Pároco sonha com a construção de uma sociedade melhor

Líder na Paróquia de São Bento, Ronaldo Castro deu voz aos deficientes, criou escola de samba e enalteceu voluntários da cidade

Nascido em Além Paraíba, Minas Gerais, no dia 5 de fevereiro de 1962, o filho de Jaime Rodrigues Neto e Maria Auxiliadora de Castro Neto não imaginava se tornar líder religioso. Vivendo como qualquer outro jovem de sua época, Ronaldo José de Castro Neto cresceu em um ambiente religioso amparado pelos pais. 

 Por Maria Clara Thomaz


Com os projetos sociais ele se sente um homem do concreto
Créditos: Maria Clara Thomaz
No início, ele queria seguir na área da educação, porém, ao trabalhar em uma empresa em São Paulo, ele sentiu a necessidade de ajudar os colegas nordestinos que não eram alfabetizados e começou a redigir cartas para as famílias deles. Ronaldo viu aí o dever de ajudar o próximo. A escolha pelo seminário foi difícil para os pais, que se acostumaram com o tempo. Ordenado em 1987, ele chegou em São Bento do Sapucaí em 1996 e ingressou de cabeça em projetos sociais. Ajudou na inclusão de deficientes na comunidade através do CEPROCOM, começou a desenvolver trabalhos artístico-terapêuticos em ajuda a pessoas com transtornos mentais, criou a Escola de Samba Mocidade Independe para alegrar a população após um episódio violento no município, criou o Grupo Escoteiro São Bento, o Coral Regina Caeli e a Orquestra Jovem São Bento, e não quer parar por aí.

Qual foi a experiência mais marcante como Padre? 
O início dos trabalhos de educação especial no CEPROCOM foi bem marcante e desanimador no início, pois pais que tinham filhos na APAE de Paraisópolis acharam que era concorrência. Até que, no meio de uma missa em Sapucaí-Mirim, uma portadora de necessidade especial saiu do banco, me entregou um papel e falou: “Padre, eu te amo e Deus gosta de você”. Era a resposta de Deus para que eu continuasse o trabalho, que está vivo até hoje. 

Como foi a transformação da Igreja Católica em São Bento?
Em 1996, eu vi uma Igreja séria. Quando eu entrei, começaram os conflitos. Não era perfil de Padre entrar nas lidas comunitárias sem parecer ter inclinação na política. Mesmo assim eu insisti. Dizem que o tempo é um remédio e, como disse um autor, “a verdade é filha do tempo”.

Como é ser Pároco na cidade?
Eu gosto de abrir várias frentes de trabalho e não atuo sozinho. Sou um sacerdote que louva a Deus por ter tanta gente boa ao redor, gente que acredita e adere a proposta. Aprendi que para ser um bom líder, eu precisarei sempre estar cercado desses e aprendi que aves da mesma plumagem voam juntas.

Padre Ronaldo procura sempre cativar em suas missas
Créditos: Erik Cunha
Como foi a entrada do senhor no Centro Promocional Comunitário?
Percebi que não havia centros de assistência aos portadores de deficiência e chamei a igreja e a comunidade para essa responsabilidade. Introduzimos os deficientes nas missas e a população foi vendo o potencial deles. O CEPROCOM é meu grande amor, me faz ser um homem do concreto e não das teorias do altar, por mais bonitas que sejam. 

Como funciona o trabalho no Ateliê Fiat Lux?
Eu uso algumas técnicas de arte para disponibilizar recursos que toquem no mistério de vida dos pacientes. Quem procura o Ateliê não está feliz, mas machucado pela vida. Estou concluindo uma graduação de psicanálise e acredito que será mais um recurso que vai ajudar a qualificar as terapias desenvolvidas.

Quais os trabalhos da Obra Social?
A Obra Social São Benedito entra na área de geração de renda. Nós temos parceria com a Prefeitura, temos uma produção de roscas vendidas no final de semana nas missas, temos uma cantina que funciona em horário de celebração, fazemos rifas, show de prêmios e recebemos doações para o nosso bazar, de onde revertemos recursos para manter os trabalhos na Paróquia.

Por que criar a Escola de Samba Mocidade Independente?
Precisávamos de um espaço público maior para passar a mensagem de que a vida seguia em frente após a morte trágica do Ex-Prefeito Geraldo de Souza Dias, um homem ativo na Igreja e na comunidade. Isso gerou muita incompreensão e ridicularização. Porém, com autorização do Bispo, fomos para a Avenida e deixamos nosso recado. Já fizemos 10 anos.

Qual a importância do Coral e da Orquestra Jovem?
É a vontade de dar oportunidade da população olhar a vida com olhos musicais, olhos amorosos. E a música quer fazer com que São Bento que olhe para a vida de maneira mais bonita, mais leve e de maneira profissional.

O que fazer para que a Catequese e a missa sejam mais cativantes para os jovens?
É um desafio que pode ser respondido de forma conjunta: padres, coordenação de catequese e pais. É algo que se espera da Igreja, mas deveria ter a contribuição dos pais, que terceirizam a orientação de fé do filho assim como fazem na educação escolar. Logo, a catequese vai sofrer de uma atrofia. Os nossos aliados poderiam ser, em primeiro lugar, os pais. Espera-se muito de nós e não temos todas as competências para atender à intensidade dessa demanda.

Como o senhor vê a Igreja Católica no futuro?
Eu sonho com uma igreja mais servidora e pobre, olhando sempre para o necessitado. Uma igreja mais próxima, menor numericamente, mas mais comprometida. Uma igreja onde não se espera só da hierarquia, mas onde as famílias que a compõem vão descobrir mais o seu protagonismo na fé. Acredito numa igreja mais alegre e mais bonita. Uma igreja de mártires gerando tantos outros homens e mulheres perseguidos por causa da fé. Eu vejo uma igreja mais jovem e mais humana.