Maioridade Cinematográfica


Por Mateus Fernandes

Uma mulher caminha na rua Dr. Pedro Costa rumo ao centro da cidade de Taubaté. Em ritmo acelerado, provavelmente atrasada ela chega na travessa com a rua Coronel  Marcondes de Mattos. O trecho até aqui é comum, sem nenhum contratempo, ou surpresa. A menos que se possua uma olhar apurado. A mulher para em frente ao sinal de pedestres, quando seu olhar vira para a loja da direita. “Cine Start – Entrada ao lado” está escrito em letras garrafais nas diversas placas de um estabelecimento de cor verde aparentemente normal. Mas, uma risada discreta e um sorriso coberto pela mão surge quando o resto da placa é lido.

“Nunca interferiu em nada, só é meio indiscreto para o centro da cidade, né”, argumenta Ana Azarias, comerciante de 43 anos que possui uma loja na mesma rua do Cine Start, que fica a duas quadras da praça Dom Epaminondas, o principal centro comercial da cidade. O cinema não atrapalha nenhum outro comerciante da região. Nem mesmo a estranheza causada pelo movimento do público.“Se bem que hoje em dia tem liberdade para tudo”, finaliza Ana.

A entrada do cinema é guardada por um toldo que esconde a bilheteria, e a lona preta que dá acesso a sala do filme. A própria bilheteria possui um vidro muito escuro, azulado, que anulam qualquer identificação do bilheteiro. O sigilo é a chave para o sucesso do negócio. Mesmo em época de novas redes sociais, o cinema ainda conta com uma comunidade no Orkut. Com  33 membros, os tópicos de discussões do grupo circulam entre as sugestões de mudanças para o local, as avaliações das sessões e sobre o público que frequenta o cinema. Todos os comentários, inclusive as respostas da própria administração são feitos como usuários anônimos.

Dez reais é o preço do ingresso. O local conta com 40 lugares e 3 filmes estão em cartaz durante a semana. Os três são exibidos diariamente, sem intervalos. As sessões começam meio dia e terminam as 10 da noite, de segunda-feira a sábado. Domingos e feriados das 16h ás 22h. A permanência do cliente é ilimitada dentro das três exibições de filmes.

Murilo Lopes de 32 anos é bilheteiro do Cine Start, desde os dois anos em que o estabelecimento mudou para atual endereço (16-04-2010). “Nunca tive nenhum problema, ou ocorrência, sabe como é o pessoal é bem discreto”, classifica Murilo. O público do cinema gira em torno de homens de 30, 40 anos. “Por curiosidade aprece de vez em quando um pessoal de 18”. Mesmo contando com uma promoção nas quartas-feiras, em que homem acompanhado de mulher, só paga uma entrada “é muito difícil vir um casal”, frisa Murilo.

O folheto de divulgação do Cine Start detalha as vantagens da escolha do local. Vantagens como uma sala de vídeo com filmes variados de diferentes temas, ambiente com ar condicionado, cadeiras confortáveis, mega telão com som e imagem digital e banheiros masculino e feminino higienizados. Questionado sobre o que acontece além do fisiológico nos banheiros, Murilo desconversa. Mas o que mais chama atenção no folheto é a parceria com posto de saúde para distribuição gratuita de preservativos.

Todos os cartazes localizados na parte superior da fachada do cinema estão raspados, quase indecifráveis para qualquer olhar apurado. Só se identifica o local pelas pequenas placas colocadas onde as portas de aço estão fechadas. O sigilo é a marca do cinema,   se nota pelo logotipo do Cine Start. Um rolo de filme comum e normal que não permite nenhuma outra interpretação. Ou mesmo seu tom esverdeado, muito claro que não deixa  nenhuma impressão, se não a de uma loja qualquer. Mas o riso discreto só aparece quando se termina de ler as placas do cinema. “Exibição de filmes pornográficos”.