As figureiras de Taubaté encantam e
transmitem cultura através das gerações
Por Thaís Aguiar
Desde o século XIX,
as figureiras de Taubaté já produziam sua arte. Dar vida ao barro cru e
expressar através dele cenas e imagens tipicamente comuns nas cidades de
interior são os principais trabalhos desenvolvidos pelas figureiras.
Costumeiramente
transmitida de geração em geração, a arte de fazer esculturas tem o poder de
unir as famílias de sangue e criar novos laços entre aqueles que compartilham
dessa paixão.

Josiane Sampaio, de
53 anos, conta que é figureira desde os 8. “Aprendi com a minha avó, que antes
só me deixava pintar as peças que ela esculpia e do jeito que ela queria.
Quando comecei a pegar gosto pela coisa, passei a querer pintar do meu jeito,
então ela disse que para isso eu teria que fazer as minhas próprias peças.” Com
seis filhos, a mãe de Josiane também sempre estimulou a arte como forma de
distração para as crianças. “Ela pedia para que fizéssemos animais diferentes,
então não atrapalhávamos os serviços dela. Aprendíamos brincando.”, relembra
Jose.
Em 1993, as
figureiras conseguiram fundar a Associação Maria da Conceição Frutuoso Barbosa,
ou como é mais conhecida, a Casa do Figureiro. A organização é sem fins
lucrativos e funciona como um espaço onde os artistas se juntam para esculpir e
vender suas peças. O lucro que ganham é de acordo com as peças que cada um
vende, e 5% do total são revertidos para os gastos da própria Associação. “Essa
forma de organização coletiva é muito interessante, mas pouco valorizada, e
esse é o grande diferencial delas.”, revela o professor de história e realidade
regional Armindo Boll.
A Casa do Figureiro
conta hoje com 36 artistas, dos quais apenas quatro são homens. Contudo, essa
diferença de número não desqualifica o trabalho feito por eles. Luciana Souza
Campos, de 37 anos, conta que os homens são tão talentosos quanto as mulheres e
afirma que dentro da Associação não existe qualquer tipo de competição. “Somos
todos uma grande família. Estamos sempre nos ajudando e trocando conhecimento.”
Nascida em Belém, PA, a própria Luciana diz ter sido apresentada as figureiras
pelo marido. “A primeira vez que vi as peças que ele fazia, quase não
acreditei. Para mim era impossível que um trabalho tão lindo fosse feito apenas
com barro. Na mesma hora disse que queria aprender.” O respeito pelas técnicas
desenvolvidas pelos outros artistas também é evidente. “Se alguém cria uma peça
nova, aquela obra passa a ser daquela pessoa, é como se fosse uma assinatura,
ninguém mais imita.”
Tendo como
carro-chefe o pavão - símbolo do artesanato paulista, além de outras peças
tradicionais como os santos e presépios, as figureiras também aceitam
encomendas diferentes como as com temas nordestinos ou as especialmente
produzidas para empresas. Com peças a partir de R$2,00, elas confessam que não
é fácil viver somente com o lucro da arte popular. A aceitação das obras nas
grandes capitais brasileiras e até mesmo fora do Brasil costuma ser maior do que
a da própria cidade.

Elizabeth Silva de
Faria Machado, de 54 anos, mãe de três filhos, já fez cursos de padaria,
salgados e artesanato, mas afirma que sua atividade preferida é mesmo a criação
de figuras. “Preciso sustentar a minha casa e por isso tenho outras atividades,
mas não troco ser figureira por nada. Quero passar a vida toda fazendo isso que
pra mim é um dom de Deus.” Ao ser questionada sobre o que mais a marcou durante
os anos de profissão, Beth não pensa duas vezes e conta emocionada: “Uma vez um
homem comprou várias peças minhas e a mulher que estava junto me disse que ele
vinha de uma escola de fora do Brasil. Depois de um tempo, eu a encontrei de
novo e ela falou que a minha figura estava em um livro e que os alunos agora
estudavam para aprender como fazê-la. Aquilo me encheu de orgulho”.




