Moradores locais lutaram para o reconhecimento do quilombo para não perderem suas terras para o Parque. Porém, nem todos que ali vivem são descendentes de quilombolas.
Por: Mariana Rodrigues
| Foto Mariana Rodrigues |
A comunidade do Camburi é constituída por cerca de 50 famílias e está localizada na cidade de Ubatuba, litoral norte de São Paulo, já na fronteira com o município de Paraty, no Estado do Rio de Janeiro. Os quilombolas ocupam a área do Camburi há aproximadamente 150 anos. O local abrigou, no início de sua ocupação, vários núcleos de escravos evadidos de fazendas de São Paulo e do Rio de Janeiro. Na década de 1970, 80% do território do Quilombo do Camburi estava sob o domínio e posse de dois grandes compradores de terra, Francisco Munhoz e José Bento de Carvalho, que expulsaram os antigos moradores. Estes se deslocaram para as áreas mais íngremes, e difícil acesso, ou se mudaram para outras cidades do litoral paulista.
Em 1975, devido à criação da BR 101(Rodovia Rio-Santos), ativaram-se especulações imobiliárias, logo em seguida, em 1977 foi criado o Parque Estadual da Serra do Mar que trouxe muitas restrições para moradores da comunidade. Antigamente tinham liberdade para caçar e fazer plantações, o que hoje em dia não podem mais, (a pesca ainda é possível dentro das leis) como conta Domingos da Silva. “Antes a pessoa dependia da roça, agora depende do supermercado”.
A maioria das comunidades remanescentes quilombolas vive hoje em dia, com fruto de empregos convencionais fora do local onde moram, pois com o Parque Estadual da Serra do Mar, ficou proibido retirar a matéria prima de seus artesanatos e alimento da mata. E assim perde-se cada vez mais a essência da cultura. Como por exemplo, no Quilombo da Fazenda, na Picinguaba, a Casa da Farinha é um importante ponto turístico, porém esta inativa. Era para a Casa da Farinha, ser um bem da comunidade, e as famílias viverem de uma produção local, porém isso nunca ocorreu, como afirma Onófria de Oliveira.
A Roda D’água do século XIX está atualmente desativada por falta de manutenção. “Eu estou aqui há sessenta anos, quem toca sou eu sozinho” falou César José Vieira, 78 anos, descendente de quilombola e conhecido como Zé Pedro.
Zé Pedro é neto de escravo e um dos poucos descendetes de quilombola, “Não podendo escravizar os índios, buscavam gente na África, foi na época que meu avô veio também. Onde descarregavam os navios negreiros era em Paraty ou São Sebastião, são dois pontos históricos por causa disso. As pessoas não vinham de lá como ser humano e sim como objeto de trabalho” conta César José Vieira.
“Os moradores daqui, um monte nem aqui nasceram” destaca Onófria de Oliveira, 70 anos, descendente de caiçara e português, moradora do Quilombo da Fazenda.
Ao contrário do que é encontrado na internet os quilombolas não vivem do que produzem nas terras que ocupam, devido à leis ambientais, desde a criação do Parque Estadual da Serra do Mar (PESM) eles não podem fazer o manejo da terra como era de costume. Deste modo as informações encontradas quando pesquisamos não são coniventes com a realidade atual.
