A padronização ilusória e a busca pela essência

Fotógrafo vale-paraibano quebra “regras” e aposta nos retratos naturais em busca da valorização da verdadeira beleza feminina
                                                                                                          
Taubateano, nascido no ano de 1981 e ainda residente da cidade natal, Gabriel San, como assina seu trabalho, tem a fotografia em sua vida desde meados de 2005.

                                                                            Por Nataly Oliveira


Com 35 anos, Gabriel está há 11 no mundo da fotografia
Entrando inesperadamente na profissão, o fotógrafo tomou gosto pela arte de capturar momentos através da aquisição de uma câmera compacta que carregava para cima e para baixo, afim de registrar suas viagens e andanças por aí. Sem pretensão, o rapaz reconheceu o talento que possui, pesquisou, estudou, trocou e adquiriu equipamentos, encontrou inspirações e arriscou, sem medo de se jogar, entrando para o mercado de trabalho três anos depois da primeira compacta companheira de aventuras. Para permanecer a par de trabalhos de artistas-referência nacionais e internacionais, a internet tornou-se melhor amiga de Gabriel, que a considera a melhor ferramenta para manter-se atualizado no mundo das imagens. Hoje, o fotógrafo, que considera os retratos femininos sua área favorita, valoriza o emponderamento das mulheres e fala ao Vale Repórter sobre a importância da quebra dos padrões estéticos.


Por que escolheu a carreira fotográfica?
Gabriel - Eu costumo dizer que a fotografia que me escolheu. Comecei com uma câmera compacta, sem muito conhecimento da arte, tomei gosto pela coisa e, quando vi, já estava trabalhando profissionalmente no ramo.


Quais são os principais desafios da sua profissão?
O maior desafio hoje na fotografia, claramente, é o mercado que vem ficando cada vez mais apertado, com mais fotógrafos e mais trabalhos de alto nível e esse desafio acaba se tornando motivação para se aperfeiçoar cada vez mais.


Em qual área da fotografia você se especializou?
Apesar de trabalhar com todo tipo de fotografia, venho me especializando em fotografia de moda e retratos femininos. Este último é, inclusive, o meu maior público que trata-se de mulheres que querem se ver bonitas naturalmente, que procuram autoconhecimento e querem colocar para fora toda a beleza que elas têm guardada.  


Quando surgiu a ideia de fotografar mulheres “normais”?
Eu sempre trabalhei com fotografia de moda comercial e quis mudar isso. Eu passei a ver a importância de mostrar o outro lado da mulher que é tão bonito quanto e geralmente fica escondido nesse tipo de fotografia. Dessa vontade, nasceu o projeto “Um Quarto Vazio”, em que eu fotografo mulheres em sua essência, em lugares completamente vazios com a intenção de buscar mesmo esta essência.


Qual a importância da quebra dos padrões físicos femininos que são impostos na fotografia, principalmente na publicitária?
É a conscientização de que o padrão imposto pelo mercado fotográfico comercial não existe, é uma coisa totalmente ilusória. E essa quebra traz à tona a beleza verdadeira, sem manipulações.


Como a fotografia pode influenciar a vida das pessoas?
Off do projeto "Um Quarto Vazio"
A fotografia pode influenciar de maneira positiva ou negativa. Tanto o lado bom quanto onlado ruim é que a fotografia tem o poder de convencimento. Algumas vezes, o “uma imagem vale mais que mil palavras” pode se tornar uma ideia equivocada. A fotografia comercial, as capas das revistas, as manipulações em excesso geram uma busca incessante e inalcançável por um padrão de beleza que, simplesmente, não existe. O meu trabalho é mostrar que o que está nos outdoors não é real. Que a mulher brasileira, em sua maioria, tem curvas, quadril largo. Até mesmo as que estão nos outdoors. O uso do tratamento de imagem não é errado, mas a manipulação, sim. Criar uma mulher que não existe e vender isto para as demais pode ser muito mais prejudicial do que a indústria pensa. É só acompanhar os jornais, a mídia… Quantos casos de depressão e até suicídio esse tipo de padrão já não causou?


Aproveitando que você tocou no assunto, como você avalia o excesso de tratamento e modificações das imagens?
Eu não condeno esse tipo de fotografia, o que deveria mudar é a visão que se passa disso para o consumidor. Temos que consumir esse tipo de fotografia cientes da realidade e mais ciente ainda de que um “bonito” fora das capas das revistas. Eu falo das capas das revistas, porque é um dos meus ramos de trabalho, mas está presente também em rótulos de produtos, marcas e comerciais de televisão.


Qual o SEU limite para tratamento?
No projeto, eu sigo uma linha de tratamento de imagens bem simples, eu tenho uma regra que funciona da seguinte forma: é considerável o tratamento que não altere a estrutura da modelo, formas, tamanhos. Eu considero apenas a remoção de pequenas marcas temporárias como espinhas, manchas, algum machucado ou marcas que possam causar distração da fotografia. Esse é o limite que eu considero saudável.


Como o público está reagindo sobre a fotografia que exalta as curvas e a beleza natural?
Felizmente, tenho recebido muito retorno positivo em relação a esse trabalho mais natural. Muitos elogios estão surgindo, as pessoas estão olhando minhas fotos de uma outra maneira, estou atingindo um outro público depois dessa iniciativa de olhar a mulher com outros olhos.


Qual a reação das suas clientes ao receberem os ensaios prontos?
Eu gosto muito dessa reação de surpresa, de superar expectativas. Muitas vezes elas perguntam se são elas mesmas ali, mesmo se reconhecendo nas fotografias, não sabiam do potencial de saírem tão bem posando. Ter uma autoestima saudável é essencial e inúmeras pessoas não se consideram bonitas o suficiente de acordo com o modelo que a sociedade reproduz e, ao pegarem os ensaios e se verem lindas ali, as mulheres passam a se enxergar de uma outra maneira. É um carinho na estima.


Como você trabalha a modelo que vai posar pela primeira vez?
Muita conversa antes é primordial para passar segurança. Estou sempre disposto a tirar dúvidas e faço questão de mostrar meu trabalho fotográfico para que a modelo tenha uma noção de como o material vai ficar.


Como você avalia o mercado fotográfico do Vale do Paraíba e como é o reconhecimento da fotografia sem fins comerciais por aqui?
É um mercado que vêm crescendo cada vez mais e, felizmente, as pessoas estão criando uma cultura de valorizar a fotografia como arte, o que está refletindo de forma positiva para quem aposta na fotografia artística, fugindo um pouco da comercialização da mesma.