Um destino chamado horizonte

Com os cabelos longos e a pele jovem aos 73 anos lembram um índio, descendente dos nativos brasileiros seu Paulo só anda descalço.

Por Hyssa Favre

Os amores de seu Paulo, a bicicleta e a patroa que
 sempre reza pelo marido que cai na estrada
Nos mais de 4 mil quilômetros rodados de bicicleta, junto com o amigo Zezão, ele nunca deixou de fotografar uma igreja e trazer um santinho para casa. As aventuras da dupla não têm limite de quilometragem. 

Com os cabelos amarrados em um longo rabo de cavalo, camisa abotoada e bem passada, bermuda jeans, um coldre na cintura e os pés descalços, Seu Paulo aguardava ansioso, escondido atrás das pilhas de álbuns de fotografias, para contar sua história. Há 48 anos, a casa azul royal do Jardim Maria Cândida em Caçapava é lar do encanador Seu Antônio de Paula Cardoso – conhecido apenas por Paulo – e Dona Maria Luiza seu Paulo lembra um Indio, cabelos longos e pele jovem, sempre anda descalço pela cidade. do Carmo Cardoso, que, juntos, criaram sete filhos e doze netos, todos cristãos. Batizado na Basílica Bom Jesus de Tremembé, Seu Paula é muito católico, não tem carteira de motorista, detesta dentista e só anda descalço, trabalhou de engraxate, vendedor de verdura, charreteiro, tecelão, operador de caldeira e, atualmente, aos 73 anos, é encanador. 


Mas a personagem principal da casa é a Caloi Shimano verde. Que já rodou de Caçapava a Angra dos reis. Seu Paulo faz os passeiso sempre acompanhado do amigo azarado zezão. Das histórias seu Paulo omite as partes perigos, mas a neta Noieli faz questão de lembrar. que não é profissional, mas é turbinada, tem farol, buzina, alarme, retrovisor e – lógico – as fitinhas que abençoam as pedaladas. Ao todo, o idoso acredita ter pedalado mais de 4 mil quilômetros ao lado do amigo azarado, Zezão. 

 José Benedito, o Zezão, que não é nem um pouco atlético, é amigo de infância do Seu Paulo e seu fiel escudeiro azarado. Em todas as viagens, umas 40, os dois estavam juntos. “Um dia, descendo a serra de Ubatuba, o Zezão passou mal, teve uma hipotermia. Era madrugada de inverno, aquela serração. O Paulo parou em uma gruta, fez uma fogueirinha e esquentou uma lata de feijoada e deu feijoada fervendo para o rapaz comer, ele melhorou e continuaram a viagem. Quando acontece alguma coisa, eles não voltam não!, conta Dona Luiza como se estivesse dando uma bronca em duas crianças levadas. Seu Paulo costuma as partes mais perigosas das aventuras, mas a patroa, que nunca saiu para se aventurar de bicicleta com o marido, não se esquece dos momentos de preocupação em casa. 

Dona Luiza se dedicou integralmente a família, 
com todo carinho arruma seu Paulo para a foto

 A primeira vez que a dupla saiu para percorrer uma longa distância em cima das possantes bicicletas foi em março de 1972 com destino à Aparecida (SP). A partir de então, a lonjura só amentava. A meta dos dois foi percorrer a Rodovia Rio-Santos, em 2013 e foram 554 quilômetros pedalando a Caloi Shimano para chegar ao destino final, em Angra dos Reis (RJ). Dona Luiza interrompe a conversa e conta as peripécias do esposo, “O amigo exagerou na alimentação, comeu demais e deu-lhe uma diarreia na serra de Paraty pra Cunha. O Paulo subiu com a bicicleta dele, voltou, pegou a bicicleta do colega, sobe e volta de novo, pega o colega e sobe, isso foram quilômetros de serra e o colega vazando, o Zezão não tinha mais cor quando chegou em Cunha - Desidratados, os amigos conseguiram chegar a Cunha, descansaram e, no outro dia, o paciente já estava bem. “A estrada lá era terrível”, lembra Seu Paulo. 


Em 2014, Dona Luiza e Seu Paulo comemoraram as Bodas de Ouro, os 50 anos de casados são orgulhosamente recordados em um álbum da cerimônia que renovou os laços matrimoniais. “Essa é minha conquista, minha aventura meu orgulho, manter minha família unida e ser feliz depois de 50 anos juntos”, garante a matriarca. Seu sorriso revela força e dedicação, e ela pode ser comparada ao tronco de uma árvore que firme segura os galhos para não despencarem. Dona Luiza sempre apoiou as aventuras do marido e do amigo, sem nunca descuidar da fé, pois a esposa sempre roga a Deus proteção para o marido.
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