Inglês, por favor


Por Guilherme Vasco

Cadeiras acolchoadas, sala escura, pessoas atentas olhando para a tela. Luke Skywalker se encolhe enquanto o temido Darth Vader avança para ele. Os dois conversam sobre o destino do desconhecido pai de Luke, Darth Vader se aproxima e fala com austeridade uma das frases mais famosas do cinema: “Não, Luke. Eu sou seu pai.”. Com sotaque tupiniquim. O filme é dublado.

Basta um olhar na programação do cinema para confirmar: É cada vez mais difícil encontrar uma sessão que disponha do áudio original e da tradução em texto na parte debaixo da tela. Nas duas últimas semanas, havia uma única sessão com o filme legendado no cinema de Taubaté. Nas duas semanas era o mesmo filme. Mas o que tem feito aparecer tantos filmes dublados recentemente?

“Isso acontece porque com a internet, os DVDs e a pirataria, a indústria do cinema entrou numa crise financeira pela falta de público.” Explica Guilherme Bakunin, graduando em Cinema pela Universidade Federal de Minas Gerais. “Por isso, os estúdios tem apelado para filmes voltados para o público infanto-juvenil, que por terem aceitação mais universal, podem garantir o retorno econômico.” Completa.

A impressão que os cinemas dão é de que aumentou a quantidade de dublagem. O que não é verdade. O que acontece é que como explica Bakunin, a 75% dos filmes produzidos tem sido voltados para o público entre 12 e 25 anos. Filmes estes, que já seriam dublados de qualquer jeito. Pelo medo de não conseguir o retorno econômico esperado, os estúdios tem apelado para a produção de filmes do tipo, que possuem uma garantia maior de não ter prejuízo. Em contrapartida, filmes de temática adulta, ou com foco num grupo específico tem deixado de ser produzidos.

Bakunin também aponta outras práticas que Hollywood tem adotado para combater a crise de público. “A nostalgia vista na última premiação do Oscar, por exemplo, foi uma tentativa de convencer a população de que a experiência cinematográfica é incomparável, emocionalmente superior a qualquer outra forma de exibição”. Detalha “Ao lançar filmes que falam eloqüentemente a respeito da experiência de se ir ao cinema - como por exemplo Hugo Cabret ou O Artista - os estúdios esperam incentivar a ida do público às salas de exibição, afim de aproveitar ao máximo o espetáculo.”Finaliza Bakunin.

Outro recurso usado pelos estúdios para combater a evasão do público das salas de cinema é a produção de filmes em 3D. Muitos filmes tem se pagado graças aos preços mais altos das exibições tridimensionais. 

Mas a alternativa seria apelar para mais efeitos especiais? Os filmes mais elogiados nos últimos anos fora do circuito hollywoodiano não tem sido grandes blockbusters repletos de efeitos. Dois dos maiores sucessos de bilheteria dos últimos anos, O Cavaleiro das Sombras e A Origem, ambos dirigidos por Cristopher Nolan, mostraram que o público, quase sempre, comparece em peso quando o filme possui algo a mais. Nos dois casos os filmes superaram as expectativas e foram considerados sucesso de crítica e público por serem instigantes e terem idéias minimamente originais.

Mas não existe solução para combater a crise cinematográfica? “Com certeza. Existem produtores que têm se especializado em trabalhar com baixos orçamentos, cortando toda especie de gastos superfluos e dispensáveis durante a produçao dos seus filmes.” Responde Bakunin. A Árvore da Vida, dirigida por Terrence Mallick, por exemplo, teve custo de produção de 32 milhões de dólares e arrecadou 54 milhões e recebeu a prestigiada Palma de Ouro.

De volta para a sala, Darth Vader acabou de contar a verdade para Luke sobre o destino de seu pai. Luke está em choque. O silêncio reina na sala depois da revelação de Vader, até que Luke, desesperado, grita a plenos pulmões: “Nããããão!”. A platéia também. Mas o grito dela é pelo fim da crise do cinema americano. E para que Hollywood volte a fazer filmes inovadores como Star Wars, sem apelar para dublagens para vender.