Olhar de vó sobre a quarentena

Por Poliana Vitorino

Em São José dos Campos (São Paulo), já há cerca de 2 meses que a quarentena foi declarada. Desde 23 de Março, vivemos 14 semanas, em que todos os dias destas, pareceram e ainda parecem, um domingo. Minha mãe conta que as ruas estão desertas e não se sabe qual dia da semana é: segunda-feira ou feriado. Ela é camareira, portanto faz parte daqueles que prestam serviços essenciais. Todos os dias de tarde , volta do trabalho para casa caminhando e afirma que aquilo que observa durante o caminho, é tristeza no rosto das pessoas.

Já minha avó, Vita, tem 82 anos é aposentada e sua rotina não é muito movimentada, ela não tem o costume de sair, senão pra ir á igreja uma ou duas vezes na semana e eventualmente para atendimentos médicos. Inclusive, recentemente tivemos que leva-la a uma consulta de rotina e como ela vinha ouvindo nos telejornais, é obrigatório o uso de máscaras. Embora tenha vivido durante 8 décadas, minha avó é simples; não foi alfabetizada, morava no interior de Minas e afirmou não saber o que é máscara e que, quando enxergava, nunca viu ninguém utilizando esse equipamento. Ela estava ansiosa para saber afinal, em que parte do corpo é utilizada a máscara e qual a sensação de vesti-la. Agora, alguns dias após ter usado a máscara para comparecer à consulta, ela diz: “Eu acho isso péssimo! Essa máscara, e a gente ficar preso dentro de casa. Isso tira a liberdade das pessoas. É tão bom a gente ser livre”.

 Apesar de não ter uma vida muito ativa, ela conta que sente falta de ver-nos correndo dentro de casa por conta dos compromissos do dia -a- dia. Durante o dia, as poucas horas que eu passava em casa, sempre a via escutando rádio. E desde criança, quando eu ia para Minas, me recordo que minha vó deixava o rádio ligado a todo instante. Para ela, não podermos sair de casa não é vida, e: “Ainda bem que temos rádio, porque na televisão fala de muita coisa ruim que a gente não precisa tá ouvindo.”.