Tentando entender a si e ao mundo, Brayan, de 18 anos, decidiu procurar no semáforo as respostas para suas tantas questões.
Por Pâmela Mello
| Brayan se mantém sozinho, em Taubaté, trabalhando como malabarista nos semáforos da cidade. - Foto: Pâmela Mello |
“Bom dia, bom dia, bom dia!”, grita o mocinho do semáforo, lançando seu sorriso largo para os que esperam a luz verde ascender, ansiosos, a fim de seguir seus caminhos de todos os dias.
É difícil encontrar alguém que, mesmo na correria da rotina desgastante, não se distraia por alguns poucos minutos e corresponda à tamanha alegria do garoto logo nas primeiras horas do dia. Motoqueiros apressados, mães levando seus filhos para escola, homens indo trabalhar e até as senhorinhas que passam devagarzinho, puxando o carrinho de feira: Todos, desfazendo a feição carrancuda do dia-a-dia sem nem perceber, cumprimentam o menino de nariz de palhaço. Mas nem sempre existe reciprocidade. Vez ou outra se ouve, de algum defensor dos trabalhos convencionais, a frase cheia de raiva “vai trabalhar, vagabundo”. Então, Brayan da Silva Antunes, de bermuda, camisa de botões e suspensório, quase que num traje esporte fino, a não ser pelo tênis nos pés, continua sua jornada de trabalho; E mesmo sem dar razão, procura entender o desconforto que causa em alguns que topam com ele. “O cara está trabalhando oito horas por dia, no ar condicionado e ganha o dobro que eu, mas não tem liberdade”, diz o jovem artista de rua.
Buscando por respostas, com 15 anos Bryan deixou Conceição do Rio Verde, uma cidadezinha sul de Minas Gerais, que tem menos de 1/9 da população de Taubaté.
Artista de rua por opção, hoje Brayan tem 18 anos. Já trabalhou em academias e lojas no shopping de Taubaté, mas optou por não vender sua liberdade em troca de salário, escolhendo o palco listrado – ou faixa de pedestre, como nós chamamos – para ser seu escritório.
Ainda como hobbie, nas folgas do seu último emprego, o jovem sorridente já se aventurava nos cruzamentos de ruas, mas foi nas férias do trabalho que ele decidiu se empenhar para transformar a brincadeira em profissão e, ao ver que poderia dar certo, o novato decidiu abrir mão de registro em carteira e direitos trabalhistas para viver do que ama.
Atualmente a jornada por respostas e liberdade, tem um ritmo puxado, mas não exaustivo. Afinal, Brayan Antunes é prova viva da veracidade do ditado que diz “escolha um trabalho que você ame e nunca terá que trabalhar”.
| O artista de rua procura sempre aprender novas técnicas para apresentar nos cruzamentos de Taubaté - Foto: Pâmela Mello |
Bastante ligado à família, o mineiro recebe visitas frequentes de seus pais: Valter aparecido Antunes, um aposentado que compartilha com o filho da paixão pela estrada e a bacharel em direito, Íria Filomena da Silva Antunes. Ambos apoiadores de seu estilo de vida.
Senhor Antunes foi o primeiro a encorajar o filho a fazer o que ama. Ciente de que a vida é feita de escolhas e oportunidade, ele incentiva Bryan a tentar. “Se não der certo, você procura outro emprego”, afirmou Valter Antunes ao se deparar com a vontade do filho fazer malabares no semáforo. Já Íria Antunes, nascida e criada em Minas Gerais, se mostrou um pouco mais conservadora. Ficou receosa em saber que seu filho passaria a viver parte dos dias exposto na rua, caminhando entre carros e motos. Mas, apesar da preocupação com a segurança de Brayan, a Senhora Antunes nunca proibiu o menino de seguir seus sonhos e trabalhar no que o faz feliz.
Fazendo malabarismo na rua, todos os dias de manhã e às vezes no final de semana, o jovem artista reservou suas tardes, a partir das 14h, para se dedicar aos estudos, estendendo a prática até as 22h40, horário que acaba a aula do curso pré-vestibular, do qual ganhou uma bolsa integral para assisti-las. Tudo isso conciliando as responsabilidades de viver sozinho e manter uma casa. Mas quem ouve o menino falar até acredita que o esforço quase que não existe, Bryan leva a vida com leveza e gratidão pelo que realmente importa. Seja no semáforo, nos estudos diários ou nas aulas do cursinho, existe um propósito maior: o de quantificar seu conhecimento. Propósito esse que é alcançado a cada dia, a cada experiência, a cada nova pergunta que ele consegue responder com ajuda de sua vivencia singular.
| O jovem afirma que não vê dificuldades em trabalhar na rua e sente-se feliz e satisfeito com sua atividade atual - Foto: Pâmela Mello |
Por acreditar que as pessoas estagnam quando alcançam seus objetivos, Brayan não firma metas concretas, não tem pretensão de chegar aqui ou ali, ele quer seguir aprendendo, sem “resumir a existência”, como o próprio diz, já que o valor está caminhada e no que ela ensina. Sem aversão a qualquer tipo de trabalho ou estilo de vida, o malabarista afirma que vai para onde ele sentir que há resposta. “Se minha busca, em algum momento, estiver em um escritório, se eu sentir que serei ferramenta de mudança fazendo um trabalho dentro do escritório, então eu estarei nesse escritório”, explana o filho do Sr. Antunes.
Ano passado Bryan passou no curso de bioquímica, na Universidade Federal de São João Del Rei, e foi morar em Divinópolis. Porém, pouco depois de começar o curso, ele sentiu que ali não haviam as repostas que ele tanto busca, por isso voltou à Taubaté. Voltou para o semáforo, para os estudos da tarde e para as aulas do cursinho. E assim continua com seu show diário, alegrando e roubando sorrisos de quem passa pelo palco listrado, a rua.
