Nome do PT e apostando em Lula, coronel Paulo Ribeiro foca em propostas para saúde e segurança

Militar da reserva aposta na figura do presidente Lula mas entra na disputa para a prefeitura com desafio: tentar a primeira vitória do PT em Taubaté

Por Amanda Ávila e Laura Liberato 

O candidato do PT à prefeitura de Taubaté, Coronel Paulo Ribeiro (Foto: Caíque Toledo)

Candidato do PT à prefeitura de Taubaté, Coronel Paulo Ribeiro busca o que seria uma vitória inédita do partido no município. Militar da reserva, ele acredita conseguir convencer a população com um plano de governo elaborado com ênfase na saúde, na segurança pública e na mobilidade urbana

Paulo critica a gestão atual do governo José Saud (PP) por “falta de pulso para administrar a cidade” e salienta a importância de uma futura administração participativa, em que a população terá um papel ativo na decisão dos projetos e das prioridades do município.

O candidato menciona, ainda, a necessidade de projetos bem fundamentados para captar recursos do Governo Federal, reforçando a conexão com o governo do presidente Lula (PT). “Nós vamos trabalhar com o que é melhor para Taubaté, independente de lado. Eu vou me espelhar no presidente Lula, conversar com todo mundo e buscar satisfazer o bem comum e o desenvolvimento da cidade.”

O desafio, porém, será grande: Taubaté é uma cidade tradicionalmente conservadora, nunca antes governada pelo PT, e o candidato apareceu com 3% das intenções de voto em pesquisa do IPEC (Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica), contratada pela TV Vanguarda e divulgada em setembro, atrás de seus adversários. A pesquisa foi registrada na Justiça Eleitoral sob NºSP-07559/2024 e divulgada depois das respostas desta entrevista.


Saúde pública

Na entrevista à Agência JO Digital, da Unitau (Universidade de Taubaté), o coronel destaca as necessidades do HMUT (Hospital Municipal de Taubaté), que atingiu uma situação financeira problemática no ano de 2023, quando suspendeu todos os atendimentos ambulatoriais, devido a atrasos nos repasses feitos pela prefeitura, segundo a SPDM (Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina).

A proposta do candidato é redefinir o papel da instituição, transferir as três especialidades médicas mais caras do Hospital (Oncologia, Ortopedia e Audiologia) para o Estado e priorizar o atendimento básico.  “A médio prazo, nós vamos sanear [as necessidades do HMUT]. Uma vez solucionadas, vamos ampliar as instalações a longo prazo, com o objetivo de aumentar a capacidade de atendimento e voltar a oferecer essas especialidades. Dessa forma, os alunos de Medicina poderão continuar com seus estágios e suas residências médicas.”

Segurança pública e Mobilidade Urbana

O militar também se preocupa com a segurança do município, tendo em vista que, no ano de 2023, Taubaté totalizou 3.030 furtos e 1.058 casos de lesão corporal dolosa, segundo dados oficiais do governo do estado de São Paulo. Tendo esses dados em vista, o Coronel Paulo pretende criar a Força Tarefa e Inteligência para mapear os delitos na cidade.

“O crime se espalha, se especializa e se torna mais violento, mais agressivo e as forças policiais ficaram [para trás]. [...] Nós precisamos ocupar o território com as forças policiais. Isso é ostensividade.”

Em seu plano de governo, Paulo planeja mapear e regular os polos geradores de tráfego lento e buscar alternativas para garantir a fluidez do trânsito. O político ressaltou, também, a importância que Renata Outubo, sua candidata à vice-prefeita, tem na chapa. De acordo com o coronel, a arquiteta tem as características necessárias para assumir o cargo e solucionar as demandas atuais da comunidade. 

“Taubaté é uma cidade que tem um traçado antigo e hoje a mobilidade está muito complicada. A cidade possui, aproximadamente, 250 mil veículos e 135 mil domicílios. E vai chegar um momento em que a cidade não vai ‘andar’ se nós não definirmos corredores de tráfego. Ela [Renata], enquanto urbanista, vai ter que desenhar um plano viário da cidade.”


Essa é a quarta eleição de Paulo Ribeiro, que, em 2022, foi candidato à vice na chapa de Loreny (Solidariedade), hoje adversária política.


Paulo Ribeiro quer usar experiência como militar para governar Taubaté (Foto: Divulgação)

Confira a transcrição completa da entrevista exclusiva com Coronel Paulo Ribeiro:


  1. Quais são suas prioridades no plano de governo? 

É importante contextualizar, certo? Nós temos que priorizar aquilo que afeta o maior número de pessoas. Você vai ver que há candidatos que falam: ah, é a saúde, ah, é a educação, ah, é o emprego. Está bem. Se você está empregada, a falta de emprego te atinge? Não. Se você tem um plano de saúde top, o problema do HMUT te atinge? Não. Mas, se você mora em um condomínio de luxo, que não é atingido por esses problemas, a violência atinge você. Então, a falta de segurança atinge todo mundo. É aí que nós definimos o que é a prioridade.

Porque, se eu for, a minha prioridade vai ser zerar a fila da creche. São 600 famílias. Num universo de 320 mil pessoas. Então, é como se eu priorizasse, no meu governo, por exemplo, os motoristas de aplicativos. Por que eu quero priorizar a segurança? Porque, a partir dela, é possível estabelecer os outros serviços. Para vocês entenderem, a África tem dezenas de países. Só existem três países na África que matam mais que Taubaté: África do Sul, Lesoto e Namíbia. Taubaté tem uma taxa de homicídios quatro vezes maior que a da capital de São Paulo.

Contamos homicídios por grupo de 100 mil. O Atlas da Violência, agora, de 2022, que foi o último, mostra que Taubaté tem uma taxa de 17 homicídios por grupo de 100 mil. A capital está com 4. Certo? Estamos falando em valores relativos e não absolutos. Está bem? A capital mata 1.500 pessoas. Taubaté matou 53. E por quê? Porque não existe serviço público que suporte uma situação de insegurança como temos na cidade. Se você tem uma cidade violenta, os equipamentos públicos de saúde ficam sobrecarregados: gente esfaqueada, gente ferida a tiro, gente atropelada, etc. A educação também vai fracassar, porque você vai ter evasão escolar e invasão escolar, com pessoas entrando lá para se vingar ou vender drogas. O emprego. Você pode ter um emprego maravilhoso, mas se a cidade está dominada pelo crime, qual é a garantia que você tem de fazer suas compras? Então, precisamos estabelecer um clima de segurança na cidade, para que as pessoas possam viver, passear, trabalhar e praticar esportes.

