Como a massa carrega a tradição e história de uma família italiana formada no país
por Kas Hoshi
Segundo o projeto Fim da Fila, 42% dos imigrantes que aqui desembarcaram tinham sangue italiano.
Entre eles estão Catarina Dolci e José Corsini que se casaram aqui no Brasil e formaram uma grande família de 13 filhos. Dono de terras, seu José era fazendeiro e cuidava das lavouras de café. Com o auge da exportação, a família criou uma riqueza que permitiu a dona Catarina e seus filhos não trabalharem como mão de obra imigrante. Mas foi a crise de 1929 que mudou o destino dos Corsini.
Com a queima do café para elevar os preços, a filha caçula, Laurita Corsini, logo teve de ir trabalhar com seus irmãos na terra. "Era muito ruim trabalhar na roça", afirmou. Com 20 anos, casou-se com o pedreiro Nelo Ribeiro Camargo que conquistou seu coração e a levou para morar na cidade.
Costume de família, Laurita cresceu vendo o preparo de comidas típicas italianas, entre elas a pasta. Feita de farinha, ovos e um pouco de óleo, a massa sovada, espichada e seca produzia, e ainda produz, um gosto tradicional para os Corsini.
Laurita fez pela primeira vez a receita após se casar. "Nunca tinha feito antes, então fui lá e fiz. O Nelo não gostava de frango cozido, mas preparei com o macarrão assim mesmo. Ele comeu e gostou", relembra. Hoje com 89 anos e morando com a família em Taubaté, interior de São Paulo, ela repassa a receita para as duas filhas, Laura e Silvana.
A massa foi proveniente de muitos almoços fartos de domingo sempre acompanhada de um frango cozido à moda caipira. A mais velha, Laura, acredita que manter a tradição é muito importante. "Eu me interessei em aprender para passar de geração em geração. A gente tem de sempre saber cada vez mais." Dados de 2013 divulgados pela Embaixada Italiana indicam que eram 30 milhões de descendentes italianos.
Laura relata que a pasta é totalmente natural. "Não tem conservantes nem nada." Para ela, produzir o macarrão é sentir uma nostalgia não vivida do tempo italiano. "É como se eu estivesse com os meus antepassados vendo eles fazerem a massa."
A certeza que a filha mais velha carrega é de que a tradição não morrerá com a nona. A família, que não para de crescer, permanecerá provando da alma italiana que desembarcou no país a fim de criar aqui uma nova geração.
