Os êxodos rurais na formação das periferias e as dificuldades de desenvolvimento do Vale do Paraíba

 Entre heranças coloniais e desafios urbanos, as periferias da região revelam o peso histórico da exclusão e a urgência de um novo modelo de desenvolvimento


Por Isa Toledo (*)


Foto: Reproduçao Google Street View / G1


A formação das periferias urbanas no Vale do Paraíba é fruto de um processo histórico marcado por desigualdades sociais, concentração fundiária, transformações econômicas e políticas públicas insuficientes.

Desde o período colonial, com a implantação das capitanias hereditárias e dos latifúndios, o modelo de ocupação portuguesa favoreceu uma elite proprietária de terras, excluindo camponeses, negros libertos e indígenas do acesso à terra e à cidadania. Essa marginalização impulsionou o deslocamento de populações para áreas urbanas em busca de subsistência.

No século XIX, a região se destacou como polo cafeeiro. A prosperidade, no entanto, não foi acompanhada de distribuição de renda ou direitos. Com o fim da escravidão em 1888 e o declínio do ciclo do café, milhares de ex-trabalhadores rurais migraram para as cidades, acelerando o crescimento desordenado dos centros urbanos e dando origem às primeiras periferias com pouca ou nenhuma infraestrutura.


O processo se intensificou nas décadas seguintes, especialmente a partir dos anos 1950, com a industrialização e políticas como o Plano de Metas do governo Juscelino Kubitschek. Cidades como São José dos Campos e Taubaté atraíram indústrias e milhares de migrantes, mas sem planejamento urbano adequado, resultando em bairros periféricos com moradias precárias, saneamento insuficiente e serviços públicos escassos.

Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 2019 mais de um terço (36,5%) das áreas urbanizadas do país estavam concentradas na região Sudeste, onde se localiza o Vale do Paraíba. Esse dado reflete o avanço da urbanização desordenada e os impactos da especulação imobiliária nas cidades médias e grandes da região.

Atualmente, as periferias do Vale enfrentam desafios como transporte precário, insegurança, ausência de políticas públicas eficazes e vulnerabilidade social. Programas como o PDUI (Plano de Desenvolvimento Urbano Integrado), do governo estadual, visam promover um planejamento regional mais equilibrado, mas ainda enfrentam obstáculos para sua efetivação.

A história das periferias no Vale do Paraíba é, portanto, resultado da sobreposição de ciclos econômicos, exclusões sociais e omissões estatais. Enfrentar esses desafios exige políticas públicas integradas que promovam inclusão social, acesso a direitos básicos e desenvolvimento urbano sustentável.

(*) Sob supervisão e edição do Prof. Me. Caíque Toledo