A primeira coisa que nós temos que fazer, respondendo claramente à pergunta de vocês: qual é a sua prioridade? Tirar Taubaté do mapa da violência. E, a partir daí, possibilitar a eficiência dos outros serviços públicos, como saúde, educação e emprego. Essa é a lógica. Aí vocês podem me perguntar: mas por que os outros candidatos não falam dessa forma? Porque eles não têm conhecimento, não sabem o que fazer. Porque tudo que eles fizeram até hoje deu nisso.

Até abril, eu era Corregedor-Geral da Guarda Municipal de Diadema. Diadema, há mais de 20 anos, é administrada pelo PT. Em 2001... De 2001 a 2022, o número de homicídios. Em 2001, Diadema tinha 237 homicídios por ano. Taubaté tinha 40. Diadema foi diminuindo, diminuindo, numa curva espantosa. Quando chega em 2022, Diadema só tem 22 homicídios e Taubaté, 38. Taubaté permanece do mesmo jeito. E quais foram as medidas que foram tomadas em Diadema, que é um exemplo? Foram analisando caso a caso: como foi o homicídio dessa pessoa? Ele estava em tal lugar, assim assado. E esse, assim assado.

É bom que vocês anotem que uma das principais ferramentas que eu vou usar se chama "prevenção primária da violência". E o que é a prevenção primária? Vocês se lembram quando entramos na pandemia de Covid? Qual era uma das coisas que tínhamos que fazer? Evitar aglomerações, usar máscara. Isso é prevenção primária da saúde, que é um conceito que emprestamos da saúde. Se uma rua está com as luzes apagadas, isso não pode incentivar a violência? O que a gente faz? Não é coisa de polícia. É coisa do município. É aí que entra o papel do município na segurança pública.

O que vocês vão observar é que os candidatos, os outros cinco, dizem que segurança pública é a função do Estado. E que o município não tem nada a ver. Tem sim, porque é o município que cuida da zeladoria. Se você tem um beco, uma avenida, e essa avenida tem muito buraco, você tem que passar devagar no carro. Quando você passa devagar no carro, com esse tanto de gente na rua, você pode se tornar uma presa fácil. O que o município tem que fazer? Asfalta-se a rua e os carros fluem. Isso é prevenção primária contra a violência. Essa é a principal ferramenta que nós vamos usar.

Os três pontos dentro da segurança pública serão: a inteligência policial — e o que é inteligência policial? São ações de levantamento e análise de dados. O segundo ponto é a tecnologia. Tecnologia por meio de câmeras, sensoriamento remoto, à distância. E o terceiro, ação de presença das forças policiais.

Por exemplo, quando eu gravei um vídeo ali embaixo do viaduto da Vila das Graças — não sei se vocês conhecem — ali embaixo está havendo muita dificuldade. As pessoas passam à noite. Também gravei lá no viaduto da Charles Schneider, onde as alunas da Anhanguera passam à noite. Exemplo de inteligência: levantamos que há muitas pessoas sendo vítimas de roubo no viaduto da Vila das Graças. Entramos com a tecnologia, colocamos uma câmera ali 24 horas por dia, monitorando. Terceiro, ação de presença. Qual é o horário de maior incidência? Das 19h às 23h. Ali, colocamos uma viatura por somente quatro horas. Isso é otimizar os recursos.

Esse é o cenário de Taubaté. Ao contrário da minha posição, os atuais governos, tanto estaduais quanto municipais e em todas as cidades, preferem uma forma de segurança pública que é o enfrentamento. Que é prender, que é matar, e isso não está resolvendo. O que nós temos que fazer? Optar pelo enfrentamento é como tentar curar uma infecção de garganta com um antitérmico, sem tratar a causa. Uma das principais causas da violência é uma questão social, não policial. E é por isso que vamos implementar medidas para excluir esses fatores que conduzem à violência.

Claro que um ladrão de banco ou um membro de facção não é problema social. Esse é problema da polícia e de cadeia. Teremos nossa força policial bem treinada e preparada para enfrentar a criminalidade. E não uma força policial que agride moradores de rua, que chega na Esplanada Santa Terezinha ou no Mourisco e bate nas crianças na rua. Isso não queremos. Então, esse é o cenário que desenhei para vocês: vamos humanizar a segurança pública em Taubaté.



  1. Qual sua avaliação sobre a atual gestão da prefeitura e o atual cenário da cidade?

Bom, na eleição passada, eu fui vice e nós fomos para o segundo turno. Mas, como a cidade de Taubaté rejeita algumas situações determinadas, acabou escolhendo outro candidato. Já sabíamos, no entanto, que não iria muito longe, está bem? Faltou pulso para administrar a cidade, apesar de ter vindo de uma administração catastrófica que deixou a cidade no estado em que se encontra. Mas ele é o responsável pela tragédia que Taubaté vive hoje. Porque o problema não é meu até que eu tome conhecimento. A partir do momento que ele recebeu a cidade desse jeito, ele assumiu a inteira responsabilidade. Ele não podia mais dizer: "Olha, não é culpa minha". A responsabilidade é dele, porque ele assumiu.

E o cenário é um cenário que nós nunca tínhamos visto antes na cidade. Mas é possível resgatar tudo isso, sem discurso fácil, mas com muita dificuldade. E aí nós temos uma vantagem. Por exemplo, nós somos a única candidatura que dialoga diretamente com o governo federal do presidente Lula. Nós somos do mesmo partido. E há uma coisa que as pessoas não sabem: existe dinheiro, o que falta são projetos, projetos fundamentados. Por exemplo, nós temos 5.570 municípios no Brasil. O governo federal estabeleceu agora o novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Desses 5.570 municípios, somente 703 foram agraciados com verbas. E por que só 703? Porque apenas 703 apresentaram projetos que foram validados, e o município de Taubaté provavelmente não apresentou nenhum.

