Voluntária dedica amor aos animais em Santuário

A taubateana Rosangela Coelho sabia de sua conexão com animais desde muito cedo e não ignorou seu chamado para reverter situações de abandono e de maus tratos

O Santuário Filhos de Shanti tem mais de 50 animais sendo tutelados em chácaras localizadas em Taubaté e Tremembé, no interior de São Paulo. O trabalho independente da cuidadora tem resgatado animais em caso de urgência extrema, principalmente os que estão com a saúde debilitada ou sendo vítima de exploração.

Por Ingra Lombarde

O Santuário Filhos de Shanti tem mais de 50 animais sendo tutelados em chácaras localizadas em Taubaté e Tremembé, no interior de São Paulo. O trabalho independente da cuidadora Rosangela Coelho tem resgatado animais em caso de urgência extrema, principalmente com a saúde debilitada. Diariamente, a tutora recebe inúmeros pedidos de ajuda feitos por pessoas sensibilizadas com a negligência com os animais e faz o possível para atender a todos. 
Após serem recolhidos, cães, gatos, cavalos e outros animais recebem atendimento médico veterinário e são devidamente vacinados e castrados para depois seguirem para adoção. O Santuário é a forma concreta de um serviço prestado há muito tempo por Rosangela e não existe nenhum apoio das prefeituras da região. 
Sua motivação é o amor pela causa dos animais e a esperança de seus direitos serem igualmente respeitados. Por amor a eles, ela aderiu ao veganismo há doze anos, atitude pela qual ela garante ter uma consciência mais ampla de compaixão por todos os animais. Em entrevista, a cuidadora explica a finalidade do Santuário Filhos de Shanti. 

Rosangela oferece uma vida de amor e livre de maus tratos
para os animais resgatados | Arquivo pessoal
Quando você era criança já gostava de animais? 
Sim. Eu lembro que era pequena e chorava quando via filhotinhos de pardais que caiam dos ninhos, lembro que os colocava em lugares mais altos e ficava de longe espiando pra ver se a mãe iria buscá-los. 

Como você descreveria seu estilo de vida?
Em relação ao veganismo, digo que é o caminho que todos nós estaremos um dia, porque o nosso planeta não comporta mais o consumismo e o desperdício de água, terra e poluição do ar. A pecuária é uma das maiores vilãs do alto consumo de água do planeta, mais de 70 milhões hectares da Amazônia são ocupados por ela. Isso é assustador. Quanto ao meu amor pelos animais, manifestado pela atividade de resgates, eu chamo de Ofício Sagrado de Servir os Animais. 

Há quanto tempo você abriu o Santuário? 
O Santuário existe faz poucos meses e ainda estamos regulamentando ele. Eu praticamente não tenho tempo livre, mas vejo a necessidade de deixar de fazer algo para depositar em mim serenidade, para que eu tenha equilíbrio entre as harmonias que vivo no cotidiano. Assim, para dar conta do Santuário, leio poesias, abraço árvores, converso com elas e tem a prática de yoga, que pretendo retomar. 

Como surgiu a ideia de abrir um Santuário? 
Foi a partir de um resgate que fiz de uma égua ferida, grávida e esquelética. Lá, no local, eu prometi a ela que jamais a abandonaria e que seu filho nasceria livre. A partir daí, fui mudando toda a minha vida para poder cumprir a promessa que havia feito. Eu já tutelava outros animais, como cães e gatos, e tive a necessidade de ir para uma chácara para começar a institucionalizar o trabalho de resgates e proteção que fazia até então. 

Você conta com ajuda de pessoas anônimas e ONGs?
Contamos com ajuda de amigos, fazemos eventos, rifas e bingos para tentar suprir as necessidades dos animais do Santuário. E quando precisamos, realizamos alguns mutirões para auxiliar. 

Quais são as maiores dificuldades em manter esse projeto? 
A principal é a financeira. Todos os procedimentos médicos são particulares e tudo custa o valor que deveria custar, mas as necessidades dos animais não param e algumas são permanentes, como alimentação, vacinação e controle de parasitas. 

Rosangela planeja conseguir um lugar maior para
pode resgatar mais cavalos que foram vítimas de
exploração e estão debilitados | Arquivo pessoal 
O que te move a seguir com o projeto? 
O que me move é o meu compromisso de lutar pelos animais, de auxiliar a humanidade no despertar da consciência de compaixão por todos os animais. Fora que os resgates são uma inspiração. Lembro-me de uma cachorrinha chamada Kali, ela sofria de cinomose – doença contagiosa transmitida por vírus – já em fase neurológica, ela pesava apenas 6 quilos. O ex-tutor não cuidava e os vizinhos pediram minha ajuda, nós resgatamos, mas ela infelizmente faleceu. Porém, teve a chance de sentir o amor e ter suas dores curadas. O caso dela mobilizou muitas pessoas que se recordam dela até hoje. 

Como as pessoas podem começar a se engajar e ajudar em causas que defendem os animais? 
Existem muitas formas de engajamento, por exemplo, as pessoas podem oferecer suas casas para serem lares temporários para cães e gatos que são resgatados e precisam de um local para viver até que possam ser encaminhados para adoção. Mas o engajamento maior é quando elas começam a perceber que cães e gatos têm o mesmo valor que galinhas e porcos etc., e assim, terem uma visão de compaixão por eles e não de utilitarismo. 

O que deveria mudar na gestão das cidades para que existissem mais soluções e ajuda para os animais de rua? 
Primeiro, precisamos tirar dos animais o peso do utilitarismo, eles não existem para nos servir. Segundo, reconhecer que eles possuem direitos como nós e, eles deveriam ser seguidos e abordados de forma efetiva em políticas públicas. Precisamos acabar com o comércio de animais, aderir à castração em massa como prática, fazer campanhas de vacinação permanente, criar casas transitórias e feiras de doação regulares para os animais que são resgatados.