Como entidades públicas e privadas enfrentam desigualdades periféricas

 Organizações sociais, poder público e iniciativas privadas se mobilizam para ofertar direitos e fortalecer territórios periféricos, mesmo diante de omissões estruturais

Por Jhonathan William (*)



Contudo, diversas iniciativas, tanto de entidades públicas quanto privadas, têm atuado de forma decisiva na melhoria da qualidade de vida e na redução das desigualdades nessas áreas. O município de Taubaté, no interior de São Paulo, apresenta um cenário urbano marcado por contrastes socioeconômicos. 

Apesar de concentrar polos industriais, instituições de ensino e uma rede comercial em expansão, a cidade também abriga diversas comunidades periféricas que enfrentam desafios relacionados à exclusão social.

Diversas localidades reúnem parte significativa da população em situação de vulnerabilidade, e, por lá, observam-se deficiências em infraestrutura urbana, como ausência de saneamento básico, moradias inadequadas, mobilidade urbana precária e acesso restrito a serviços essenciais de saúde e educação.

De acordo com levantamentos sociais e diagnósticos territoriais produzidos por organizações e universidades locais, essas comunidades também apresentam altos índices de informalidade no mercado de trabalho e enfrentam desafios recorrentes relacionados à segurança pública. Ao mesmo tempo, são territórios onde emergem diversas formas de resistência social e cultural, protagonizadas por coletivos locais, lideranças comunitárias e juventudes periféricas.

Diversos projetos socioculturais, ações de educação popular e iniciativas de comunicação comunitária têm contribuído para fortalecer os vínculos sociais e ampliar a participação cidadã nos processos de transformação local. Essas práticas, em muitos casos, buscam suprir a ausência do poder público e disputar narrativas sobre o território, contribuindo para a valorização da identidade periférica e para o enfrentamento das desigualdades estruturais.

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Atuação do Poder Público

As prefeituras das cidades do Vale do Paraíba, especialmente São José dos Campos, Taubaté e Pindamonhangaba, têm implementado diversos programas de assistência social e promoção da cidadania. Um dos principais equipamentos públicos nesse contexto é o CRAS (Centro de Referência de Assistência Social).

O CRAS oferece serviços para famílias em situação de risco, com atividades de proteção social básica, apoio psicossocial, cursos de qualificação profissional e ações comunitárias. Em Taubaté, essa estrutura representa a principal porta de entrada para o acesso a programas sociais, orientação familiar e encaminhamentos a outras políticas públicas.

“Hoje nós temos, na área da proteção social básica, o trabalho com a prevenção contra vulnerabilidades e demandas sociais. Já na proteção especial, atuamos com média e alta complexidade, lidando com situações de risco social, como exploração e violação de direitos", afirma Izabell Pastorelli, assistente social responsável pela Diretoria de Administração do SUAS (Sistema Único de Assistência Social) no município. 

Hoje, Taubaté conta com seis unidades do CRAS, espalhadas por diferentes regiões, oferecendo acesso a benefícios como o Bolsa Família, Cadastro Único, atendimento multiprofissional, oficinas e escuta qualificada.




Educação, Cultura e Assistência no Sesc 

O Sesc (Serviço Social do Comércio) é uma instituição privada, sem fins lucrativos, mantida por empresários do comércio de bens, serviços e turismo. Seu objetivo é promover bem-estar, cultura, lazer, educação e saúde. Em Taubaté, o Sesc está localizado no bairro Esplanada Santa Terezinha desde 1988, consolidando-se como espaço de referência para a comunidade, inclusive nas periferias. 

“A programação é muito ampla e voltada para todas as idades, com atividades esportivas, culturais e socioeducativas. Temos, por exemplo, o programa Curumim, que atende crianças de 7 a 12 anos no contraturno escolar com oficinas criativas e de integração”, afirma Patrícia [SOBRENOME], uma das responsáveis pela unidade.

O Sesc promove o acesso democrático à cultura com espetáculos de música, teatro, dança, circo e artes visuais muitos gratuitos ou com valores acessíveis. A instituição também oferece serviços de odontologia com valores subsidiados e ações externas de prevenção em saúde. “Temos uma equipe dedicada a construir essa programação com muito carinho e compromisso social. Nosso objetivo é acolher todas as pessoas, oferecendo um espaço seguro, acessível e cheio de possibilidades", afirma.

Um dos projetos de maior impacto social do Sesc  é o Programa Mesa Brasil, voltado ao combate à fome e ao desperdício de alimentos. O programa atende cerca de 6 mil pessoas em cinco cidades da região, contemplando 39 instituições sociais e contando com 68 doadores. Para serem atendidas, as instituições precisam estar legalmente constituídas, registradas no conselho de assistência e prestar serviço voltado à alimentação.

“Costumamos dizer que coletamos onde está sobrando e entregamos onde está faltando. Diariamente vamos a mercados, padarias e feiras, coletamos alimentos bons para consumo e distribuímos para instituições cadastradas”, explica Thaís [SOBRENOME], coordenadora do projeto. “As instituições vêm mensalmente ao Sesc para capacitações. A ideia é ensinar como aproveitar bem os alimentos arrecadados e evitar desperdício. O cozinheiro, o nutricionista ou o educador vira um multiplicador dentro da instituição.”

Entre janeiro e abril deste ano, foram arrecadadas cerca de 60 toneladas de alimentos. Além do impacto direto na alimentação de famílias vulneráveis, há também uma forte dimensão educativa e ambiental.


Desafios e Oportunidades

Apesar do trabalho significativo de entidades públicas e privadas no Vale do Paraíba, os desafios persistem. A falta de investimentos estruturais, o acesso limitado à saúde de qualidade, a violência urbana e a ausência de políticas públicas voltadas à juventude ainda afetam duramente as periferias.

Contudo, as ações descritas neste dossiê mostram um movimento de conscientização e mobilização coletiva. O engajamento do setor público, de organizações sociais e da iniciativa privada revela o potencial transformador da atuação conjunta, capaz de promover inclusão, cidadania e desenvolvimento humano.

Através dos relatos neste dossiê podemos concluir que a realidade das periferias do Vale do Paraíba é marcada diversos contrastes, desafios e vulnerabilidades, mas também por iniciativas concretas que buscam transformar esse cenário. Entidades como o CRAS, o SESC e o Programa Mesa Brasil demonstram que é possível construir redes de solidariedade, apoio e formação cidadã a partir de esforços contínuos e coordenados.

O fortalecimento dessas ações, aliado à criação de políticas públicas estruturais, é essencial para a superação das desigualdades sociais. O caminho para um futuro mais justo e igualitário passa pelo reconhecimento do potencial desses territórios e pelo compromisso de toda a sociedade com a inclusão, o respeito e a dignidade de todas as pessoas.


(*) Sob supervisão e edição do Prof. Me. Caíque Toledo