Hoje, o PAC tem apenas duas obras em Taubaté: uma UBS e uma creche em construção. Mas por que isso? Porque não estão lançando projetos. O governo federal faz de tudo para incentivar os municípios, porque é no município que o cidadão mora, é o município que tem território, e a cidade tem solução. Desde que se queira resolver o problema. E isso é fundamental, porque eu vou falar da diferença entre o meu projeto e o outro. Enquanto eles pensam nas empresas, nos patrões, nós vamos pensar na população. Vamos priorizar a população, vamos incluir o povo na administração do município para administrarmos juntos, e não eu, como administrador, dizendo o que o povo precisa. O povo é que vai dizer o que quer. Além do orçamento participativo, queremos uma administração participativa, reforçando os conselhos.

Dentro da administração municipal, vamos criar uma nova figura chamada "Gabinete dos Conselhos", e ali, periodicamente, o chefe do Executivo, junto com seu secretariado, vai se reunir com os conselhos da cidade, como o Conselho Municipal da Cultura, o Conselho Municipal de Turismo, e outros. Ainda precisamos regulamentar ou criar o Conselho Municipal da Mulher e o Conselho Municipal de Igualdade Racial, que está parado na Câmara, além de outras iniciativas necessárias para termos uma administração participativa. Um exemplo é o Conselho Municipal das Pessoas em Situação de Rua, que é fundamental para nós. São seres humanos, e isso é um problema social.

Hoje à noite, tenho uma entrevista numa live para falar sobre isso. Precisamos tratar essas questões. Quando se lida com uma questão social, seja qual for, o último recurso de um administrador deve ser a força policial. Esse é o último recurso. E hoje, o que vemos em administrações que não funcionam? O primeiro recurso é colocar a polícia para bater nessas pessoas. Essa é a situação.

Fazendo uma pausa, quero comentar algo. Certo dia, um pesquisador da OSPF fez um estudo estabelecendo uma relação entre o jornalista jovem e o policial jovem. Ele percebeu que ambos tinham vontade de mudar o mundo, certo? Quando você entra no jornalismo, faz praticamente um juramento, um compromisso com a verdade. E nós temos esse compromisso com os bons policiais e com os bons jornalistas. Mesmo os iniciantes, os focas, têm esse compromisso com a verdade. Embora não exista imprensa totalmente livre, toda imprensa tem um lado, uma tendência. Às vezes, um órgão consegue ser mais equilibrado. Por exemplo, a Folha de S. Paulo e o Estado de S. Paulo não são descarados, mas a Folha tem uma tendência assim, o Estado de outra forma. O que queremos é tratar as pessoas como pessoas.


  1. Como foi o processo de escolha do vice? 

Bom, todos nós somos produtos de uma mulher, certo? Não existe ninguém que seja "filho de chocadeira". E nós temos 53% da população composta por mulheres, então era necessário que tivéssemos uma mulher como vice, certo? Já que não tínhamos uma mulher como candidata principal, como cabeça de chapa, buscamos dentro da federação o Partido Verde, que indicaria uma mulher. E, dentro da pesquisa, encontramos a companheira Renata, que é arquiteta, urbanista e ambientalista. Três requisitos fundamentais nesse momento em que Taubaté se encontra.

A Renata participou da restauração daquele pedaço da estação ferroviária em frente à rodoviária velha, que foi recentemente inaugurado. Nós temos um conjunto arquitetônico na cidade com prédios de quase 200 anos que precisam de cuidados, muitos deles tombados, mas a Prefeitura precisa de alguém para acompanhar essas questões. Além disso, ela é urbanista. Taubaté é uma cidade com um traçado antigo e, hoje, a mobilidade está muito complicada. A cidade possui aproximadamente 250 mil veículos e 135 mil domicílios, ou seja, dois veículos por domicílio. Chegará o momento em que a cidade não vai mais andar se não definirmos corredores viários. Essa será uma missão dela: como urbanista, ela terá que desenhar um plano viário para a cidade.

Quanto à sua formação como ambientalista, dispensa comentários sobre a importância disso. Taubaté está passando por uma crise, principalmente relacionada à drenagem e impermeabilização do solo. Quando o ex-prefeito fez o empréstimo de 60 milhões de dólares da Corporação Andina de Fomento (CAF), em 2017, ele afirmou que em dois anos, até 2019, não haveria mais enchentes em Taubaté. Mas, até hoje, não se sabe para onde foi esse dinheiro. E o que fazem para iludir o povo? Constroem piscinões. Isso não resolve, porque a água não tem escoamento adequado.

Construíram um piscinão ali no Terra Nova, que é um problema, não resolve nada. Por que sou contra os piscinões? Porque precisamos aumentar a capacidade de escoamento da água. Taubaté é toda cortada por rios. Quando você pega a Desembargadora, aquela rua que passa pelo mercado, aquilo é um rio. Quando você pega a Avenida do Povo, ali também é um rio. E, aqui embaixo, não sei se vocês conhecem esse lado, a Moacyr Freire. Pegou aquele viaduto que sai na Jacques Félix? Pois bem, toda aquela avenida também é um rio que vem lá da Estiva. É tudo rio.

E o que fizeram na cidade? Canalizaram com capacidade reduzida. Temos ali galerias de 1,80 m por 2 m ou 3 m por 2 m, que não suportam o volume de água. Sem contar o material utilizado, mas isso é outra questão. E o que precisamos fazer? Precisamos revisar toda essa estrutura de canalização. Onde for possível, vamos descanalizar e reconstruir a vegetação ciliar, como existe ao longo da via da Timbó, nos lados do Parque Pêra do Porto. O rio corre a céu aberto, com canalização, porque nada impede que daqui a 100 anos tenhamos tecnologia para despoluir esses rios e, quem sabe, eles voltem a ter vida.

A Renata foi escolhida por essas três características fundamentais, além de ser mulher. Precisamos dessa participação feminina na sociedade, e é um compromisso que eu assumo: pelo menos metade do meu secretariado será composto por mulheres.


  1. A saúde é uma das maiores necessidades da população e em Taubaté há questões a serem resolvidas também no HMUT, por exemplo. Quais são as prioridades do seu plano de governo para essa área? 

É fundamental que o município tenha um hospital. Por que é fundamental? Porque, anteriormente, aquilo lá se chamava hospital-escola, que servia de suporte para a faculdade de medicina da Unitau. Ótimo. Houve algumas decisões que, acertadas ou não, nos colocaram nessa situação em que estamos hoje. Só que manter um hospital é muito caro. O município manter um hospital é muito caro. E construir um novo hospital, como alguns candidatos estão dizendo por aí, é mais caro ainda.

