Álcool e Menores de Idade: Uma Péssima Combinação

Foto: Vinicius Rodrigues
Bebidas alcoólicas e cigarros, cuja compra e uso por adolescentes são proibidas por Lei, fazem parte do cotidiano desses jovens sob o olhar displicente de pais e policiais.
 

por Mariana Cassador

Do sofá ela enxergava uma festa louca: copos jogados no chão junto com pontas de cigarro que ninguém percebia. Duas pessoas se beijavam no canto da sala enquanto seus amigos gritavam e dançavam. Ela deu outro trago no cigarro, terminou seu copo de vodka e se levantou. No caminho que fazia do sofá até o aparelho de som se desviou de três amigos, embriagados, que a puxavam para dançar.

Sem responsabilidades e sem fiscalização, Hellen, uma garota de 16 anos, está acostumada a participar de festas regadas a bebidas alcoólicas e a outras substâncias não permitidas. Com  RG adulterado, o acesso às drogas licitas (cigarros e bebidas), cuja venda e consumo são proibidas por Lei para adolescentes, é facilitado, simplificando a vida daqueles que tem a curiosidade de experimentar o ambiente noturno das baladas.

Donos de bares que só pensam em faturar algum dinheiro, acabam esquecendo dos problemas que causam ao deixar um menor de idade ingerir bebidas alcoólicas. “No horário de pico é tanta correria que não dá pra ficar pedindo o RG de todos que vem aqui”, justifica T.S., dono de um bar em Taubaté, que não quer ser identificado. “Universitários entram cada vez mais cedo na faculdade, morando sozinhos e pagando as próprias contas, é injusto não deixar eles beberem uma cerveja para relaxar”, acrescenta o comerciante.

Foto: Vinicius Rodrigues
A lei nº 14.592, de 19 de outubro de 2011, proíbe a venda de álcool para um jovem com menos de 18 anos, com ou sem a autorização e presença dos pais. Supermercados, padarias, bares e outros ambientes têm que utilizar uma placa de aviso sobre álcool para menores de idade, e, caso a Vara da Infância e Juventude pegue um jovem ingerindo bebida alcoólica num desses lugares, o dono do estabelecimento paga uma multa que varia de 3 a 20 salários mínimos e podem levar uma detenção de dois a quatro anos quando isso ocorre. "O menor não pode ingerir bebida alcoólica em nenhuma circunstância, por proibição expressa inclusive, no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), claro que o menor pode freqüentar baladas, desde que sejam realizadas para sua faixa etária e tenham alvará", explica a advogada Nathalia Silva.

Segundo o Centro de Informações Sobre Saúde e Álcool (CISA), aproximadamente 50% dos adolescentes já terão experimentado alguma bebida alcoólica antes dos 15 anos de idade, e, pelo menos 20% terão reportado episódios de embriaguez, o que pode resultar, na maturidade, no mau funcionamento dos órgãos, aumento na probabilidade de dependência, além de efeitos no cérebro. “A exposição do cérebro ao álcool durante a adolescência pode interromper processos chaves do desenvolvimento, possivelmente levando a danos cognitivos leves, e vale lembrar que os danos causados por essa substância ao cérebro persistem por um bom tempo”, explica a clinica geral Rosa Freitas.

Os adolescentes sabem de todos esses fatores, mas acreditam que o “proibido é mais gostoso e mais divertido”. A jovem de 17 anos Danielle Aparecida conta: “O álcool nos solta, é mais maneiro conversar com os amigos quando todos estão embriagados”.

Os pais devem aconselhar os filhos a não frequentarem lugares onde desconfiam que esta venda ilegal ocorre, pois muitas vezes acabam prejudicando a saúde e a “ficha” do menor. “Quando minha filha tinha menos de 18 anos, eu levava nas baladas e depois buscava, para evitar o contato com bebidas alcoólicas. Hoje ela se tornou uma mulher responsável e acredito que irá fazer o mesmo pelos meus netos”, lembra Elaine Rocha, mãe preocupada e cautelosa que depositou no acompanhamento de suas filha a confiança de que a menina não experimentaria álcool na adolescência. Mas será isso suficiente? A psicóloga Regina Camargo acredita que "isso inibe o adolescente a fazer algo proibido por medo dos pais descobrirem".

Mas não são todos os adolescentes que gostam desta sensação de descumprir a lei, Denis, jovem de 16 anos, garante que nunca provou uma gota de álcool. “Tem gente que acha que é por conta da religião, mas eu prefiro não saber o gosto da cerveja e da vodka pra não correr o risco de me viciar ou fazer as coisas e não lembrar no dia seguinte”, conta o garoto.

Enquanto alguns adolescentes concordam com a posição de Denis em relação a bebidas alcoolicas, jovens com idade entre quinze e dezoito anos ainda preferem participar de festas regadas de substâncias ilegais para esta idade. Hellen, a jovem do início dareportagem, garante que continuará frequentando ambientes onde possa ficar embreagada já que "desse jeito tem muito mais diversão". Será?