No pódio da superação, atletas relatam as dificuldades diárias e a sombra do abandono ao brilho de ser tornar um atleta olímpico

 Conquistas alcançadas por Rebeca e outros atletas evidenciam o talento brasileiro, mas as dificuldades impostas aos atletas amadores e de alto rendimento no país ainda são constantes

Por Carolina Rodrigues (*)

Em Paris, Rebeca Andrade se tornou a maior medalhista olímpica da história (Foto: Olympics)

No último dia 5 de agosto o Brasil acordou cedo para acompanhar um dos momentos mais memoráveis de sua história esportiva. A ginasta Rebeca Andrade garantiu sua medalha de ouro na apresentação do quesito solo, sendo  ovacionada pelo público e até por adversárias, como o fenômeno da ginástica artística Simone Biles. A bandeira brasileira erguida no ponto mais alto da Bercy Arena encheu de orgulho todo o país, que assistiu à coroação da maior medalhista olímpica do Brasil. 

Entretanto, enquanto momentos como esse são celebrados pela história que carregam, a conquista dessas medalhas e de outros bons resultados em diferentes modalidades pode esconder a falta de apoio mais consistente à prática esportiva no Brasil. Durante os jogos, muitos atletas externaram suas dificuldades nas preparações para sustentar suas atividades durante as competições e no pós conquistas esportivas. 

Em um país onde vemos muitos atletas vindo de classes mais populares, a falta de estrutura, alimentação adequada e apoio financeiro se tornam barreiras constantes. Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 52% dos atletas olímpicos brasileiros dependem de patrocínios privados, e cerca de 33% não possuem nenhum tipo de patrocínio fixo, contando apenas com apoio esporádico de empresas ou ajuda de familiares. “O esporte no Brasil hoje é privado, do sistema e ele não é acessível a todos”, declarou a ex-ministra do Esporte Ana Moser, também ex-jogadora de vôlei da seleção brasileira. 

Os Jogos Olímpicos, com todo o seu glamour e visibilidade, podem ser o momento ideal para nos questionarmos quantos atletas, artistas e outros talentos a mais poderiamos ter se o Brasil não condenasse parte da sociedade a um ciclo de privação e exclusão. Um levantamento do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) em 2023, apontou que 70% dos atletas de alto rendimento vêm de famílias de baixa renda, e mais de 40% deles relataram que já pensaram em abandonar a carreira esportiva devido à falta de apoio financeiro. 

Dessa forma, a importância da existência de programas sociais como o Bolsa Atleta, concedido pelo governo federal, alavancaram e ainda fazem parte da carreira de atletas hoje renomados no âmbito esportivo, como as medalhistas em Paris Rayssa Leal, Beatriz Souza, a própria Rebeca Andrade, além de muitos outros.

"O Bolsa Atleta ajuda bastante, principalmente a quem não tem patrocínio, a comprar um skate, e também ajuda no bom desempenho nos campeonatos. No início, me ajudou bastante, mesmo, e ajudou muito minha família, a melhorar tudo isso”, declarou Rayssa, que conquistou o bronze olímpico este ano.

Medalhista em Tóquio e Paris, Rayssa Leal faz parte do programa Bolsa Atleta desde 2022 (Foto: Gaspár Nóbrega / COB)


Dentre os 60 medalhistas brasileiros que subiram ao pódio nesta edição das olimpíadas, apenas três não usufruem atualmente do benefício: Gabriel Medina, medalha de bronze no surfe, mas que já participou de dois editais do programa; Larissa Pimenta, que levou duas medalhas de bronze pelo judô, fez parte do Bolsa Atleta ao longo de dez anos; e Isaquias Queiroz, medalha de prata na canoagem, que integrou o programa por 13 anos. 

“Os números comprovam a importância da bolsa para os atletas brasileiros. Fizeram bonito em Paris e quero parabenizar todos que representaram nosso país com muita determinação e paixão pelo esporte. Vamos seguir apoiando o esporte brasileiro para que a gente evolua ainda mais”, ressalta o ministro do Esporte, André Fufuca, ao ser questionado sobre a efetividade do apoio estatal ao esporte.

Como funciona o programa? 

Fundado em 2005, o Bolsa Atleta é fomentado pelo governo federal contemplando atletas de alto desempenho que obtêm resultados em competições nacionais e internacionais. Só neste ano de 2024, foram mais de 6.000 atletas apoiados pelo programa, que contempla seis categorias: atleta de base, Estudantil, Nacional, Internacional, Olímpico/Paralímpico e Pódio. 

Os requisitos exigidos para os atletas são: ser maior de 14 anos; estar vinculado a algum clube esportivo; ser filiado à entidade de administração de sua modalidade em nível estadual e nacional; e ter participado de uma competição um ano anterior àquele que está dando entrada de pedido na bolsa, dentre outros. O valor do benefício é depositado na conta através da Caixa Econômica Federal. Após o recebimento das 12 parcelas pronunciadas por ano, o atleta ainda precisa fazer uma prestação de contas ao governo. 

As Olimpíadas de Paris ajudaram a apontar que o caminho para o sucesso pode ser o apoio intensivo e contínuo aos atletas brasileiros, para que possam desempenhar com competência as atividades que tanto treinam e se dedicam no dia a dia para representar nosso país.


(*) Sob supervisão e edição do prof. es. Caíque Toledo