‘Ex-publicitário’ faz do hobby de criança uma profissão

Artista de Pindamonhangaba trocou carreira na publicidade para trabalhar com ilustrações da Turma da Mônica

Apaixonado por desenhar desde criança e fã declarado das histórias de Maurício de Sousa, Bruno Honda Leite, nascido em Taubaté e morador da vizinha Pindamonhangaba, precisou de tempo para descobrir que era no hobby que encontraria a “profissão dos sonhos”.

por Guilherme Machado
Após 15 anos atuantes como publicitário em agências, o designer conseguiu encontrar paz profissional e tempo para a família justamente com a ajuda das ilustrações dos famosos personagens de quadrinhos infantis.

Bruno tem 36 anos e é uma daquelas pessoas que transforma tudo em arte. Pode ser uma caixa de papelão, frasco de produtos de limpeza ou até mesmo um cupom fiscal – nada passa despercebido pelos olhos do artista. Foi pensando nisso que em 1997 ele foi para a capital paulista cursar Publicidade e Propaganda, onde imaginou que poderia conciliar a antiga paixão com uma atividade profissional.

A carreira decolou, mas não agradou. Ele chegou a trabalhar em agências de grande porte e em projetos premiados, mas o estresse do cotidiano foi afastando o rapaz da tranquilidade. O publicitário procurou então algo que o trouxesse bem estar, tempo para família e também estabilidade financeira.

“Não curtia essa vida. Trabalhava até tarde direto, em vários finais de semana. Procurei maneiras de largar e me concentrar em outros caminhos, como a toy art [arte 3D feita em bonecos]. Paralelamente, comecei a trabalhar, fiz várias exposições, mas essa atividade não dava muito dinheiro”, explica Bruno.

Foi nesta fase que ele conheceu a Mônica de Sousa, musa inspiradora da personagem de quadrinhos mais famosa do país. Uma amiga em comum entre ele e filha do cartunista Maurício de Sousa o convidou para um ‘freela’ na festa de 50 anos da empresária. O designer aceitou e ficou responsável pela direção de arte do evento.

“Acabei aceitando fazer o convite da festa. Fiz um bonequinho da Mônica [personagem] em papel. Disseram que ela mostrou para a Magali [da vida real], que mostrou para o seu Maurício e ele adorou a ideia”, conta.

Mônica Toy

Foi do bonequinho apresentado por Bruno na festa da Mônica que surgiu a ideia do atual sucesso da MSP no núcleo de animação. Junto com o cartunista, ele idealizou um projeto para atingir o público que, na infância era fiel as histórias dos gibis, mas hoje já não se identifica com a marca.

De acordo com o designer, a ideia desse produto é facilitar e agilizar o contato entre público e história. Os vídeos estão no canal oficial da produtora na internet, possuem cerca de 30 segundos de duração e não possuem fala – as histórias são apenas sonorizadas.

“A proposta era fazer algo que o adolescente, o jovem adulto, possa assistir a qualquer hora e em qualquer lugar, sem torcer o nariz por ser cois de criança. Também achamos que seria possível contar uma história nesse período de tempo sem utilizar falas. Essa medida nos possibilita, inclusive, a potencializar o projeto internacionalmente. Um dos nossos públicos mais fortes é o japonês”.

Atualmente Bruno faz parte da equipe da Maurício de Sousa Produções (MSP). Lá, ele é designer-chefe e comanda o departamento de criação de produtos, a identidade visual para o Maurício de Sousa e também atua no planejamento estratégico da empresa.

Humor em forma de traços

O ilustrador também conta que está entrando também em eventos de cartoons e desenhos voltados para o humor. Neste ano ele participou do 1º Salão Latino-Americano de Humor com um desenho do compositor Adoniran Barbosa. “Meu estilo não é caricatura, é um estilo mais próximo das histórias em quadrinho, o que acaba chamando atenção por ser diferente”.

Com um mercado cada vez mais restrito, devido a decadência dos impressos, Bruno concorda que participar desse tipo de evento ajuda a fortalecer essa modalidade da profissão. Ele explica que para atrair a atenção popular novamente, muitas dessas exposições relâmpagos acontecem em locais públicos, como estações de metrô e pátios de shoppings.

Segundo o designer, o fortalecimento da discussão contemporânea ‘quais são os limites do humor?’ é outro fator que interfere neste mercado nos atualmente. Bruno defende a idéia de que a comédia - ao menos filosoficamente - não deve ter uma censura pré-estabelecida, mas lembra que cada pessoa deve estar ciente da responsabilidade que tem quando se manifesta publicamente.

“Cada um sabe em qual vespeiro que vai cutucar. Eu só não gosto, apesar de não ficar definida uma linha do humor, de piada com classes e minorias historicamente oprimidas. Mas o humor não tem limites mesmo. É um artista colocando na sua plataforma a piada e estando pronto para reações diferentes”, concluiu.

Pessoal x profissional 

Mesmo trabalhando com pessoas que marcaram sua infância e fazendo o que gosta de fazer desde que aprendeu a dar os primeiros rabiscos, Bruno ressalta que é importante ter cuidado ao dizer que é feliz com a atividade. Para ele, mais importante que isso é ser feliz nas horas em que está longe do escritório, junto a esposa e aos três filhos em Pinda.

“Para mim, aquela frase ‘faça o que ama e não trabalhará um dia sequer’ é uma das maiores mentiras e um dos maiores males da nossa geração. Existe uma pressão muito grande de que temos que encontrar nossa felicidade unicamente na profissão. O que me define está fora do meu trabalho”, afirma.

Pai, marido e palmeirense, Bruno diz que gosta de desenhar “pássaros de gravata” e organizar suas exposições como artista plástico – o que garante não ser nada rentável. Depois de todas experiências pela qual passou, ele garante que está no emprego dos sonhos, mas que sua felicidade não está mais condicionada a dar certo ou não.