Padre fala sobre primeiro ano como sacerdote da Igreja Católica

Membro da Diocese de São José dos Campos, Padre Luiz Gustavo expõe os desafios e as experiências de sua trajetória 

Ser padre é uma missão desafiadora. Manter-se firme no ideal proposto pela Igreja Católica é uma luta constante e diária. Independentemente dessas condições, Luiz Gustavo Teixeira, de 29 anos, atendeu ao chamado de Deus para se tornar comunicador e entusiasta da Igreja e, conjuntamente, se propor a entender a alma humana, perdoar os pecados e evangelizar. Nascido em Jacareí, interior de São Paulo, Luiz Gustavo se ordenou Padre há um pouco mais de um ano. Filho de Fátima e Jorge, Luiz Gustavo tem um único irmão, oito anos mais novo. O sacerdote revela que, embora jovem e com tamanha responsabilidade, viveu normalmente como qualquer outro jovem, estudando e trabalhando. Sua vida começou a mudar em 2006, quando saiu da Previdência Social (INSS) para ingressar ao seminário propedêutico da Diocese de São José dos Campos, abrindo mão de cursar Medicina e Engenharia Química, por conta do desejo de ser Padre. Em entrevista, ele conta como foi o processo de discernimento vocacional, os desafios impostos e o primeiro ano como membro do clero católico.

 Por Emerson Tersigni 
Como desenvolveu a sua paixão por esta vocação? 

Foi através de uma vida de oração, buscando a Deus, buscando uma formação, compreendendo o que a Igreja fala e ensina sobre o ser Padre, que isso se desenvolveu em mim. 

Entronização da imagem  de Nossa Senhora Aparecida
durante aniversário da Diocese (Foto: Acervo Pessoal)
Qual experiência mais marcante que você vivenciou no seminário e na primeira paróquia?

Foi no ano de 2009, quando quase deixei o seminário e meu Reitor, na época, disse que não e que mesmo com as dificuldades acreditava em minha vocação. Inclusive minha mãe, que não era muito fã da ideia de ter um filho padre disse que não era para eu sair. E na Paróquia Nossa Senhora de Guadalupe em Jacareí, entre 2010 e 2011, foi um tempo de recomeço e que as amizades e a formação do Movimento Jovens Adoradores, foram sinais de Deus para minha vida. 

Qual a maior dificuldade enfrentada no processo vocacional? 

Foi a não aceitação da minha mãe, que por vários motivos não gostaria que eu ingressasse ao seminário. A ideia de ter um filho Padre a assustava, e sinceramente, até hoje não entendo o motivo. Hoje, porém, posso dizer que ela aceita minha vocação e está muito feliz ao ver o filho realizado. 

Qual a importância do sacerdócio para sociedade? 

Mesmo que as pessoas concordem ou não, elas ainda precisam do padre como referencial para a pessoa de Deus. Que as ajude nos momentos de dificuldade, no momento de sufoco, e essas pessoas sempre pedem nossa opinião. Infelizmente as pessoas acabam banalizando o sacerdócio por conta dos casos de pedofilia. Não nego o erro desses meus irmãos de ministério, mas a questão maior é que as pessoas não veem padres em lugares onde ninguém quer ir: locais de guerra, fome, hospitais e asilos. A igreja está presente. 

Qual o motivo do pequeno número de jovens interessados no sacerdócio? 

É o medo. Medo pelo desconhecido, medo por uma vida dedicada a Deus, não o medo pelo medo, mas sim pela falta da experiência com Deus. Para um mundo imediatista, que quer as coisas pra ontem, você ter que parar para poder escutar alguém, aconselhar, ser sinal da presença, ter uma vida de oração, é muito difícil. 

O que é ser um sacerdote hoje em dia?

É ser uma pessoa comum como qualquer outra, que tem seus gostos. Sou Padre não só quando estou na Missa, mas quando vou ao cinema ou quando saio com amigos. É ser uma pessoa comum e que tem uma opção de vida diferente. A dificuldade maior é as pessoas entenderem isso: que se escolhe essa vida não por fuga ou medo, mas por amor ao reino de Deus e amor as pessoas para que elas se aproximem dEle. 

Qual a principal virtude que um Padre de 365 dias deve adquirir e semear?

Além da Paciência, é sem dúvida a virtude do saber ouvir e acolher as pessoas, isso é essencial para nós padres. Quando isso falta, é porque nós infelizmente não estamos rezando e deixando nossa experiência de Deus de lado. 

Qual o legado que o tempo de seminário deixou a você? 

Perseverança e sentido. Perseverança para poder superar toda e qualquer dificuldade. E o sentido é de jamais esquecer o motivo que me fez ser Padre e suportar tudo até hoje. 

Como você vê a rotatividade de párocos na paróquia?

Acredito que a rotatividade de párocos nas paróquias é essencial. Uma, porque o Padre pode se acomodar no serviço, outra que a comunidade pode se acomodar com o Padre. Então, dinâmica de troca de padres é formidável e fantástico. Não somos melhores que os outros: somos homens, cristãos, batizados e que caminham junto do povo para poder aproximá-los mais de Deus.
Para Padre Luiz Gustavo, os sacerdotes "viajam e possuem 
uma vida normal, mesmo sendo padres" (Acervo Pessoal)

De que maneira você aconselha um jovem que deseja seguir esta vocação?

Aos jovens digo para não terem medo de dar esse passo para uma vida de especial consagração a Deus: sejam ousados, e não esperem estar “prontos”, pois isso pode ser apenas uma desculpa para não abraçar tal vocação. Acredite: é Deus que faz o chamado e que cuida de cada um de nós. Posso dizer que vale a pena seguir esse caminho. 

Como aplicar a vontade de Deus em nossa vida?

É algo muito pessoal, é experiência. E experiência não se explica, se faz. As pessoas hoje infelizmente tentam entender Deus apenas de uma maneira racional, e esquecem que precisam de uma abertura do coração, e aplicar a vontade de Deus só vamos conseguir quando amarmos o irmão, perdoar, entender que guardar mágoa, são coisas que ferem os mandamentos da Lei de Deus, são coisas que nós não podemos ter como sentido, e quando nós batalhamos para melhorar isso, fazemos a vontade de Deus. 

Como era a postura de um Padre há algumas décadas? E atualmente? 

A postura do Padre era de alguém distante e o que o Padre falava era verdade absoluta. E hoje em dia não é assim: as pessoas precisam ver que temos defeitos, pecados, mas mesmo assim, confiar na graça de Deus, pois estamos sempre abertos ao diálogo. Se for pensar: ‘Nossa, um Padre com whatsapp tem amizade com os outros?’ Isso é impossível de se ver, coisa que não acontecia há alguns anos e que demonstra que somos seres humanos e que fazemos a diferença.