Professor retrata os fatos enfrentados nas escolas

Após alguns anos lecionando na cidade de Campos do Jordão, Manoel de Sousa compartilha como é a rotina de ser educador

Com o seu grande carisma, o professor Manoel, natural de Oeiras/Piauí, veio ganhando espaço no Vale do Paraíba e Serra da Mantiqueira. Já foi professor nas cidades de Taubaté e Caçapava, trabalhando em diversas escolas e atualmente, estabilizado em Campos do Jordão, onde começou a se empenhar na educação desde 2004.

Por Marília Oliveira


A primeira graduação do professor foi direito, porém tinha como objetivo transmitir todo o seu conhecimento para outras pessoas, logo resolveu fazer a licenciatura em letras, com formação para professor de língua portuguesa e literatura. Desde quando iniciou o trabalho em Campos do Jordão, passou por diversas escolas como: Irene Lopes Sodré, Tancredo de Almeida Neves, Laurinda da Mata e a escola Dr. Antônio Nicola Padula, onde leciona há 10 anos. O professor que sempre preferiu se dedicar a escola pública, mesmo sabendo das dificuldades, vem trabalhando no dia-a-dia com seus alunos, cultivando a sabedoria de cada um, para que recebam o conhecimento necessário e tenham o reflexo desse esforço no futuro. Em entrevista, ele revela os principais fatos enfrentados nas escolas, sejam eles positivos ou negativos.

Vale Repórter - Qual a sua relação com os seus alunos?

Foto: Arquivo pessoal
Professor Manoel de Souza - Sempre muito boa, nunca tive problemas sérios com alunos. Sempre procurei falar a linguagem do aluno, eu acho que muitas vezes o professor trabalha a linguagem técnica. Primeiramente, o aluno não tem conhecimento técnico suficiente para entender a linguagem do professor. Então o educador precisa se familiarizar com o aluno e isso sempre foi o meu objetivo, por isso eu nunca encontrei dificuldade para trabalhar com aluno. Nunca saí de sala de aula chorando, como muitos colegas que já saíram. Óbvio que tem dia que fico entristecido com o aluno ou com a própria profissão, mas o meu relacionamento o aluno é um relacionamento muito bom.

VR – Como é a experiência em dar aula em escola pública?

Professor- Existem dois lados, na escola pública encontra de tudo, desde aquele aluno que não quer nada, muitas vezes porque a família não tem uma formação para orientar e encontra também aquele aluno que a família acompanha. Na escola pública é onde as classes C e D da sociedade brasileira estão presentes, pois hoje em dia a A e B no Brasil os pais preferem levar os alunos para a escola privada. Em consequência disso, é um trabalho árduo, dependendo de muita paciência para perceber a diferença e fazer o trabalho diferenciado com cada um.

VR –Qual fase escolar o Sr. considera a pior em dar aula? Por quê?

Professor - Eu não gosto do fundamental I, que são as crianças do primeiro ao quinto ano. Mas isso é uma questão de gosto, não sei se é a pior fase. Já comecei a lecionar com ensino médio, então peguei muito o ritmo do aluno que é mais independente, o aluno que basta dar as orientações e ele faz. Quando deixei de dar aula para o ensino médio e fui para o ensino fundamental II, eu tive essa dificuldade.

VR – Como o Sr. classifica a qualidade de ensino atualmente? Por quê?

Professor- Atualmente, não é boa e as perspectiva de melhora estão longes, porém existem N motivos, o problema não pode ser atribuído somente ao aluno, ao professor e a escola, mas também sistema. Nós estamos no país que os investimentos na área da educação estão entre os piores do mundo. É preciso melhorar, mas ainda não encontramos esse caminho. Isso não acontece da noite para o dia, é gradativo, mas nós precisamos de pessoas que tenham essa visão.

VR – Quais os obstáculos são enfrentados para um aluno de ensino público tenha a mesma qualidade do ensino particular?

Professor- Primeiramente, eu acho que os investimentos e recursos. As escolas particulares estão muito além, se tratando de ensino fundamental e ensino médio. E principalmente a família, geralmente quando um pai resolve tirar um filho da escola pública e acaba colocando-o na escola particular, ele percebe que o que ele está pagando muito, e isto está "doendo" no bolso, então a cobrança sobre o estudo do filho será maior. Isto é diferente de um filho em uma escola pública em que não se está pagando, diretamente, então consequentemente as cobranças, preocupação e proximidade são maiores em uma escola particular.

VR – Quais as diferenças que o Sr. nota em dar aula em uma cidade pequena, e as escolas de cidades maiores?

Professor - O comportamento dos alunos. Eu estranhei muito quando sai de Taubaté e vim para Campos do Jordão. Em Taubaté dei aula em diversas escolas, escolas péssimas, isto tudo devido ao comportamento dos alunos, hoje em dia trabalhamos com alunos de periferia e as famílias estão ausentes, os filhos levam toda está carência familiar para escola, surgindo a violência, agressividade e nervosismo. A escola "sozinha" não da conta disto. Agora, em uma cidade pequena, as famílias ainda estão muito preservadas, então elas ainda têm aquele hábito de interior, ocasionando isso uma melhor educação dos alunos.

VR – Como o senhor avalia a infra-estrutura dessas escolas?

Professor- - Das escolas públicas, muito aquém. Nos últimos anos, tem têm chegado para as escolas muitos materiais, porém, não é o suficiente. Quando um material é danificado, o problema a ser resolvido é muito demorado, e o professor tem que trabalhar no improviso. O material está muito ultrapassado, enquanto outros países os alunos já estão usando notebooks em sala de aula, e aqui no Brasil, em alguns estados, usam a lousa e o giz.

VR – Como a participação da família na vida do aluno influencia na qualidade de ensino?

Professor- As famílias influenciam muito na educação, aquelas que acompanham os seus devidos filhos, o rendimento acaba sendo muito melhor, e as famílias que "abandonam" os filhos são totalmente o ao contrario. Chegamos à conclusão que aquelas famílias que acompanham os alunos no dia-dia, o rendimento acaba sendo muito maior.

VR – O que é mais gratificante para o senhor toda vez que entra na sala de aula para cumprir seu papel?
Foto: Arquivo pessoal

Professor - O mais gratificante é o aluno falar assim: "Professor, que bom que é a sua aula". Quando o aluno fala isso, eu acho que é porque está valendo à pena. Ou quando eu chego à sala de aula, e o aluno já está me esperando na porta, com "aquele" sorriso no rosto. Eu peço muito para Deus, tolerância, paciência e que meus alunos nunca falem para mim: "Nossa professor, a sua aula?..."