Tendo trabalhado na área de informática antes de se tornar um artista, Bruno Miranda fala sobre a profissão
Durante a época de escola, ele nunca se viu tão voltado para a arte e nunca imaginou trabalhar com ilustração quando fosse para o mercado de trabalho. Não enxergava esse ramo como uma possibilidade concreta, já que a matéria também não era tratada com tanta seriedade.
Por Adriana Siqueira
“Sempre as aulas de educação artística eram um pseudo-recreio, uma terapia na grade escolar ao invés de uma matéria”, diz Bruno Rodrigo de Miranda, o ilustrador de São José dos Campos que foi premiado com quatro Leão de Cannes, prêmio considerado o Oscar da publicidade, por suas ilustrações para a rede de móveis Ikea, da Arábia Saudita.
Quando chegou à época dos vestibulares, Bruno optou por cursar Ciência da Computação, por considerar essa área promissora e com grandes possibilidades de trabalho. Porém, após três anos de ofício com a informática, ele se viu saturado e resolveu seguir em busca de uma profissão que fosse realmente aquilo que ele gostava de fazer. Foi aí que passou a pesquisar sobre as profissões artísticas que despertavam interesse nele.
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Bruno
Rodrigo de Miranda, o ilustrador da região
premiado em Cannes
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Bruno viu uma oportunidade de vaga para desenhista em um anúncio de jornal e decidiu buscar mais informações sobre essa área. Movido pela paixão que tinha sobre a arte, viu esse ramo como um campo de atuação em grande parte desconhecido e pouco difundido, mas que possibilitaria sim uma carreira e uma vida estável. Assim, ele não teve mais dúvidas: passou a investir na nova profissão e a buscar o que fosse necessário para mudar sua trajetória de trabalho.
Todo o conhecimento que adquiriu sobre as ilustrações foi autodidático. Bruno foi estudando em casa mesmo, através de materiais disponibilizados online, para assimilar tudo que precisava saber sobre os softwares (programas de computador) que usaria. Já sobre a arte, ele diz que foi preciso aprimorar e enriquecer seu nível artístico, o que exigiu muito estudo e observação de composição, fotografia, desenho, pintura, escultura, entre outros aspectos.
Ele conta que não tem uma rotina de trabalho definida. “Tem semanas que temos que entregar oito artes, tem semanas que temos que entregar quatro e tem semanas que não temos que entregar nada, então o ritmo e a rotina variam muito conforme a demanda de trabalho”, explica. Também relata que a maior dificuldade de sua profissão é se manter vivo e ativo no mercado, já que para isso é preciso uma renovação constante para deixar a arte sempre afiada e de acordo com o momento. Justamente por isso, Bruno diz que trabalhar com ilustração publicitária é um desafio diário, por cada cliente ter um pedido diferente em técnica, estilo e visual, e isso exigir que o ilustrador esteja sempre pronto para atender às necessidades do contratante.
Bruno busca inspiração para suas criações no dia a dia. Observa o mundo ao seu redor e procura extrair detalhes de como são feitas as coisas. Além disso, também se mantém sempre atento ao que pode servir à sua arte, como livros, filmes, games ou até mesmo o trabalho de outros artistas, que ele usa como parâmetro de qualidade para o que está fazendo. Dentre os nomes que ele cita como inspiração estão ícones como Norman Rockwell, Luis Benício, Gil Elvgreen, e artistas contemporâneos como Gelmi e Rafael Grassetti. “A lista sempre está crescendo e acho que nunca vai acabar. Uma das imagens que mais gosto é a Grande Onda de Katsushika Hokusai”, exemplifica.
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Uma
das criações de Bruno Miranda
para a rede de móveis Ikea, da
Arábia Saudita,
que lhe rendeu prêmios
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Apesar de a própria família ainda não entender bem seu trabalho, já que ele mesmo diz que “eles acham que eu chego no estúdio, desenho o que eu quero, mando pra quem quiser comprar e pronto”, Bruno já teve grandes conquistas com sua arte. Ganhou, entre os quatro prêmios recebidos em Cannes, um ouro que considera muito importante para a carreira. Para ele foi gratificante receber o prêmio, porque desenvolveu as artes dando o seu máximo e buscando deixar o mais bonito possível, mas sem pensar no festival e menos ainda nas chances de ganhar.
O mercado de trabalho no Vale não é muito direto, mas, segundo Bruno, isso acontece mais por que as agências não fomentam essa demanda de serviços, e não por falta de mão de obra profissional e especializada. Quem procura por esses serviços na região costuma recorrer às próprias agências, onde o trabalho ilustrativo é feito, muitas vezes, pelo diretor de arte do local. Já no restante do país o campo artístico costuma ser mais dinâmico, sendo o grande diferencial a qualidade e a técnica do que é oferecido por cada ilustrador.
Bruno também sonha em ter sua própria grande agência, para inspirar os jovens que pretendem seguir o mesmo nicho dele. “Meu maior sonho dentro da profissão é terminar meus dias na terra ainda fazendo arte”, acrescenta. E para os futuros artistas que têm a intenção de construir uma carreira no ramo da ilustração, ele aconselha estudarem muito sobre arte no geral e desenhar todos os dias.


