Literatura Infantil e Educação com Teresa Bendini

“O ano que não devia terminar” terminou, e crescia e florescia uma joia da Literatura Infantil.



“Ler, ler, ler e ler. O universo da palavra é infinito. Você vai na produção de determinado autor, depois naquele outro, e aí você se deleita, pega coisas, influencias.” – palavras da taubateana Teresa Cristina do Nascimento Bendini, nascida em 22 de Janeiro de 1958, “O ano que não devia terminar” dava a luz a mais uma estrela que enriquece ainda mais a Capital da Literatura Infantil. Produziu seu primeiro livro "Marcel, o Peixinho Voador" em 2010. Depois vieram: "Huguinho no Chuveiro" (dedicado a seu filho Hugo), "O colinho que era nosso", "Bi…charada", "A Palavra Mágica", e "Poeminha, o menino que entendia de imensos", o mais recente, lançado em 2015. 

Por:Samuel Sena 

Nada é mais adequado que a capital da literatura infantil para revelar uma escritora de literatura infantil. Apesar de ter tido um belo desempenho em seus livros, ela afirma com muita modéstia que não é uma escritora completa. Casada quase há 40 anos, desde 1977, Teresa Cristina é professora de História aposentada. Lecionou no Ensino Médio por seis anos na rede pública de ensino, e tinha seu jeito peculiar de ensinar, utilizando jornais e revistas e indiretamente incorporando uma espécie de trabalho jornalístico aos alunos. Quando questionada sobre o porquê de ter estudado e se tornado professora de História, suas palavras não economizam sinceridade: “O amor pela humanidade, a vontade de descobrir a minha própria história a partir do que foi vivenciado pelo homem.  É preciso saber que carregamos em nosso DNA tudo o que já foi vivido anteriormente. Somos frutos da cultura humana, gerados pelo seu ventre e é Ela que está nos contando sempre”.

Teresa Bendini com sua obra mais recente: "Poeminha,
o menino que entendia de imensos".
 
 A escritora revela que lecionar foi uma de suas grandes paixões além da literatura, tanto que fazia seus alunos vivenciarem o conhecimento de maneira bastante realista. Quando estava falando de Reforma Agrária, por exemplo, levava o MST na classe para os alunos terem uma conversa direta com os integrantes. “Quando fomos discutir o poder da mídia eu trouxe o Márcio da TV Band Vale - era o momento em que o Ciro Gomes era candidato ao governo – e ele trouxe todo o material na sala sobre mídia, inclusive os erros de gravação, eles riram o tempo inteiro e foi discutido mídia com os alunos”.

Teresa estudou no Instituto de Educação Estadual Monteiro Lobato, o Estadão, considerado na época o melhor colégio de Taubaté. Com doze anos tinha uma professora de português chamada Myrna, que ensinou ela e seus colegas a escreverem um jornal. A equipe de Teresa de chamava Tropicália, referente ao LP do Caetano Veloso, Chico Buarque e outros artistas, com uma temática bem nacionalista. Eles desenvolveram um jornal chamado “O Lampadinha”. Ali a escritora escreveu com seus colegas uma crítica à política elitista do colégio, que dividia os alunos por classe social, com o conto: “Um certo colégio estadual”. O colégio tinha 3.000 alunos, a maioria meninos e meninas da periferia, incluindo a própria Teresa, e uma minoria era de classe mais alta. Mais tarde, ela e seus amigos seriam chamados à diretoria e convidados a parar de escrever o jornal, senão seriam expulsos.

 Mas de tudo isso o que mais marcou Teresa, e que com certeza nunca fugirá de sua memória, foi a Myrna. “Foi a professora que nos incentivou, ela fez a seguinte coisa: me chamou na casa dela, não sei quantos anos depois, recentemente, e ela me doou parte dos livros dela.” Entre tais livros que ganhou estão: “Contraponto”, de Aldous Huxley, “Tonio Krowger, A morte em Veneza”, de Tomas Mann, “Retrato do Artista Quando Jovem”, de James Joyce, “O Cristo Recrucificado”, de Nikos Kazantzakis, entre outros. 

Livros que a professora Myrna deu a Teresa Bendini
quando foi visitá-la em sua casa.
Teresa Cristina tem um livro diferente dos outros que escreveu, “A Espiritualidade da Mãe”, que aborda seu lado espiritualista, definido por ela como um texto bem subjetivo, escrito a partir de um sonho que a autora teve com Nossa Senhora, pensando na mística existente em cada um. “Cada um de nós possui uma marca divina. Então, para cada um de nós, também existe um movimento peculiar acontecendo, que tem como objetivo nos religar ao SER SUPREMO.” – diz ela. Mas é um texto muito subjetivo. Talvez nele ela tente responder suas próprias dúvidas acerca das religiões.

Até o século dezenove crianças da elite branca eram ensinadas em casa ou internadas em Liceus, colégios de padres, e a educação para pobres e negros era rara ou nula. Teresa reconhece o avanço que houve na educação relativa a negros atualmente. “Toda a história dos negros vem sendo abordada no currículo escolar, em escolas públicas. Você vê um maior espaço para negros, graças às cotas.” – disse. 

 Atualmente, como escritora infantil, ela diz que escrever é algo terapêutico, uma prática que envolve sensibilidade e que cura a todo o momento o interior da alma. E seu objetivo está em constante desenvolvimento. "Re-significar. Elaborar outros tantos pensamentos a partir de um único texto, pensamentos mais ousados e díspares. Ser capaz de evoluir para uma metalinguagem é meu objetivo sempre”. E a base disso é, juntamente com a experiência de vida, as leituras feitas ao longo da vida, livros como “A Metamorfose”, de Kafka, “Os Miseráveis”, de Victor Hugo, e “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis, que exercem grande significado em sua vida, e inclusive, Teresa afirma que recentemente leu e suspirou com “O Livro de Rovana”, de seu amigo Joaquim Maria Botelho, um ex-professor do Departamento de Comunicação da Universidade de Taubaté.