O Hospital Municipal Universitário de Taubaté (HMUT) é um hospital de referência que, ao receber recursos do SUS, atende todos os brasileiros. Essa lenda de que vamos ter um hospital apenas para o povo de Taubaté é mentira. Não existe isso. O recurso que entra é do povo brasileiro, ou de quem se encontra em solo brasileiro. No entanto, existem três especialidades no HMUT que são muito caras: oncologia, ortopedia (com órteses e próteses) e a área auditiva. Um aparelho auditivo, hoje, para começar, custa 20 mil reais. Fica difícil para o município suportar esses custos. Uma cirurgia de coluna, só de material, pode custar cerca de 80 mil reais. E na oncologia, há remédios em que uma caixa com 10 comprimidos pode custar 350 mil reais.

Qual é a proposta dentro do meu programa de governo? Vamos redefinir o papel do hospital. Essas três especialidades, que são caras, nós vamos passar para o estado, para o hospital regional. O HMUT vai ficar praticamente com a atenção básica. Feito isso, vamos sanear o hospital a médio prazo. E, a longo prazo, após sanearmos as finanças, vamos ampliar as instalações para aumentar a capacidade de atendimento e trazer de volta essas especialidades, permitindo que os alunos da faculdade de medicina possam continuar com seus estágios e residências. Além disso, vamos ampliar o leque de instituições hospitalares para que eles possam realizar suas residências e estágios.

A Unitau é um patrimônio da nossa cidade, e temos que garantir as condições para formar os melhores profissionais aqui. Com o HMUT na cidade, vamos buscar recursos por meio de parcerias com o governo estadual e o governo federal para aumentar os repasses. Por exemplo, só no ano passado, o governo federal aumentou o teto MAC e repassou 46 milhões diretamente para o hospital municipal. O que é o teto MAC? É a verba destinada aos procedimentos de média e alta complexidade. Nós vamos buscar parcerias para aumentar esses repasses.

Hoje, o governo federal repassa cerca de 600 milhões por ano para a saúde no município. O endereço é Avenida Tiradentes, número 520. Todo esse dinheiro é destinado à saúde. O que precisamos fazer? Projetos para aumentar essa capacidade. Por exemplo, estou falando de saúde. O que o governo repassa ao município está disponível nos sites oficiais. Sobre o HMUT, minha proposta é essa: mantemos o hospital no município, retiramos as três especialidades que mais consomem dinheiro e, a médio prazo, saneamos as finanças. A longo prazo, ampliamos as instalações para aumentar a capacidade de atendimento e, assim, retornamos com essas especialidades.

Além disso, falando ainda de saúde, recentemente passamos por uma crise de dengue que vitimou mais de 30 pessoas na cidade. Nós temos três tipos de profissionais: os agentes comunitários de saúde, os agentes de controle de endemias e os agentes de controle de vetores. O mais importante para essa questão é o agente de controle de endemias, que atua em situações como essa. Em uma cidade contaminada por uma endemia, a proporção recomendada é de um agente de controle de endemias para cada 800 domicílios. Com base nisso, Taubaté precisaria de 164 agentes de controle de endemias. Taubaté tem apenas 24.

O que a prefeitura fez? Juntou os agentes comunitários de saúde, os agentes de controle de vetores e os agentes de controle de endemias, totalizando 130 e poucos profissionais. Onde está o erro? Pela legislação, o agente comunitário de saúde, ao se deparar com um foco de endemia, deve chamar o agente de controle de endemias, ou seja, ele não é capaz de lidar com isso sozinho. Esse é um dos motivos pelos quais a cidade está desse jeito: o descaso com a saúde.

Basicamente, na saúde, é isso que temos. Há outras áreas que podemos discutir, mas há um ponto importante que vamos inserir no hospital municipal: a presença de doulas. Vocês sabem o que é uma doula? Sim, isso mesmo. Hoje, só tem doula quem pode pagar. Doula vem do grego e significa "mulher que serve", semelhante a uma parteira. Isso foi "gourmetizado". Sabemos da tal violência obstétrica, e quanto mais pobre a mulher, mais ela sofre. E quanto mais escura a pele dela, maior é essa violência. A doula é uma garantia de que essa mulher terá um parto humanizado.

Em contraponto, temos os cesaristas. Uma cesárea hoje custa muito mais que um parto normal. Vamos imaginar o seguinte: em um parto normal, o médico ganha "1". Em uma cesárea, ele ganha "35". Então, fica óbvio. E hoje o HMUT não aceita doulas, alegando falta de espaço, mesmo que a mãe pague. Mas isso cria um problema social: a mulher que tem dinheiro paga, enquanto a mulher pobre sofre, sem o tratamento adequado, como o uso de pilates e bola de exercícios.

Portanto, vamos inserir o acompanhamento de parturientes por meio de doulas, para humanizar o parto e combater a violência obstétrica. É assim que faremos uma administração humanizada.


  1. Como avalia a importância da Universidade de Taubaté para o desenvolvimento do município e qual o papel pretende que ela tenha em sua eventual gestão? 

Olha, as pessoas que mais dão valor ao ensino são aquelas que não foram alfabetizadas, né? Quando você pega o presidente Lula, ele sempre fala, né? Ele não foi alfabetizado na infância, ele fala "pobrema", ele fala "nós vai", essas coisas. Mas nenhum presidente na história, como ele gosta de dizer, "nunca antes nesse país", construiu tantas universidades ou institutos federais. Só neste ano serão construídos 100. E eu sempre dou o exemplo da minha mãe, né?

A minha mãe era uma mulher não alfabetizada. Como ela aprendeu? Ela trabalhava na casa das pessoas e via os filhos dos patrões fazendo lição, ficava muito atenta, ouvindo, e foi aprendendo a ler. Em determinado momento da vida, já em 1972, aos 48 anos, ela passou a ser professora do Movimento Brasileiro de Alfabetização, chamado Mobral, que foi um projeto do regime militar para combater o método de ensino de Paulo Freire. No Mobral, você aprendia a desenhar seu nome sem entender o conceito por trás da palavra, o que é o oposto do método de Paulo Freire.

