Jornalista conta experiência com síndrome do pânico

Ex-repórter da TV Vanguarda fala sobre seus novos projetos e como o transtorno de ansiedade a fez mudar de vida


Mirella Bergamo sonhava em ser jornalista desde pequena. Aos dez anos brincava de ser repórter e de gravar programas com suas amigas. E oportunidades dentro da profissão nunca faltaram para ela. Durante a faculdade, trabalhou com o site da rádio Joven Pan e na TV Gazeta. Assim que se formou, passou a trabalhar em uma produtora de vídeo, criando conteúdos mais elaborados – o que mais gostava de fazer.

Por Adriana Siqueira

A jornalista explicando, em vídeo, o porquê
de ter se afastado da televisão. (Foto: Divulgação)
Porém, mesmo com uma tragédia que a afastou de continuar trabalhando com vídeos (o assassinato do dono da produtora), continuou uma carreira de sucesso em várias áreas do telejornalismo, que foi sua aposta seguinte. Passando por coberturas internacionais, esportivas, de reportagem, de apresentação e por várias emissoras, acabou se desgastando com a profissão, o que ocasionou uma desestabilização emocional: sofreu com a síndrome do pânico, até que resolveu se afastar das atividades de dentro da profissão que a faziam mal. Hoje, trabalhando autonomamente com conteúdo digital, Mirella cuida da saúde dando dicas para quem sofre de problemas mentais ou físicos, por meio de seu novo projeto, o site Eu Melhor.

Quando você começou a ter os sintomas de ansiedade que te levaram à síndrome do pânico?
Eu fui pra rua, como repórter de rua, mas não me faz bem estar no meio dessa bagunça toda. É acidente de um lado, e te chamam do outro... E isso pra mim sempre foi muito pesado. Essa parte mais trágica é muito pesada. E junto com isso eu fazia mais um milhão de coisas, fazia o Roteiro Vanguarda, editava também, e comecei a sentir sintomas de stress no começo desse ano. Comecei a ter falta de memória, a ficar muito irritada com coisas muito pequenas, a ter muitas infecções e a ter problemas cardíacos.

Em que momento os sintomas começaram a afetar seu trabalho?
Quando eu comecei a ter todos aqueles sintomas, minha saúde estava ficando muito abalada. Eu perdia cabelo, tinha insônia, e não estava rendendo no trabalho o que eu gostaria de render. Fiz todos os exames de sangue, meu colesterol e cortisol subiram muito, tava tudo muito bagunçado. Então se eu não parasse, eu não conseguiria continuar, não conseguiria fazer nada. O médico falou que eu tava correndo risco de morrer se eu não parasse.

Como você percebeu/identificou do que se tratava o problema?
Eu pensava “o que tá acontecendo comigo? Isso não é normal né. Eu amo o que eu faço, mas tá me machucando”. Aí, no começo de fevereiro, eu tive uma crise de pânico super forte, comecei a ter várias crises de pânico, procurei um médico e ele me falou que eu estava com o chamado burn out, que é o stress ligado ao trabalho, e já estava com sintomas de depressão, de transtorno de ansiedade, porque o stress tem todos esses sintomas. E aí ele me disse que eu precisaria me afastar do trabalho.

Mirella durante as gravações de seu projeto,
o site "Eu Melhor". (Foto: Divulgação)
Como surgiu a ideia do EuMelhor?
Eu fiquei super mal quando precisei me afastar do trabalho, porque eu gostava muito. Não queria ver ninguém, a depressão bateu forte. Mas como eu já estava estudando Marketing Digital nessa época, e eu já queria lançar um blog sobre alguma coisa há um tempo, eu pensei em aproveitar esse momento da vida que eu tava passando pra falar sobre esse assunto. Porque quando eu comecei a pesquisar eu vi que tinha muitas pessoas com o mesmo problema e que tinha pouca coisa ajudando essas pessoas. Como eu ia ter que passar por um tratamento muito intenso, e eu ia ser afastada durante um longo período do trabalho, eu pensei “vou aproveitar esse momento e colocar esse site no ar e começar a falar sobre isso”.

Qual a importância de dividir com as pessoas os relatos que são postados no site?
Queremos falar com as pessoas que querem transformar coisas na vida. Então é nesse sentido, que as pessoas avaliem a vida delas, a roda da vida mesmo. É uma ferramenta de coaching, porque a gente sabe que muitas pessoas não tem condição de começar a fazer uma sessão de coaching para mudar, então a gente vai oferecer isso gratuitamente. E a gente dá saídas e soluções para essas pessoas, até antes que elas fiquem doentes. E também damos soluções para quem tá passando por esse problema, mas principalmente pra que as pessoas consigam se encontrar e buscarem a melhor versão de si mesmos.

Como você pretende ajudar as pessoas que sofrem dos mesmos problemas com o trabalho feito no EuMelhor?
Eu pensei em não falar só sobre a doença. Pensei em falar sobre como as pessoas podem transformar aspectos da vida delas antes delas ficarem doentes. Tipo, se elas já estão se sentindo muito cansadas, ou se elas estão trabalhando em uma coisa que não satisfaz, então muda antes, sabe. Não quis fazer um site só pra falar sobre doença. Lógico que a gente vai falar sobre o stress, a ansiedade, a depressão, mas vamos falar também sobre como é possível você perceber que a tua vida não tá legal e que você precisa mudar algumas coisas, porque na verdade foi isso que aconteceu comigo.