Batalhas da vida: encarando a falta de acessibilidade de perto

Família Campos sentiu as dificuldades da falta de acessibilidade após seu filho Gustavo perder os movimentos da perna.


Isabela Rodrigues

Semanas pós toda a família ser infectada pela covid-19, Gustavo Campos de apenas 8 anos começou a sentir fortes dores no abdômen. Após inúmeras idas ao hospital, nenhum diagnóstico preciso foi dado, pois os médicos diziam que deveria ser gases ou "dores de crescimento". No dia 19 de janeiro, Gustavo sentiu novamente as dores abdominais, mas dessa vez com um agravante, ele começou a perder a sensibilidade das pernas.

Gustavo foi internado na UTI do Hospital Regional de Taubaté, ficando lá por 6 dias sem nenhum diagnóstico preciso. Os médicos chegaram a suspeitar que o menino era portador de síndromes autoimunes raras, mas por não ter histórico na família, a hipótese foi descartada. Após tratamentos com aplicações na medula óssea, Gustavo apresentou melhoras e foi transferido para a enfermaria no dia 25 de janeiro.

Chegando na enfermaria, Gustavo ainda não conseguia movimentar as pernas e nem controlar suas necessidades fisiológicas, chegando a não sentir quando estava com fome ou sede. A partir daí começava a verdadeira batalha: recuperar o movimento das pernas. As fisioterapias começaram, além de uma bateria de exames que trouxeram o diagnóstico: uma mielite transversa, que consiste em uma inflamação na medula espinhal causa por uma infecção viral ou bacteriana, ao que tudo indica, causado pelo vírus da covid-19 que a família se contagiou semanas antes dos sintomas começarem. 

Após a alta do hospital, outro desafio se iniciou: como viver com uma criança cadeirante? O primeiro passo da família foi trocar de carro. "Nós tínhamos um Jeep Renegade que sempre foi uma carro que quisemos ter. Depois que o Gustavo voltou para casa, vendemos o carro e compramos um Chevrolet Spin, pois ele tem um porta malas mais espaçoso, então dava para levar a careira de rodas do Gu com mais facilidade", conta Elton Campos, pai do Gustavo.

Outro problema enfrentado foi quanto a casa. "Quando nós construímos a nossa casa, fizemos ela pequena já que somos só nós três. Quando aconteceu tudo com o Gu, vimos que nossa casa era pequena demais para isso. A cadeira de banho ocupava todo o box do banheiro, então montamos ela no banheiro da suíte para que ela não precisasse ser tirada de lá e eu e o Elton tomávamos banho no banheiro dos hóspedes. Além disso, o Gu não conseguia usar a cadeira dentro de casa, então nós tínhamos que levar ele no colo para os ambientes, mas ele ficava a maior parte do tempo no quarto dele", diz Kátia Campos, mãe do Gustavo.

Com as fisioterapias, Gustavo conseguiu começar a andar com o andador. Então surgiu outro desafio: a escola. "Por questões de seguranças, os pais não podem acompanhar os filhos até a sala, então a escola disponibilizou um funcionário para acompanhar o Gu da porta do carro até a sala de aula. Mas o mais fundamental para a melhora do Gu foram os amigos, que sempre o apoiavam, queriam empurrar a cadeira de rodas, ajudar ele com o andador, foram super fofos com o Gustavo", conta a mãe emocionada com os atos dos amigos.

"A cidade de Taubaté não tem muita infraestrutura para lidar com cadeirantes e nem com pessoas com deficiência. Isso ficou claro para nós após o Gustavo adoecer. Nós tivemos a sorte do Gu melhorar, mas e como fica para as pessoas que necessitam da acessibilidade todos os dias?" questiona Elton.

Hoje, Gustavo já recuperou os movimentos e vive uma vida normal. Já recebeu alta médica e terminou a fisioterapia, o que o proporcionaram voltar para a vida que ele levava antes.

            

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