A artista de Caçapava (SP) ficou conhecida como a capirinha do Vale Cap, mas ela quer mais. E não vai parar até chegar lá
Foi na infância, assistindo a novelas ao lado da mãe, que a caçapavense Jéssica Luana Nogueira Neves decidiu a carreira. Decidiu, não. Foi, segundo ela, selecionada. “Desde criança eu quero ser atriz. Sempre foi aquilo que mais me identifiquei. Eu não escolhi, fui escolhida”, relembra.
Por Tiago Bezerra
A primeira inspiração tinha nome e sobrenome: Lucinha Lins. “Ela foi o meu primeiro contato como atriz. Eu assistia ‘A Viagem’ e gostava muito da personagem dela. E aí queria conhecer! Minha mãe falava ‘essa pessoa não existe, é uma personagem’. Eu achei tão sensacional saber que existia uma atriz, que me apaixonei”, recorda.
Dali para frente, a menina do interior botou na cabeça que iria enfrentar os desafios e alcançar seus sonhos. A princípio, os obstáculos de se viver numa cidadezinha pareceram grandes demais para um lugar tão pequeno. Sem Projac ou RecNov pelas redondezas, ela se matriculou num curso técnico de Administração. Mas sentiu que aquilo não era o suficiente. Foi quando, em 2010, iniciou os estudos na Escola Municipal de Artes Maestro Fêgo Camargo, em Taubaté (SP). “Eu planejava muito e nunca realizava. Foi meu primeiro grande passo”, aponta.
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| Por quase dois anos Jéssica Nogueira interpretou
a Carminha, do Vale Cap. Crédito: Arquivo Pessoal |
Enquanto Jéssica Nogueira ainda estudava, surgiram as primeiras vagas no mercado de trabalho. Ora, em terras de Lobato, a oportunidade não poderia ser outra: a aspirante a atriz vestiu uma saia longa, abotoou a camisa de vovó, assumiu os cabelos brancos (de peruca, é claro) e viveu Dona Benta, do Sítio do Picapau Amarelo. “No começo foi muito difícil, porque eu era muito alegre, muito solta. Eu era muito nova quando interpretei a Dona Benta, tinha de 20 para 21 anos. E ela é uma senhora, então eu tinha que conter tudo aquilo. Acredito que tenha sido uma das personagens mais difíceis para mim”, observa.
Apesar das dificuldades, a atriz diz ter crescido muito profissionalmente ao longo deste período. Foram cerca de dois anos saltando das páginas dos livros para os palcos valeparaibanos, até que, bem como o próprio Pai da Literatura Infantil escreveu numa de suas obras, a personagem “piscou pela última vez” e encerrou um ciclo.
A partir daí, já formada, a garota sonhadora deixou de lado os contos de fada e passou a enfrentar problemas de gente grande. Foi dar as caras na capital. Cursou Interpretação para TV na aclamada Escola de Atores Wolf Maya, em São Paulo. Cadastrou-se em agências e arriscou alguns testes de elenco, mas, com o mercado saturado, os “nãos” foram inevitáveis. “Fui trabalhar em um shopping. Me senti muito mal. Não tem nada a ver comigo, eu trabalhava na sessão administrativa. Meu negócio é querer fazer arte, e eu estava presa dentro de um escritório. Sim, eu pensei em desistir”, desabafa.
Acontece que um dos tais testes em que Jéssica foi reprovada era, justamente, aquele que daria à jovem artista a maior visibilidade que ela teria, até então. Um ano depois, em 2015, a vaga surgiu outra vez. E foi assim que a caçapavense passou a dar vida (e uma nova concepção) à Carminha, figura muito conhecida na região por representar o típico povo caipira do Vale do Paraíba, nas propagandas do título de capitalização Vale Cap.
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Atualmente a artista trabalha como apresentadora de TV,
além de ter um canal no YouTube. Crédito: Toni Marques
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E ela seguiu em frente. Hoje os trabalhos de Jéssica se dividem em dois projetos: um canal de vídeos no YouTube, onde fala sobre assuntos variados, sempre de uma maneira descontraída e bem humorada, e como apresentadora de “merchans” no programa “Santa Receita”, de Claudete Troiano, na TV Aparecida. “Gosto muito de trabalhar como apresentadora, então pretendo crescer nessa área. E voltar a fazer o que amo, o teatro. Meu objetivo é poder unir ambas as áreas de atuação”, indica.
Passo a passo, Jéssica Nogueira tem trilhado seu caminho numa jornada que, quem é artista sabe, não é nada fácil. Ainda restam diversos degraus adiante, porque sucesso é isso, ser grato por tudo o que já foi conquistado, mas persistir na batalha por mais. E, como todo artista que se preze, a questão final para a atriz não podia ser outra: Jéssica Nogueira por Jéssica Nogueira. “Sempre sonhei em responder essa pergunta! Tanto sonhei que sempre soube a resposta. Eu já ensaiei entrevista com todos os programas de talk show e afins. Jéssica é uma menina que sonhou, acreditou e foi atrás. Uma menina que baseou sua vida em seu sonho”, reflete. Um sonho que vem extrapolando os limites e conquistando quem acompanha este espetáculo. Um sonho que é grande demais para caber só no coração de uma menina do interior. E que precisa ser compartilhado com o mundo.