Eu aprendi com a minha mãe a dar valor ao município. A Unitau é um patrimônio do município, e não podemos mexer nisso. Ela continuará sendo parte do município. Podemos até buscar a criação de uma universidade federal do Vale do Paraíba, com um campus em Taubaté, além de um instituto federal, mas a Unitau permanecerá no município. E vamos buscar apoio do governo federal para ajudar nas finanças da Unitau. Como?

Conversei com a reitora, professora doutora Nara, e a Unitau pode disponibilizar para o governo federal duas mil vagas em diversos cursos. Qual é a proposta? A Animes, que é a Associação Nacional das Instituições Municipais de Ensino Superior, tem propostas em todo o Brasil. E qual é a ideia? Já que a Unitau, por ser uma autarquia, não pode aderir ao ProUni, nós vamos apresentar uma proposta ao governo federal. No primeiro dia da minha administração, eu já vou levar isso diretamente ao presidente Lula: o governo federal, por meio de bolsas integrais, compraria duas mil vagas para alunos de baixa renda, em todos os cursos, inclusive medicina. Temos a capacidade de aumentar em 50% o número de vagas em medicina.

Isso vai ajudar nossa população de baixa renda, porque muitas pessoas terão acesso à faculdade. O governo federal vai injetar recursos, e a Unitau terá mais dinheiro entrando, além dos 6 mil alunos que já estão pagando atualmente. A Unitau tem cerca de 6 mil alunos, mais os de pós-graduação, EAD, e o colégio, que tem cerca de 600 alunos por ano. Esse é o projeto: a Unitau continua no município, trabalhando junto com o governo federal, disponibilizando duas mil vagas nos diversos cursos. O governo federal oferecerá bolsas integrais para alunos de baixa renda, melhorando a condição de vida dessas pessoas.

E isso será para o Brasil inteiro, gente. Onde entra recurso do governo federal, é para o Brasil todo. Não dá para fazer distinção, seccionar nada. Então, se o meu brasileiro do Espírito Santo ficar bem, se eu puder prover condições para que ele fique bem, o Brasil todo ficará bem. A Unitau fica.



  1. Taubaté é uma cidade tradicionalmente conservadora, com dificuldades de políticos de esquerda em vencerem eleições. Como o Sr pretende enfrentar esse desafio de tentar convencer a população ao que seria uma vitória inédita do PT no município? 

Nós estamos numa fase do Brasil em que naturalizamos os estereótipos, certo? E isso é uma evolução do que é cultural. Inicialmente, é algo cultural, mas depois avança, se naturaliza, se sedimenta, e acaba virando quase uma "cosmia pétrea", algo imutável. E como podemos vencer isso? Primeiro, com argumentos; segundo, com propostas sérias; e, terceiro, pela capacidade de convencimento.

O primeiro argumento é: "Vocês não podem me responsabilizar, porque nós nunca governamos Taubaté." Então, todos os problemas, ou até mesmo as desgraças que acontecem em Taubaté, não são culpa da esquerda. São culpa dessa burguesia, que eu nem digo conservadora, mas reacionária, que vem conduzindo os destinos da cidade. E o que eles fazem? Jogam a culpa em alguém para poderem permanecer no poder. Esta campanha vai deixar isso muito claro. Serão dois lados: de um lado, cinco candidatos que fazem parte do mesmo espectro; e, do outro lado, uma única candidatura que representa um processo de evolução da cidade.

Como posso explicar isso para vocês? Nem quero falar de direita e esquerda. Vamos falar de "empresarismo" e "humanismo". O grupo do lado de lá é representado pelos cinco, incluindo uma candidata que, apesar de dizer que é de esquerda — na verdade, ela nem diz mais isso —, tem como um dos principais coordenadores da campanha o presidente do sindicato dos empresários. Então, de um lado, teremos o empresarismo, que pensa no lucro; e, do outro lado, uma candidatura baseada no humanismo, que pensa no indivíduo, no ser humano, independentemente de sua classe social. Esse é o argumento.

Nossas propostas são voltadas para a sociedade, não para o lucro, especialmente para aqueles que estão mais desprotegidos socialmente. Quero que você escreva esta frase que vou dizer agora: "Não existe paz social enquanto não houver justiça social." E é apenas com o humanismo que conseguiremos alcançar essa tão sonhada justiça social.

Agora, por que eu aboli o conceito de paz social? Na época do regime militar, nós tínhamos sete objetivos nacionais permanentes: soberania nacional, integridade territorial, regime representativo e democrático, prosperidade nacional, paz social, harmonia entre os poderes. Você percebe que a paz social era um dos objetivos do regime militar. E numa guerra, como se consegue paz? Eliminando o inimigo. Isso não é saudável. A paz, em certas circunstâncias, apenas silencia, mas não elimina a capacidade de resistência dos povos. Por isso, vamos buscar a justiça social, e esse será o nosso argumento.

Com esses argumentos, vamos mostrar às pessoas que trazemos esperança. Ao contrário de um certo candidato que já foi prefeito várias vezes, ele deu uma entrevista dizendo: "Vamos devolver a esperança para Taubaté." E a pergunta que eu faço é: quem tirou a esperança de Taubaté? Se foi ele quem a levou, como é que ele vai devolver? Porque eu não fui o responsável. E essa pergunta eu vou fazer no debate: quem foi que levou a esperança de Taubaté, que agora você diz que vai devolver?

Vamos mostrar às pessoas que precisamos trabalhar com resultados. Discutir ideologia neste momento só vai beneficiar esse pessoal do empresarismo, que quer a cidade desse jeito porque, assim, eles lucram. Portanto, é assim que vamos conversar com as pessoas: sem ataques, apenas discutindo propostas. Tenho certeza de que, nessas 28 páginas aqui, estão todas as melhores e mais factíveis propostas para a cidade, e os outros não terão o mesmo. E que se preparem, porque no debate eu vou para cima.



  1. Caso eleito, como você avalia que será o diálogo com a Câmara, que historicamente tem vereadores mais alinhados à direita? 


É dessa forma que eu falei. Nós vamos ter que sentar e conversar. Eu preciso respeitar esses vereadores, porque eles representam uma parcela muito grande do eleitorado. Vou trabalhar com propósitos e com resultados. O que é bom para a cidade? Isso é o que importa. Agora, negociação de "toma lá, dá cá" não faz parte da minha natureza. Quem me conhece na minha atividade profissional sabe que eu nunca transigi quando se trata de valores e princípios morais. Então, vamos trabalhar pelo que é melhor para Taubaté, independentemente de lado. Vou me espelhar no presidente Lula, conversar com todos e buscar o bem comum e o desenvolvimento da cidade. Porque tudo o que fizeram até hoje só conduziu a cidade a uma piora de seu status.


