e participação política. Essa exclusão estrutural reforça estigmas e limita a mobilidade econômica e social.
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Karl Marx já apontava a ideologia como ferramenta de manutenção da desigualdade, agindo por meio de instituições como a escola, a mídia e o sistema judiciário, para naturalizar a exploração da classe trabalhadora. Pierre Bourdieu complementa essa visão ao destacar que a desigualdade também é simbólica e cultural, sendo reproduzida por meio de mecanismos invisíveis como o capital cultural e o habitus. O sistema educacional, segundo ele, reforça essa desigualdade ao privilegiar aqueles já familiarizados com os códigos culturais da elite.
No Brasil contemporâneo, a concentração de renda, a precarização do trabalho, os cortes em políticas públicas e a criminalização da pobreza aprofundam ainda mais a exclusão social. A falta de uma reforma estrutural que enfrente os privilégios históricos das elites compromete qualquer avanço em direção a uma sociedade mais justa.
Em Taubaté-SP, apesar de indicadores socioeconômicos acima da média nacional, como o IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal) de 0,800 em 2010, ainda há bolsões de pobreza significativos. Segundo o Censo de 2010, 16,08% dos domicílios tinham renda de até meio salário mínimo por pessoa.
A violência juvenil também se concentra nas regiões mais pobres e populosas, afetando principalmente jovens entre 14 e 19 anos. A desigualdade racial também se evidencia: negros e pardos representam 22,02% da população, mas enfrentam maiores dificuldades socioeconômicas.
Esses dados reforçam a urgência de políticas públicas mais inclusivas, que considerem as desigualdades estruturais e promovam o acesso equitativo a serviços essenciais. Para isso, é essencial reconhecer a desigualdade não apenas como um problema econômico, mas como uma construção histórica e ideológica. A superação desse quadro passa por um compromisso político com a redistribuição de renda, a democratização da educação e o combate às discriminações estruturais.
A construção de um país verdadeiramente democrático e inclusivo depende de um projeto de sociedade pautado pela justiça social e pela igualdade de oportunidades para todos.
(*) Sob supervisão e edição do Prof. Me. Caíque Toledo