Linguagem da emoção

*Raphaela Gomes

“E aqueles que foram vistos dançando, foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música.” 


Friedrich Nietzsche.

Música, palavra de origem grega, significa “a arte das musas”. É uma forma de arte que se constitui basicamente em combinar sons e silêncio, além de ser considerada por diversos autores como uma prática cultural e humana. Atualmente não se conhece nenhuma civilização ou agrupamento que não possua manifestações musicais próprias.
A execução musical pode ocorrer em um contexto íntimo ou mesmo solitário, mas é comum que ocorra dentro de um evento ou espetáculo. Entre os eventos mais comuns estão os festivais. Organizados em locais públicos em conjunto com outras atrações como artistas performáticos, atividades sociais, comércio de gêneros alimentícios e outros produtos, os festivais musicais se repetem de acordo com um intervalo específico. No Brasil, são mais conhecidos como um evento cultural.
Seguindo o embalo das canções, as letras e os componentes de cada banda conseguiram comover inúmeros corações ao longo de suas trajetórias. É o caso de Bráulio, Renato, Mariana, Renan e Alexandre; cada uma dessas pessoas teve, em algum momento, suas vidas tocadas pela música.

A música conversa com a gente 

Em 1985 a música e o esporte tinham o seu auge diante dos jovens. Para Renato Sacchi Gomes, um mineiro de 48 anos, o festival Rock in Rio foi o grande acontecimento daquela época, pois conseguira reunir as melhores bandas do momento em nível mundial.
“As bandas que assisti foram Queen, Scorpions, Rod Stewart, James Taylor, Lulu Santos, Paralamas, Kid Abelha e Barão Vermelho. Para mim, que vim do sul de Minas Gerais, foi sensacional ver os meus ídolos de perto. Tanto pelo variado gênero de bandas quanto por poder sair de uma cidade pequena e vivenciar o festival”. – conta.
A música influencia porque expressa o sentimento ou a cultura de uma época ou de um povo. No caso de Renato, ele relata a paixão pelas letras e explica que o encontro com as mensagens serve para entender os acontecimentos e até mesmo para ilustrar coisas de sua própria vida, dizendo que a música ‘conversa’ com ele.
“Até carta para namorada eu já ilustrei copiando letras de algumas músicas. Sou um verdadeiro plágio” – brinca.

Cura da timidez

Bráulio Signorelli Amereno, de 52 anos, é um professor de História no colégio Laser, de São Lourenço – sul de Minas Gerais que diz ter assistido diversos shows em São Paulo. Cita exemplos como Made in Brazil, Patrulha do Espaço, Tutti-Fruti e bandas Punks. Para o historiador, a música incentiva as pessoas a terem uma atitude mais questionadora da vida.
 “Fui um adolescente muito envergonhado, tímido demais e sem grana (como a maioria dos meus amigos). Na turma dos ‘rockeiros’, eu me sentia aceito do modo que podia ser, sem ter que comprar a roupa da moda” - relata.
As letras críticas também o induziram a se informar mais.
“Eu acho que o rock me levou a querer saber mais sobre as coisas, a ter assunto com os amigos. Posso afirmar que me ajudou a tomar posição, saber o que eu queria me tornar”.

Não escolhemos a música, ela nos escolhe

Para Alexandre Zamat, da banda Zamat Blues Band, a música não se trata de um negócio ou uma idéia de fazer dinheiro, trata-se de paixão. O grupo que contém três integrantes surgiu em 2009 e tem como influência o gênero blues.
 “A música representa tudo: nosso trabalho, nossa desculpa, nossos motivos, nosso esporte, nossa droga, nosso lugar favorito. Ela representa a melhor dose do melhor Whisky.” – conta.

Sem música a vida seria total perda de tempo

Mariana Sacchi é uma estudante de Astronomia que vive na Austrália. Apesar de ter vivido os primeiros anos de sua vida no Brasil e ter influências musicais nacionais, acabou por se render a alguns festivais no exterior, como o Slpendour in The Grass e o Big Day Out. O primeiro acontece no verão, enquanto o outro, no inverno. Os gêneros musicais variam entre rock e alternativo, voltado para público de todas as idades.
Para ela, música é a grande influencia para tudo o que faz. “Sem música a Astronomia não teria tanta graça; ela coloca emoção. Como dizem: "Without music, life would be a total waste of time" (sem música, a vida seria uma total perda de tempo). Para nós aqui na Austrália faz parte do nosso dia-a-dia, desde o amanhecer ao anoitecer.”

Fui viver de música e nunca mais voltei

A banda Fones surgiu em abril de 2012 e conta com Renan Pereira, Paulo Augusto e Jefferson Viteri como integrantes. Com gênero grunge e garage rock, tem como influência bandas como Sex Pistols, Nirvana, The Vines, Pixies, Volpina e Plebe Rube.
O vocalista, Renan, deixou a carreira de jornalista e passou a viver inteiramente de música assim que a banda começou a fazer sucesso aos arredores da cidade de Sorocaba, localizada no interior de São Paulo.
“Desde pequeno a música sempre foi a coisa mais importante na minha vida; e com o tempo isso foi ficando cada vez mais claro. Comprei uma guitarra aos 11 anos e a partir daí comecei a participar de bandas do meu bairro, que geralmente se apresentavam em escolas e festinhas. Fiquei afastado das atividades musicais por quatro anos (período em que me mudei de cidade para fazer faculdade) e, quando voltei a pisar em um palco, percebi que apenas aquilo me tornava completo” – conta o músico.
Embora tivesse um emprego estável e salário razoável, o ex-jornalista se sentia preso.
“Eu estava acordando sistematicamente às 6 da manhã para viajar até a cidade vizinha, onde eu trabalhava como repórter de um jornal local. Foi em um dia desses que eu parei pra pensar o que estava fazendo da minha vida. Eu ainda estava muito longe de fazer o que eu realmente gostava. Obstante, minha forte concepção política sobre o mundo fazia com que eu entrasse em conflito comigo mesmo por diversas vezes. Eu simplesmente não acredito mais em veículos de comunicação tradicionais e então eu estava fazendo exatamente o oposto do que eu acreditava. Foi aí que decidi deixar tudo pra trás e recomeçar do zero. Foi uma escolha difícil, porque agora eu vivo sem grana e sou mais independente do que nunca. Por outro lado, levo comigo algo que dinheiro algum pode comprar: minha liberdade.” – conclui. Confira a entrevista completa do vocalista da FONES:



Sendo assim, a música não escolhe cor, nem raça, nem opção sexual. Não escolhe idade, nem fé e nem religião. Ela envolve aqueles que se deixam levar: seja pela saudade, pelo amor, pelo riso, pelo choro ou por toda e qualquer emoção. Por se tratar de um símbolo de comunicação universal, ela está presente em todos os formatos de mídia – o que faz com que essa relação fique ainda mais intensa. Com ela, se pode falar de alegrias e tristezas, é uma forma de desabafo, de se libertar. É poesia com som.