  1. Na última eleição presidencial, o PT teve 33,76% dos votos válidos em Taubaté. Como pretende usar a imagem do presidente Lula? Há alguma tratativa para que ele venha até a cidade para participar da campanha? 

O presidente Lula está devendo... Há 12 anos ele está devendo uma visita a Taubaté. Eu estive em Brasília, lá com o presidente Lula. 

Lá, eu conversei com ele e, se não for no primeiro turno, com certeza no segundo ele virá. Porque ele é a pessoa que tem a chave do cofre, é o avalista dos empréstimos de Taubaté. Quando se fez o empréstimo, foi o governo federal que avalizou. Então, como ele tem a chave do cofre, vamos ter que conversar com ele para repactuar essas dívidas, de forma que possamos pagá-las sem comprometer a prestação de serviços do município.

Nós vamos explorar exatamente isso: o coronel Paulo Ribeiro é o candidato do presidente Lula em Taubaté. Sou o único candidato do campo progressista na cidade, preocupado com a justiça social. Estamos alinhados, e disso não podemos deixar dúvidas. Vamos fidelizar esses 33,79% da população. Se mantivermos esse apoio, se conseguirmos pelo menos 60% desse eleitorado de Lula em Taubaté, estaremos no segundo turno.

Ainda tem mais um detalhe: existem pessoas que não votaram no presidente Lula, mas que não são de extrema-direita. São pessoas dispostas a discutir propostas, e temos a intenção de convencê-las de que o nosso projeto, independentemente de ideologia, é o melhor para a cidade. Todos sabem o prejuízo de uma cidade violenta. As empresas não vêm para cá, não atraímos investimentos porque as empresas analisam o clima social da cidade. Essas pessoas vão ser convencidas de que sou a única pessoa capaz de tirar Taubaté do mapa da violência.



  1. O Sr é militar da reserva, e, em seu plano de governo, destaca necessidades para a segurança pública do município, como criar uma Força Tarefa de Inteligência. Em quatro anos subiram os números de furtos (2.143 em 2020 para 3.030 em 2023) e roubos (605 em 2020 a 747 em 2023) subiram em Taubaté, segundo a Secretaria de Segurança Pública. Pode detalhar um pouco mais suas propostas práticas para essa área?

Você precisa entender que esses números que estão aí foram registrados pelas pessoas. Porém, há quem não registre, por diversos motivos, incluindo a falta de confiança na segurança ou no projeto de segurança pública. Certamente, esses números são maiores, devido a um fenômeno chamado subnotificação. O delito de homicídio é difícil de prever. Se eu estou aqui e resolvo matar todo mundo nesta sala, eu mato, e o Estado não tem como prever isso. Mas, quando se começa a trabalhar com inteligência policial, mapeando os pontos dos delitos, você percebe, por exemplo, que na Rua Sacramento está aumentando o número de roubos às senhoras que vão retirar a aposentadoria. Isso é o serviço de inteligência, e, a partir daí, entra a ação de presença. Já sabemos mais ou menos o horário, levantamos as características dos suspeitos... Isso dá trabalho.

Uma força de segurança não pode simplesmente atuar de forma cartorial, apenas anotando: "Foram tantos, tantos roubos; este mês aumentou." Não. Precisamos trabalhar focados nessas áreas. Porque todos esses delitos têm algo em comum, seja nas características dos indivíduos, seja no modus operandi ou na área onde ocorrem. Ninguém está praticando roubo no meio da várzea do Quiririm, onde só tem arroz. Não, eles estão em locais específicos.

Temos outro problema também. Em 1996, a população de Taubaté era de 220 mil pessoas. Em 2024, são 320 mil. Vamos arredondar para cima: 320 mil. A população cresceu 50%. Nesses 20 anos, o efetivo da Polícia Militar do Batalhão de Taubaté caiu 32%. Nesse período, surgiram as facções do crime organizado. O crime se espalhou, se especializou e ficou mais agressivo, enquanto as forças policiais ficaram para trás.

O que o governo faz? Cria batalhões especializados. Por quê? Porque isso gera capital político. Quando se cria um BAEP (Batalhão de Ações Especiais de Polícia), é algo que chama atenção. Mas, como o nosso efetivo está diminuindo, a Polícia Militar, que na década de 90 tinha cerca de 95 mil policiais, hoje está com 71 mil. E como você cria um Batalhão Especializado sem ter novos policiais? Retira-se pessoal dos batalhões que atendem a população pelo 190. Assim, você vai diminuindo o efetivo, formando batalhões especializados, mas reduzindo a capacidade de ostensividade da tropa.

O que acontece? A ostensividade desaparece. A viatura que patrulhava o Jaraguá já não está lá, a que circulava perto do aeroporto sumiu. A falta de presença ostensiva aumenta os delitos, pois o que motiva o delinquente é a certeza de fuga. Se ele sabe que terá sucesso, ele age. É como quando sua mãe esconde um doce e você sabe que pode pegar sem que ela veja. Mas, se ela estiver olhando para você, você não pega. É isso que está acontecendo: o desaparecimento da ostensividade das forças policiais no município, o que resulta no aumento dos delitos.

Minha mãe costumava dizer: "Quando te chamarem e você não souber quem é, não responda." E a mesma lógica se aplica aqui. O que precisamos é do tripé: inteligência policial, tecnologia e ação de presença. Precisamos ocupar o território com as forças policiais. Isso é ostensividade.

Uma máxima que meus colegas comandantes da PM não gostam, mas que eu criei, é a seguinte: uma polícia ostensiva, tanto a PM quanto a Guarda Municipal, quanto mais prende, quanto mais mata, mais ineficiente é. Por quê? Porque ela deveria ser ostensiva. E se ela aparece, o crime não acontece. Se o crime acontece, é porque ela falhou em aparecer, tornando-se ineficiente. Precisamos ocupar os espaços.

