Um pedacinho de tradição italiana no Vale do Paraíba

Em Quiririm se guardam tradições de mais de um século, vindas de outro continente, mas lembradas com grande fervor. 

por: Kaic Bocalare 

Objetos antigos, como rádio, telefone e bandeira, são algumas das relíquias que permitem manter a tradição

O Distrito Gastronômico e Agrícola da colônia italiana de Quiririm é conhecido em toda região como um pedaço da Itália no Brasil. Muitos dos visitantes, e até mesmo moradores, relatam vivências totalmente diferentes, em um local em que se resgata as memórias dos italianos que já se foram. Apesar de ser um local com mais de 130 anos de existência, a tradição continua viva e é constantemente renovada pelas novas gerações. 

O que pouco se sabe é que toda essa tradição tem um passado sofrido, no qual famílias inteiras buscavam uma saída em meio a tantos problemas que a Itália vivia, com falta de terras para tanta mão de obra se empregar. A vinda ao Brasil foi um recomeço, onde toda a alegria de ser italiano se misturava com o amor às terras tupiniquins. 

Mesmo com todo amor à nova casa, as raízes estavam fixas em seu sangue europeu, com massas, a tarantella, a gritaria e o amor gigantesco pela família. Exemplo disso, José Carlos Bocalare guarda fielmente em sua memória e coração os momentos com sua vó, Amabile Bocalare, que mantinha a tradição de falar o italiano em casa, costume que entrou a fundo na vida de Carlos e fez com que levasse isso para suas próximas gerações. "O fogão à lenha da minha vó era os que faziam as melhores comidas, eu corria pra lá quando meu pai brigava comigo e ela defendia a gente, sempre se expressando em meio aos gritos em italiano", relembra Bocalare. 

Toda a cultura italiana continua viva e constantemente é renovada, graças a passagem desse conhecimento entre as antigas e novas gerações. Dinamara, filha de Carlos, conta que essa vivência da cultura do país da bota ficou mais viva a partir de 1989, quando Quiririm resolveu fazer a primeira festa em homenagem aos seus imigrantes. " Eu aprendi mais da cultura depois de grande já, mas antes disso já era possível se vivenciar tudo isso com os costumes de casa, como quando meu pai colocava vinho na sopa com suan." 

Ela ainda conta que guarda muito disso em seu cotidiano, pois sempre gosta de inventar receitas com massas, doces, café, entre as delicias conhecidas da Itália. "Meus filhos convivem com uma verdadeira italiana, que fala alto, grita e reproduzem isso, é um dos costumes mais comuns aqui", finaliza Dinamara. 

O pequeno pedaço de terra que encerra Taubaté e faz divisa com Caçapava guarda uma cultura singular, em que até o frio do inverno recorda o clima do país em que seus fundadores saíram para tentar a vida.