Em meio a
uma crise no país e preconceitos de uma sociedade patriarcal, Isabel mantém seu
empreendimento e sua casa sozinha
Por Luís Sonsini
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| Isabel em seu local de trabalho |
Apesar do desânimo
da maioria dos brasileiros hoje em dia em ter o seu próprio estabelecimento e
trabalhar para si mesmo, Isabel Vieira, de 43 anos, nascida e criada na cidade
de Guaratinguetá, no Vale do Paraíba, interior do estado de São Paulo, trabalha
em seu próprio salão de cabeleireiro que mantém, há mais de dez anos, a
estabilidade econômica dentro de casa. O exemplo de Isabel mostra que é
possível sim ser mãe e esposa e ter seu emprego de sucesso depois dos trinta e
que, com disciplina e responsabilidade, consegue-se fazer do seu ganha-pão uma
diversão e a principal fonte de renda de uma família. O salão de Isabel vem se
desenvolvendo ao longo dos anos e tornando-se cada vez mais lucrativo e
passando direto pelas barreiras e boatos sobre a crise econômica que, segundo a
grande mídia, assola o Brasil de maneira em que as pessoas têm desistido de
seguir o seu sonho e fazerem o que desejam para a vida. Com um marido doente e
um filho cursando Direito na cidade vizinha, Isabel consegue, trabalhando cinco
dias por semana, dar conta dos afazeres da casa, das despesas e da atenção à
sua família.
Como
você começou com esse empreendimento?
Olha, tenho que
dizer que a data certa eu não me recordo, mas sei que em até meados de 2003,
meu marido e eu mantínhamos juntos uma transportadora pequena de cinco
caminhões, até que um problema na coluna o impossibilitou de trabalhar e
tivemos que fechar a firma. Na metade do ano, entrei para um curso de cabelaria
e manicure/pedicure aqui em Guará mesmo e, enquanto isso, ia atendendo uma
clientela pequena aqui do bairro numa sala que improvisamos para o salão, onde
era o antigo escritório da empresa. Em 2005 terminei o curso e continuei
atendendo, até que conseguimos um ponto perto de casa, onde é o salão hoje em
dia.
Quais foram as
barreiras que você julga mais difícil nesse processo de crescimento?
Acho que a
disciplina. Como trabalhava para o meu marido, eu sempre pude sair quando era
necessário, resolver minhas coisas, passear com meu filho, depois que decidi
fazer o curso e fundar meu próprio negócio, as coisas eram um pouco diferentes.
Porque não é porque trabalho para mim que posso abrir o salão na hora que
quiser e tirar folgas no meio da semana. Quando temos um negócio próprio, o
sucesso depende da nossa disciplina.
Qual a sua
formação?
Eu tenho apenas o
segundo grau completo e os cursos que fiz.
Como é a sua
relação com a sua família dentro de casa?
Meu marido me
ajuda no que pode. Apesar do problema na coluna do Luiz o impossibilitar de
correr muito, andar longas distâncias e pegar muito peso, ele procura sempre
auxiliar no serviço de casa e com as coisas do João Pedro, o nosso filho. O
Luiz não gosta muito de limpar, mas faz o que consegue. O que ele mais faz é
cozinhar pra gente. Agora o João está em um estágio no fórum e é corrida a vida
de universitário, mas antes quem cuidava da casa toda eram eles. Nunca tivemos
problemas com isso, somos uma família como outra qualquer.
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| Isabel conta também que conseguirá um ponto maior para o ano que vem |
Qual é a sua
maior realização nesses anos de negócio próprio?
Olha, pensando um
pouquinho, a minha maior realização é ter crescido, ter ampliado o meu salão,
conseguido duas funcionárias para trabalhar comigo aqui dentro e dar muitas
risadas com elas e com os nossos clientes. A maioria deles tem anos de
fidelidade comigo e gostam dos resultados e da nossa maneira distraída de
trabalhar
E qual a sua
maior realização na vida pessoal?
Ah, essa nem
precisa pensar muito! Na vida pessoal, o mais importante para mim é conseguir
ver minha família feliz. Com meu filho na faculdade fazendo o que gosta e com o
meu marido que me apoia em na construção da nossa vida a dois e que entende
como sou feliz fazendo o que faço, não há alegria maior que essa!
Se você
pudesse ter feito algo em sua vida diferente, o que você faria?
Eu teria estudado
mais. Não foi fácil chegar onde cheguei, mas acredito que com uma bagagem maior
de conhecimento, eu poderia ter ralado menos e estar melhor ainda no meu
emprego. Mas o destino, a Deus pertence e o que é pra ser, vai ser. O
importante é estar feliz.

