Sonhos que nos movem

Não desistir dos seus sonhos fez Pamela ser que ela é o hoje, uma mulher determinada e focada. Sua história é inspiradora.

Passamos nove meses no útero de nossa mãe e quando chegamos ao mundo, a primeira coisa que fazemos é chorar. Naquele instante, essa é a maneira que temos de dizer que está tudo bem e que o mundo ganhou mais um morador. Mas nem sempre as coisas acontecem assim.

Por Marcelo Ramos
 Há pessoas que chegam sem fazer barulho. Este é o caso da Pamela Cavalhieri, que veio ao mundo no primeiro dia do ano de 1992, em Campos do Jordão, interior de São Paulo.

A jovem nasceu pelas mãos das enfermeiras do hospital da cidade, pois não haviam médicos no local devido às festas de réveillon. Nascida de sete meses, ela não derramou uma lágrima ao sair de sua mãe, veio quieta. Isso não era um bom sinal. A falta de oxigênio acabou causando uma paralisia cerebral em algumas células de seu corpo. Pamela veio para este mundo a fim de lutar para viver.

Durante a sua infância, ela possuía duas realidade: em casa, todos a tratavam com normalidade e, por causa disso, nunca se sentiu diferente das outras crianças. Já na escola, todos queriam saber o que ela tinha, sempre sendo questionada sobre sua condição. Sem entender o porquê de tantas perguntas, ela não quis mais estudar. Mas foi durante uma conversa com sua mãe que ela soube sobre sua deficiência e dali em diante, ela estava pronta para qualquer pergunta. Desde criança ela aprendeu que as pessoas iriam olhar e comentar, mas isso nunca a intimidou. Precisar da ajuda de um desconhecido fez de Pamela uma menina mais forte, muito humilde ao reconhecer as suas limitações.

A menina de Campos do Jordão diversos preconceitos ao longo de sua vida. Ao sair da APAE, a coordenadora da instituição disse que ela nunca conseguiria entrar em uma escola normal e que se arrependeria daquela decisão. Determinada como sempre, Pamela nunca desistiu deste sonho, continuou seu caminho e provaria que o “nunca” não faria parte de seu vocabulário. Os anos se passaram e, ao se formar na oitava série, avistou na primeira fileira a mulher que no passado disse que ela não seria capaz de frequentar uma escola. Naquele momento, o diploma passou a ter um significado muito maior do que apenas uma etapa concluída, significa que ninguém sabe até onde pode ir sem tentar e aquele que te julga, um dia, poderá assistir a sua vitória.

Dona de uma coragem imensurável, Pamela nunca se negou a fazer alguma coisa por conta de sua deficiência. Em casa, ela deixa as suas muletas de lado e se apoia nos móveis para fazer os serviços domésticos como limpar os móveis, lavar a louça e cuidar de sua irmã mais nova. Como toda mãe zelosa, Paula Oliveira não é diferente, ela sempre evitou que a filha fizesse esforços, mas a jovem que tem personalidade forte jamais esperou que as pessoas a ensinassem a fazer ou fizessem por ela.

A fórmula para ter uma vida normal, apesar das dificuldades, foi aprender com o tempo. Cair, levantar, pedir ajuda, perceber olhares estranhos, pessoas comentando, ela sabe lidar muito bem com isso. A vida nunca a protegeu de críticas, mas com certeza ensinou a ser forte ao ponto de não deixar as pessoas terem pena dela. A estudante de jornalismo já foi comparada com um peso, uma cruz sendo carregada, mas enxerga sua deficiência de um ângulo bem diferente, sendo essa a chance de mostrar para as pessoas que elas são capazes de realizarem sonhos, longe de ser um fardo. Ela é a possibilidade de você acreditar em si mesmo.

Alegria define essa jovem mulher. Ela se sente feliz da forma que é e diz que se talvez não tivesse os problemas que tem, não daria valor para as pequenas e simples coisas da vida. Ela se lembra de quando passou por uma cirurgia e não conseguia se movimentar, e tinha que se lavar com uma bacia de água que a mãe trazia até o quarto, então, o fato de poder levantar da cama hoje já é uma conquista e tanto. A sua deficiência atingiu de forma os movimentos da perna e braços, a impossibilitando de realizar algumas atividades do dia-a-dia.

Hoje, com 23 anos, ela ainda carrega sonhos de criança. Seu maior desejo não é subir uma escada ou não depender da ajuda dos outros, mas sim andar de bicicleta. Pamela diz que gostaria de ter a sensação de liberdade que a muleta não a oferece. Para ela seria como ganhar asas, que a levariam para longe, para novos sonhos, novos horizontes, novos lugares.