Por Gabriella Costa
A recente divulgação feita pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) do aumento substantivo (39,3%) de jovens entre 16 e 17 anos que tiraram título de eleitor nos últimos quatro anos e pretendem votar nas próximas eleições surpreendeu muitas pessoas. A surpresa de grupos da sociedade brasileira faz pensar sobre as idéias de apatia, individualismo e indiferença que continuam associadas à juventude brasileira. O que se verifica na prática é que jovens estão buscando formas de participação e intervenção na esfera pública, na vida social em que se encontram inseridos e que lhes diz respeito.
As evidências trazidas pelo TSE apenas corroboram dados divulgados nos últimos anos por pesquisas de grande abrangência que buscaram escutar a juventude, considerando sua diversidade, suas demandas e desejos. Pesquisa divulgada recentemente pela Unesco e pela OEI – Organização dos Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (“Juventude, juventudes: o que a une e o que a separa”, 2006), por exemplo, revela que 68,8% dos jovens de 15 a 29 anos pesquisados disseram acreditar que o voto pode mudar a situação do país e 66,6% afirmaram não ter motivos para não votar nas eleições.
A partir desses e de muitos outros dados quantitativos é possível afirmar que os jovens pesquisados continuam acreditando na política como meio privilegiado para transformar positivamente sua realidade.
Isso não significa que tenham postura crédula em relação a políticos. Ao contrário, os mesmos jovens que acreditam na importância do diálogo entre cidadãos e governo, acreditam que a maioria dos políticos não representa os interesses da população (78,8%). Mais uma vez, ao contrário do senso comum, o descrédito na maioria daqueles que os representa não significa descrédito na política como forma de acessar e garantir direitos à educação, ao trabalho, à cultura e ao lazer.
O levantamento também apontou que eles não se vêem, obrigatoriamente, participando diretamente de espaços institucionalizados, como partidos, sindicatos etc. Eles não se sentem aptos a participar de determinados espaços de participação, ao mesmo tempo em que não enxergam esses espaços como lugares preparados para receber jovens que fogem a um modelo específico.
Certamente, ainda há muito a ser feito se o objetivo de nossa sociedade é restabelecer a base de confiança entre jovens e política. A juventude pede representantes mais honestos, responsáveis, que dêem a devida atenção a jovens e ao povo e que, sobretudo, busquem a renovação das formas de fazer política.
O que os dados mais recentes do TSE revelam é que a juventude brasileira acha que o voto tem lugar central para que essas mudanças aconteçam. Os jovens brasileiros ainda vêem no voto uma forma legítima e possível de renovação de quem os representa.