De acordo com a Lei 13.022, o município de Taubaté pode ter mais de 900 guardas municipais. Hoje, temos 230. Uma das metas do meu mandato será mais que dobrar esse efetivo. Vamos abrir concurso para 300 guardas municipais, sendo 150 homens e 150 mulheres, com essa especificação no edital. E não haverá limites para essa proposta.


  1. O Sr é o único candidato autodeclarado preto na disputa pela prefeitura. Como enxerga essa questão? Chegou a encontrar resistências na carreira militar e política?

Eu vou dizer uma coisa para você. Acho que, no Brasil inteiro, pelo PT, eu acredito... Tive um encontro agora, nesta semana, em São Paulo, no Instituto Peregrino, que trata dessas questões, e acho que talvez eu seja, não o único, mas um dos poucos prefeitos pelo PT. Em Salvador, eu acho... Não sei… Não, em Salvador também não.

Vivemos em um país em que o Brasil cria figuras estruturais que não existem em lugar nenhum. Por exemplo, as maiores minorizadas: a mulher é maioria no Brasil, mas nós sempre nos referimos a ela como minoria. Os negros são muitos, mas também nos referimos a eles como minoria. Por quê? Porque isso é um processo muito complicado, muito profundo para a gente discutir, chamado colonização mental, certo? Um exemplo claro de colonização mental é tratarmos os Estados Unidos como "América", e nós não somos nada. Quer dizer, eles são os donos da Terra, e eu sou o quê? Eu sou americano! E todos nós sofremos, sofremos por vocês, certo?

Até mesmo os brasileiros de pele mais clara vão descobrir que não são brancos quando forem para fora, né? Quando forem para uma parte dos Estados Unidos, ou quando forem para Dresden, na Alemanha, que é o berço do neonazismo, tá? E, quando tomamos consciência dessa nossa situação, temos que levantar a cabeça e sermos melhores. Porque, se a gente empatar, a gente perde.

Na minha carreira, tive muitos problemas, certo? Tive problemas, mas a minha mãe me talhou para isso, certo? E, na profissão, não é diferente. A instituição é um produto da sociedade em que vivemos. O indivíduo policial é retirado dessa sociedade preconceituosa. Então, temos uma instituição em que os seus integrantes atuam dessa forma. Existem dois pensadores franceses, Gabriel Tarde e Gustave Le Bon, que, quando falam da psicologia das multidões, dizem que toda multidão tem uma alma. E a alma de uma multidão é a junção de tudo o que há de pior na alma de cada um dos seus indivíduos. E, se associarmos uma instituição policial a uma multidão, você verá que, apesar dos regulamentos e manuais, ela terá essa mácula, essa mancha da sociedade. E, em algum momento, isso vai escapar.

A ponto de eu ter um comandante, que era do meu pelotão, na Academia do Barro Branco, que disse que a Polícia Militar aborda de um jeito na periferia e de outro nos Jardins. É a maldita geografia social. Não podemos limitar as pessoas pelo ambiente em que vivem, moram ou nasceram. Porque não existe cidadão de primeira ou segunda categoria. Essa é a ideia. E não podemos tratar as pessoas pelas suas características. Temos que tratá-las, primeiro, pela visão social. E depois, eu acho que temos que dar um tratamento especial à questão do caráter, em primeiro lugar. Porque assim vamos descobrir que há muita gente rica que é mau-caráter e que precisa ser enquadrada pela lei.

Eu sou uma pessoa muito tranquila em relação à aplicação da lei. Uma vez, minha mãe, ainda em vida, falou: "Mas meu filho, e se eu fizer alguma coisa?". Eu respondi: "Mãe, eu não sei, gosto muito do seu pai". Nós não viemos para a política para fazer amigos. Na política, temos aliados e adversários; não temos amigos nem inimigos. Porque, quando você tem um amigo, você deixa de tomar uma decisão técnica para beneficiá-lo. Isso, não.

E sendo uma cidade, como todo o Brasil é... Afinal de contas, temos aqui a parte de Monteiro Lobato. Embora Monteiro Lobato tenha sido nacionalista, com o "O petróleo é nosso", ele era racialista, certo? E, apesar disso, ele retratava o momento. Mas, se pegarmos as cartas dele, vamos ver que ele falava exatamente disso. A Emília é o pensamento dele. Mas aquele conto "Negrinha", ali é o Monteiro Lobato tratando do momento em que vivia. E a negrinha, que já era filha de pessoas que trabalhavam na casa, era uma menininha que não tinha nome. O que ela mais gostava de um dos apelidos, um dos nomes que a dona da casa a chamava, era "bubônica". Ela gostava desse nome porque era suave, bonito.

E toda essa cultura foi avançando. Estamos aqui na cidade, vamos apresentar propostas de dignidade sem entrar nesse embate, nessa luta de classes. Isso não beneficia ninguém. O que temos que trabalhar é pela igualdade, tratar todo mundo igual. E, lógico, para aqueles que estão atrás na corrida social, vamos dar incentivos. Por exemplo, como o pé de meia principal para os alunos do ensino fundamental, como o governo federal criou o pé de meia para o ensino fundamental. Vamos destinar recursos para auxiliar no Bolsa Família. E qual o objetivo disso? Primeiro, complementar a renda; segundo, evitar a evasão escolar. Porque há muita criança que tem que sair da escola para ajudar na renda, certo?

Então, são coisas simples, gente. Dinheiro tem, só falta parar de gastar mal ou de desviar, certo? E vocês vão ver... Os candidatos apresentaram seus bens, não sei se vocês viram. Eu estava lá, 468 mil. Vi que meu patrimônio evoluiu, porque na última vez era 466 mil. É uma casa, uma casa de 450 mil, e um C3 que minha filha usa para dar aula em Santo Antônio, na Adventista, e na UNESP, em Guará. Ela é formada em Química pela USP, a mais velha. A Paula tem 35 anos e está fazendo... Ela é formada em Química. Eu falei: "Meu projeto está fazendo biodiesel com coroa de abacaxi para eu usar". E aí fiz aquilo lá, porque era aquilo mesmo.

Esse carro que eu estou andando é da minha companheira. O pessoal já foi dizendo: "Mais um carro de 18 mil". Eu falei: "Cara, esse é o preço de ser honesto". Aí errei, o carro não custa 18 mil, custa 20 mil. Mas tem uma variação de mínimo e máximo, então estou protegido.

