A Arte dos Rabiscos e Furos na Pele

A ARTE DOS RABISCOS E FUROS NA PELE

Por Luciana Corrêa e Cristiane Bento

       A tatuagem e o piercing já ganharam um grande espaço na sociedade e por muitos são vistos como moda, uma forma de cultura, uma arte corporal, porém ainda existem pessoas e empresas que não aceitam esse tipo de arte e enxergam como coisa de marginal, de “outro mundo”.
A arte corporal pode ser toda e qualquer movimentação artística querendo expressar algum sentimento, seja este de raiva, de dor, alegria, tristeza, enfim, sentimentos que não podem ser ditos apenas com palavras e sim com a expressividade corporal. Mas existem também as pessoas que decidem fazer essa arte no copo por simples prazer e sem algum significado em especial.
       Carina Siqueira mora e trabalha em Campos do Jordão. Ela é subgerente de uma loja no centro turístico da cidade, o Capivari. Ela adora qualquer tipo de modificação corporal, e já tem quatro tatuagens, um piercing no lábio, um na língua, um na bochecha e um surface na nuca, que é a perfuração da superfície da pele. O surface é uma evolução das perfurações tradicionais e pode ser perfurado na nuca, costas, dedos, entre o peito entre outros lugares do corpo. Carina se considera suspeita para falar da sensação ao fazer uma tatuagem, mas conta que é inexplicável e viciante “e só quem faz é que sabe”. Ela gosta dessa cultura desde o mais simples desenho na pele até a atitude mais arriscada, como a suspensão corporal. “Gosto da cultura de modificação corporal em todas as suas vertentes, desde uma simples borboleta à suspensão corporal e todas aquelas "loucuras" que algumas pessoas têm a coragem de fazer. Faz-me bem, é um prazer pessoal. Alguns apenas se tatuam enquanto outros sentem a tatuagem, no meu caso eu sinto”, disse Carina.
       Carina ainda não sofreu nenhum tipo de preconceito ao procurar emprego ou em um convívio social por causa do seu estilo e afirma que onde trabalha, hoje em dia, seu estilo de vida, aparência e personalidade fizeram e fazem toda a diferença. A subgerente confessa que se incomoda às vezes com as pessoas olhando para ela de modo estranho, mas que em algumas situações ela até gosta de ser o centro das atenções nos lugares onde frequenta. “Bom, apesar de me incomodar às vezes, encaro de forma normal, porque ser diferente atrai a atenção das pessoas mesmo. Apesar de ser bem vista hoje em dia a tatuagem ainda é mal interpretada e associada a uma marginalidade inútil e baseada em nada. Mas às vezes também gosto que as pessoas me olhem”, afirma.
         

A tatuadora Nagila Oliveira tem 19 anos, 2 anos e meio de profissão, e já tem o seu próprio estúdio e clientes. Na opinião da tatuadora, as modificações corporais cresceram muito na sociedade e hoje em dia quem tem mais preconceito e não aceitam são as pessoas mais conservadoras e os empregos que exigem uma aparência mais formal. “Hoje em dia muita gente tem tatuagem e por isso o preconceito diminuiu, pois a sociedade teve de encarar o fato de que se fossem julgar todos através das tatuagens e piercings, estariam perdidos. Em carreiras formais como a de Direito e Medicina, alguns hospitais e tribunais não aceitam de maneira alguma que seus funcionários tenham tatuagens ou piercings à mostra, pelo fato de acharem que suja a imagem da pessoa e por consequência a imagem da empresa. Por outro lado, em profissões como a moda e comunicação, o preconceito praticamente se extinguiu por serem essas profissões onde as diferenças fazem um mundo melhor”, afirma Nagila.

       Essas manifestações corporais já existem há muitos anos. Um exemplo são os índios que desde a época do descobrimento do Brasil já possuíam brincos no nariz, umbigo ou até mesmo na boca. O Povo Moori, da Polinésia, há muitos anos já possuí tatuagens no rosto e por todo o corpo. Com os colonizadores e as novas adaptações de culturas essa arte se tornou característica de determinados povos e com o passar do tempo se tornou diferente e inaceitável na sociedade. Com o passar dos anos houve uma evolução e foi se espalhando por todo o mundo e hoje as pessoas procuram cada vez mais por elas, tanto homens como mulheres, quanto adultos ou adolescentes, até mesmo quem trabalha em um banco ou hospital arruma um lugar no corpo que ninguém veja para tatuar ou colocar piercing.
“O que importa é que esta arte é uma opção pessoal, competindo a cada um ter a liberdade da escolha. Quem não gosta deveria apenas respeitar e ignorar, pois as pessoas tatuadas e com piercing são seres humanos normais, que possuem valores e caráter e é isso que importa. Não é a pele da pessoa, um piercing, uma tatuagem ou roupa de marca que mostra quem a pessoa realmente é por dentro. Quem tem preconceito tem que rever seus conceitos”, garante Nagila.
       O músico e fotografo João Leonardo Sóssio, 24 anos, é formado em Hotelaria e tem os dois braços, dedos das mãos, peito, costela e o pescoço tatuados. O músico disse que já até perdeu as contas de quantas tatuagens ele já fez e que nunca perdeu uma oportunidade de emprego por causa delas. 
João fez sua primeira tatuagem aos 17 anos e com a autorização dos pais e apesar de ter várias tattoos ele confessa que odeia a dor das agulhas. “Eu sempre gostei desse estilo inked e sempre achei que tivesse tudo a ver comigo, e por incrível que pareça eu odeio a dor das tattoos. Toda vez eu penso "o que estou fazendo aqui de novo". Mas a dor passa e a arte fica”, disse o músico.
       Para João ter o corpo tatuado não diz nada sobre uma pessoa e não deveria existir esse tipo de preconceito. “Tem tanta gente com o corpo limpinho fazendo tanto mal por ai. Acho que o importante é o que somos por dentro, o corpo é só a moldura, o verdadeiro quadro não se vê a olho nu. Ser ou não tatuado não diz nada sobre a conduta de um homem”, afirma.