Breaking em ritmo zero: como uma professora australiana trouxe atenção ao esporte olímpico estreante em Paris

 Modalidade estreou no programa das Olimpíadas este ano, mas disputa de medalha ficou em segundo plano após notas zero de atleta da Austrália

Por Júlia Coutinho (*)

Rachael Gunn ganhou as manchetes do mundo na disputa do Breaking em Paris (Foto: Comitê Olímpico Australiano)

Em um movimento digno de ficar na história (e talvez até em um filme de comédia), a australiana Rachael Gunn, conhecida pelo nome artístico Raygun, se tornou a sensação da Olimpíada de Paris — mas talvez não da forma que ela esperava. 

Com 36 anos e um currículo acadêmico impressionante como professora universitária e pesquisadora, Raygun competiu na primeira edição de Breaking na história das Olimpíadas e, de forma inusitada, conquistou nota zero em todas as categorias. 

Essa foi a primeira vez que a modalidade se tornou disputa em Jogos Olímpicos, em uma decisão que gerou polêmica entre os mais tradicionalistas entre os amantes do principal evento esportivo do mundo. O Break Dance, que se tornou 'Breaking' para entrar na categoria esportiva, é uma tentativa do COI (Comitê Olímpico Internacional) de criar uma estratégia para se comunicar melhor com o público mais jovem e mais urbano, e ganhou novas regras para se tornar olímpico. 

Para muitos espectadores, o ‘show’ de Raygun foi um breaking com uma mistura de improviso sem coordenação, exatamente o que se podia esperar de uma pessoa que disputa o esporte apenas por diversão. Entre as suas performances memoráveis, destaca-se o movimento batizado de canguru, que é, claro, o que você está imaginando; e uma tentativa de passo que mais parecia um alongamento deitado no chão com tremedeira. Sem surpresa, a coreografia se tornou alvo de piadas ao redor do mundo. 

(Foto: Olympics)

Mas há muito mais na história de Raygun do que apenas coreografias questionáveis. Além de dançarina, ela é professora na Universidade Macquarie, em Sydney, com um doutorado em Estudos Culturais e um bacharelado em Música Contemporânea. Sua pesquisa acadêmica gira em torno do impacto das normas de gênero no Breaking, o que sua performance, talvez não ironicamente, parece ter se tornado uma resposta viva com suas apresentações olímpicas. 

A professora já havia participado de campeonatos mundiais e sempre ficou em baixas posições nos rankings, porém à frente de outras atletas do seu país, o que garantia sua classificação para diferentes competições. Mesmo assim, seu momento nas Olimpíadas levantou controvérsias. A principal delas: um suposto esquema para garantir sua vaga. O Comitê Olímpico Australiano, no entanto, defendeu a transparência do processo de seleção, garantindo que tudo foi feito de acordo com as regras. 

Após sua participação, Raygun se defendeu dizendo que seu objetivo era desafiar as expectativas e trazer um pouco de diversão ao mundo do breaking. Em um vídeo no Instagram, ela agradeceu aos apoiadores e lamentou o ódio que recebeu, afirmando ter feito o seu melhor. "Eu só queria trazer alegria e, aparentemente, também trouxe um pouco de ódio", desabafou Gunn. 

Enquanto isso, o futuro do Breaking nos Jogos Olímpicos está incerto. Apesar da estreia muito comentada, o esporte a princípio não está na lista de modalidades previstas para Los Angeles 2028. Em Paris, a japonesa Ami Yuasa ficou com o primeiro lugar feminino, enquanto no masculino o vencedor foi o canadense Philip Kim. Seja como for, Raygun certamente deixou uma marca, mesmo que seja uma de zero pontos. Agora, a acadêmica terá tempo para se dedicar a novas pesquisas e, quem sabe, ajustar seu estilo para a próxima competição — se houver uma.

(*) Sob supervisão e edição do prof. es. Caíque Toledo