Conhecimento e solidariedade na África

Especializado em Geografia, o docente Walmei Neto pôde realizar seu sonho e passar seus conhecimentos para as crianças africanas

José Walmei de Moraes Neto é professor na disciplina de Geografia na rede municipal de Taubaté. Ser professor e dar aulas em nosso país hoje, por si só já é uma tarefa muito digna. Quando essa profissão ultrapassa fronteiras, resulta em um trabalho exemplar e que merece ser mostrado para todos. 

Por Laura Gatti



Walmei participou de projetos do Centro de Ensino Integral (CEI), em que teve a oportunidade de realizar um sonho muito antigo, ir para a África. Nessas viagens, ele teve a possibilidade de lecionar voluntariamente para crianças africanas em 2014 no Quênia, e no ano de 2015, em Moçambique. Walmei foi para esses países diferentes contribuir em projetos que têm como objetivo a alfabetização e o desenvolvimento da criança em vários aspectos. No continente africano, em uma escola em Moçambique que o ensino era até a 5° série, na 1° e 2° série os professores contribuíram com todo material de alfabetização e, na 3° a 5°, trabalhavam com o desenvolvimento do estudante. No projeto estavam incluídos vários jogos e atividades. 

O professor em companhia de uma criança na cidade da Beira, em Moçambique 
Walmei nasceu em Taubaté e a vocação para ser professor vem da sua família por parte de mãe. Um ano após já ter concluído o ensino médio, seu pai o incentivou a fazer faculdade e Walmei não teve dúvida de que faria o curso de Geografia. Graduou-se em 2005 na Universidade de Taubaté (UNITAU), e desde então, há 11 anos, é professor e dá aulas. No ano de 2008, Walmei concluiu a especialização em Geografia, e atualmente está cursando Pedagogia, ambos os cursos também realizados na Universidade de Taubaté. 

Dez anos antes de ir para o continente africano pela primeira vez, o professor diz que já tinha muita vontade de ir para a África e poder ajudar o país. Porém, o fato de ir para dar aulas é algo que não estava planejado, e foi se concretizando com o passar do tempo. “Creio que é um destino a ser cumprido, um chamado de Deus”, conta Walmei. Em Nairóbi, no Quênia, o professor trabalhou na parte psicológica, com a autoestima das crianças através de atividades de recreação. Na capital de Maputo, em Moçambique, as aulas eram de no máximo uma hora, disponibilizada pelo diretor para que o professor pudesse dar suas aulas. As mesmas eram focadas na alfabetização, já Moçambique é um dos oitos países mundiais em que a língua portuguesa é a língua oficial falada no Estado, e também houve a realização de atividades diferenciadas com os alunos. 

O docente fala que os africanos são muito receptivos, tanto no Quênia quanto em Moçambique. “Estar com eles na escola é sempre um momento de muita risada e diversão”, comenta. O Quênia fica localizado no continente africano, mais precisamente na região conhecida como África Subsaariana e possui mais de 40 milhões de habitantes. O país possui belas paisagens naturais, com destaque para as praias, savanas, florestas, desertos, planaltos elevados, e contribui significativamente para o turismo local e a economia do país, que também se baseia na agricultura e reservas de pedras preciosas. Entretanto, a maioria dos habitantes do Quênia vive abaixo da linha de pobreza, com menos de 1,25 dólar por dia. 

População da cidade de Maputo, na escola do Magude; 
essa comunidade surgiu da imigração interna em Moçambique
Outro aspecto social negativo é a alta taxa de mortalidade infantil, que é de 60 para cada mil nascidos vivos. Moçambique tem cerca de 23 milhões de habitantes e está localizado na parte sudeste do continente. Apesar de ter um solo rico que atrai grandes investimentos externos, o país tem períodos de seca, além das frequentes enchentes que não tem alimento suficiente para atender todos os habitantes. Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de 38% dos moçambicanos são subnutridos. 

O professor Walmei já passou por várias escolas municipais e estaduais, e hoje é estatutário na E.M.E.F. Prof. Álvaro Marcondes de Mattos, mais conhecida pelos taubateanos como a escola Santa Catarina. Walmei também possui um perfil no Facebook. Ele confessa que nas redes sociais consegue conhecer mais a alma e um pouco mais de cada um de seus alunos, e assim compreender suas atitudes em sala de aula por meio do que vê na internet. “Ninguém coloca no Facebook aquilo que não pensa”, acrescenta. 

Ele também fala em que a sua vida como professor lhe ensinou sobre a natureza humana. “O ser humano é muito complexo. Não fazemos as coisas só por fazer, há vários motivos. Alguns motivos até são maus como a raiva e a inveja, mas tem muitas pessoas fazendo algo por amor e com alegria”.

Como planos futuros, o educador pretende voltar à África e continuar contribuindo cada vez mais com o ensino da rede pública. Walmei ama a disciplina que dá aula, e que acertou na escolha. Antes não estava em seus planos, entretanto, para ele hoje ensinar é uma paixão. A inspiração para dar aulas vem do sentimento de saber que qualquer pessoa pode mudar, e ao dar aula em outros países, ele conta que sente muita satisfação por ter um sonho realizado e por estar contribuindo com as pessoas. Com base em suas experiências, ele diz o que ele aprendeu em suas viagens. “Aqui temos muitas coisas para nos sentir realizados, mas precisamos de muito pouco”, finaliza o professor.