Claudinei Portes descreve como foi sua transição de contador no banco Itaú para professor em uma escola bilíngue
Ao longo de sua formação escolar, o pequeno Claudinei Portes, ou “Clau” para seus amigos mais íntimos, sempre se interessou por estudar a língua norte-americana. Como ele mesmo disse, o Brasil na década de 70 sofreu uma forte influência da cultura dos Estados Unidos, principalmente por meio dos seriados e das músicas.
Por Gabriel Rodrigues
Claudinei nasceu no dia 14 de Junho de 1970 e cresceu assistindo, em seu modesto aparelho de televisão, o crescimento da cultura norte-americana, fator que o impulsionou a iniciar seus estudos da língua inglesa.
Certamente este caminho não foi curto, pois, mesmo que sua grade escolar do ensino fundamental possuísse o inglês como um de seus componentes, Claudinei não convivia em um meio onde as pessoas se interessavam de maneira intensa pela língua americana. Na realidade, grande parte de seus amigos não estavam ao menos cientes sobre os locais que ofereciam um estudo bilíngue. No entanto quando “Clau” completou 16 anos de idade, ele decidiu pedir aos seus pais para que eles o matriculassem em um curso de inglês no centro de Ensino Fisk, uma das instituições mais famosas da época em sua cidade natal, Caçapava.
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| Claudinei e sua amiga americana, Samantha (foto: reprodução) |
Nesta época, a escola possuía valores muito altos para os estudantes interessados, mas, depois de muita insistência, sua mãe conseguiu uma bolsa no valor de 45 %, fazendo com que seus estudos pudessem ser concretizados. Quatro anos se passaram e Claudinei concluiu o curso, mas, ao invés de seguir carreira nesta área, ele optou por ir trabalhar como contador no banco Itaú, profissão de grande destaque na época. Mas, por consequência de uma crise financeira, ele foi demitido em março de 1998 e acabou optando por uma segunda alternativa para se sustentar. Desta maneira, Claudinei decidiu retomar seus estudos da língua inglesa, retornando à escola bilíngue que ele havia deixado em 1990.
Com o objetivo de se aprofundar no idioma, ele recebeu um convite da dona da instituição para ocupar o cargo de coordenador do centro de estudos, destinado aos alunos que optavam por colocar seus exercícios em dia nas horas vagas. No entanto, após demonstrar seu grande conhecimento da língua, carisma e habilidade para lidar com as pessoas, ele recebeu uma proposta para integrar o corpo docente da escola. Aceitando o convite, Claudinei concordou em iniciar um treinamento de 6 meses no início do ano de 1999. Este processo era obrigatório a todos os professores iniciantes, e consistia em aprender técnicas de ensino que beneficiasse os alunos e não prejudicasse a carga horária exigida. Após o término do treino em agosto, ele começou a dar aulas para a turma infantil, até resolver conquistar um de seus maiores sonhos: fazer um intercâmbio nos Estados Unidos.
Isso só foi possível pelo fato de Clau ter feito amizade com uma norte-americana em um acampamento religioso no carnaval de 1992 – os dois são membros da Igreja Batista. O nome dela é Sue Bear, ela tem um marido chamado Steve que sofre de transtorno de bipolaridade. Após oito anos trocando cartas com Sue, Claudinei finalmente tomou coragem de pedir a ela para que pudesse se hospedar em sua casa no estado de Ohio para realizar um intercâmbio. A amiga e seu esposo aceitaram sua estadia pelo tempo necessário. “Quando eu cheguei nos Estados Unidos me senti dentro de uma televisão”, afirma Clau sobre sua primeira impressão no país. Este deslumbramento vem do fato de uma experiência vivida anteriormente, em 1998. Nessa ocasião, ele visitou os parques da Disney em Orlando, na Flórida, mas, como ele mesmo disse, essa experiência não proporcionava uma visão ampla acerca da realidade do país, pois se limitava apenas a uma forma de entretenimento.
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| Claudinei e sua sobrinha, Isabella (foto: reprodução) |
Para se sustentar financeiramente no exterior, Claudinei conseguiu um emprego na Marcus’ Pizza, onde trabalhou com vários adolescentes que o ajudaram a melhorar sua fluência com a língua nativa, além de auxiliá-lo com algumas demandas de seu cargo. Por ter uma personalidade mais despojada e em alguns momentos ser um pouco “atrapalhado”, ele recebeu apelidos cômicos, mas carinhosos, de seus colegas de serviços, tais como mr. Goofy (sr. Pateta) e George of the jungle (george da floresta).
Após viver estas experiências, ele passou por um momento turbulento com Steve, o marido de Sue que, por sofrer de um transtorno bipolar, passou a ter discussões com Clau. Além disso, por ser um imigrante ilegal, seus amigos o aconselharam a desistir de continuar morando nos Estados Unidos e buscar um visto de permanência no país. Mas, tal tarefa se tornou mais difícil após os ataques terroristas do 11 de Setembro. Com isso, Claudinei retornou ao Brasil e continuou lecionando no Centro de Ensino Fisk, onde dá aula até os dias atuais, mas ele continua retornando aos Estados Unidos, se hospedando na casa de seu amigo brasileiro, Carlos. Ele e Sue continuam grandes amigos.