Essa é uma prova de que, como diz Caetano Veloso: "Não me amarra dinheiro, não me apego a nada, eu gosto de ver a coisa acontecer". Então, não tenho dúvida. Agora mesmo, entrou uma agenda com o presidente da associação que representa as empresas de ônibus do Vale. Ele agendou comigo para discutir propostas. Eu já falei com o pessoal da coordenação da companhia: quero testemunhas comigo nessa reunião. Não quero conversa atravessada.

E vou falar uma coisa para vocês, que meu secretário vai ficar muito "pedavida". No meu gabinete e no dos secretários, vai ter uma câmera online com a população, 24 horas por dia. A população precisa saber quem é que o prefeito está recebendo na agenda, sim! E, quando eu for receber alguém lá, sempre vou ter alguém do meu lado como testemunha. Chega de encontros fora da agenda e agendas não republicanas.



  1. O Sr já foi candidato a vereador em Tremembé, candidato a vice-prefeito em Taubaté e candidato a deputado federal. Quais erros e acertos tira das demais campanhas para essa atual, e qual foi sua motivação para disputa da prefeitura em 2024? 

Lá em 2004 com uns colegas lá do partido MDB. Era meu vizinho, então, fomos lá. Vamos construir um processo. Tinha acabado de acontecer uma situação lá na cidade, a cassação do prefeito. A gente queria mudar, mas o projeto não deu certo.

Quando eu aposento, quando passo para a reserva, em 2014, eu vou embora para o Piauí. Vou lá, falei: "Me submeti a um autoexílio". Fiquei lá cinco anos para me desintoxicar dessa carapaça de autoridade que o Estado nos encomenda. Aí voltei. Voltei em 2019. E, quando foi no começo de 2020, eu recebo um convite do presidente do PSB. Ele disse: "Olha, vamos entrar. Vamos montar uma frente. Queremos você como vice. E dentro da composição aqui tem um partido no qual você pode entrar". Eu falei: "Ah, tá bom. Me põe aí. Gosto da bagunça". Aí entrei. Fomos para a disputa, né? E chegamos ao segundo turno. Certo? A candidata a prefeita tinha uma rejeição muito grande, e eu ajudei a diminuir um pouco essa rejeição. Mas foi um projeto no qual eu não participei. Eu era uma figura ali que nem no programa de governo eu participei, certo?

E a lição daquela candidatura de 2020 para cá foi que o meu programa de governo eu construí ouvindo todos os setores que tinham a ver com o tema: educação, ouvindo os professores; saúde, ouvindo o pessoal da saúde, tudo. Naquele lá, foi feito pela pessoa, e eu não fui ouvido em nenhum momento sobre nada, muito menos sobre segurança. Então, eu aprendi dessa lição que é preciso ouvir as pessoas.

Quando chegou em 2022, fui convidado de novo pelo Partido Socialista Brasileiro para ocupar o espaço numa candidatura para deputado federal. Aceitei. Até porque eu estava no PSOL, aí aceitei, mas qual foi o aprendizado? Que tem que estar tudo escrito, tudo amarrado, porque a campanha foi acontecendo sem recursos. Sem recurso, faltando 10 dias para a eleição, eles mandam o recurso, e aí, como diz o caipira, "a vaca já tinha deitado". E quem vive na roça sabe que um animal doente, depois que deita, não levanta mais, certo?

Quando chega agora, o presidente do partido me chama para uma ideia e pergunta se eu aceitaria ser candidato a vereador. Eu falei da dificuldade, porque eu não tinha base nenhuma na cidade, eu não tenho bairro, não tenho time de futebol. Eu tenho uma história. Aí ele pensou mais um pouco e falou: "E se for para prefeito, você toca?". Eu disse: "Vamos embora". Aí é outra história, é TV, é rádio, é um grupo de vereadores conduzindo a gente. Eu aceito. Então foi isso.

Tenho marcado na minha trajetória uma luta pela liberdade, pela democracia, pelo estado democrático de direito. Mesmo aposentado, em 2021, quando o Bolsonaro começou a ensaiar um golpe para o 7 de setembro, no dia 24 de agosto, eu liguei para um colega, dono de uma produtora que fez a nossa campanha de 2020. Falei: "Eduardo, preciso gravar um vídeo. Estou com o texto aqui, tem como?". Ele disse: "Ah, vem aqui". Gravei um vídeo de um minuto, chamando todos os policiais e militares do Brasil para não entrarem nisso, porque o objetivo do Bolsonaro era minar a base das polícias, estabelecer o caos, determinar uma GLO em São Paulo e, em cima disso, um estado de defesa. Aí suspenderia todos os direitos e garantias individuais. Mas isso seria por meio da base das polícias militares do Brasil.

Gravamos o vídeo, editamos, às 19h30, de dentro do meu carro, na frente da produtora, e eu soltei o vídeo. Quando deu 9 horas da noite, começo a receber notícias, mensagens: "Porra, legal, gostei", um cara do Amazonas, outro de Fortaleza, de Cuiabá... "Porra, que beleza!", presidente Prudente. Quando deu 22h30, um colega de Brasília falou: "Paulo, o teu vídeo chegou aqui em Brasília e já está no gabinete do Bolsonaro". Pronto, aí explodiu o Brasil inteiro.

No dia 25, eu começo a receber ligações, e a imprensa começa a me procurar. No dia 26, dou uma entrevista de uma página inteira para a Folha, e foi o assunto mais acessado no site. Participei de lives no 247, no Fórum, no DCM... Uma live no DCM tinha 4 mil pessoas assistindo. O meu país estava muito louco, estava todo mundo muito instável. Eu fui determinante nisso.

Por esse motivo, sou odiado pelo bolsonarismo e por parte das polícias militares, que são bolsonaristas. Nós temos focos de resistência lá dentro, mas estou tranquilo. Teve uma pessoa que disse: "Cara, se você estivesse do lado do Bolsonaro, teria sido eleito deputado federal". Eu falei: "Cara, eu não volto atrás com os meus alunos". É desse jeito que quero administrar: ser intransigente com valores, mas extremamente negociador com propostas que vão produzir resultados benéficos à população. É possível ser assim.

Mais uma vez, te falo: não me amarra dinheiro, não. Todo mundo tem um preço, só muda a moeda. A minha moeda não é bem material, certo? 



(*) Sob supervisão e edição do prof. es. Caíque Toledo