Os fantamas dos bares

Por Sarah Molica

     Fim de semana passado fui a um barzinho na Avenida Itália, em Taubaté, com os meus amigos. A ideia de ir ao barzinho é de conversar e beber com os amigos, ter um happy hour depois da semana cheia de preocupações com estudos e o emprego.
     Eu estava conversando quando, de repente, eu percebi que havia uma música tocando. Em meio a todo aquele falatório ensurdecedor de pessoas conversando, rindo, havia música. Ele estava lá, sentado num banquinho, agarrado ao violão, fazendo o que foi contratado pra fazer: música. No seu cantinho reservado, ele tocava uma MPB sem ser percebido. Será que as outras pessoas não notam mesmo a sua presença lá? Ele parecia não se importar. Pelo seu jeito de agir, parecia ser veterano nesse ramo já. Portanto acredito que ele não estava se importando. No começo, talvez ele se incomodasse. Ou talvez não. Talvez quisesse mostrar e gostasse do seu dom musical, mas se sentisse intimidado ao ver muitas pessoas o olhando e encontrou, nos barzinhos, a sua solução, fazer o que amava e se sentindo à vontade. Ele cantava bem, dava pra ver que fazia com gosto. Mas ninguém dava valor ao seu dom. Ao final das músicas tomava um pouco de água e continuava, sem aplausos.
     A partir desse dia, todas as vezes que fui a barzinhos, destinava parte do meu tempo para observar como era o cantor e como o público presente reagia. Por mais banal que pareça, na verdade não é. Cada cantor tem seu jeito de agir. Todos vão com o mesmo propósito e as pessoas tendem a generalizar, mas eles não são todos iguais. Assim como um engenheiro é diferente do outro, mesmo que trabalhe na mesma área. Uns são mais animados do que outros. Alguns conseguem atrair a atenção do público que participa cantando e aplaudindo. As vezes depende da seleção de músicas do cantor, que se toca músicas bastante conhecidas ou que estão entre as mais ouvidas, conquista o público que, entre uma conversa e outra, se vê cantando uma parte da música. Em geral, eles tocam o mesmo estilo de música: MPB, pop, às vezes sertanejo, mas não variam muito. Sempre acústicos. Não é a toa que há quem chame de “música de barzinho”. Mas se você parar pra pensar, cai muito bem esse tipo de música, porque a intenção de ir ao barzinho é para conversar e, seria bastante difícil manter uma conversa ao som de um rock’n’roll, por exemplo. Se houvesse guitarras e bateria, então o público estaria lá por causa da música e nesse caso sempre há um lugar mais reservado para quem quer conversar. E seria um show específico, não um barzinho.
     A verdade é que cantores de barzinhos são necessários, porque seria muito sem graça ficar num barzinho sem música, só com o falatório das pessoas. A música tende a amenizar o ruído causado pelas conversas e, quando você para de falar para ouvir o ambiente, não fica perturbado pelas vozes vindas de todos os lados, porque o que você presta atenção é na música. Portanto seja notada ou não, a música dos barzinhos é importante.