
A cultura é um processo dinâmico acima das condições histórico-materiais de uma determinada sociedade. Desta maneira, a produção do segmento na aplicação de oficinas no município valeparaibano segue a preferência de uma parcela mais convencional da população local.
Por Dayane Gomes
![]() |
| Às quartas-feiras de manhã, um grupo de mulheres participa de uma oficina de artesanato em Pindamonhangaba. Créditos: Dayane Gomes. |
O som do canto de bem-aventurados pássaros ressoa pelo ambiente ao ar livre, arborizado e esverdeado. Ao lado do Rio Paraíba do Sul, a umidade da chuva do dia anterior mescla-se ao cheiro da corrente de água doce de tom marrom. Mais ao canto, sob uma varanda e em meio a uma picada ou outra de insetos, um grupo de mulheres se dedica a sujar as mãos com tintas, ouvir o barulho maciço de um secador e trocar figurinhas sobre os assuntos mais variados e universais. Tal circunstância se expressa como uma oficina cultural de artesanato na Biblioteca Pública Municipal “Vereador Rômulo Campos D'Arace”, localizada no Bosque da Princesa.
Em pleno mês de março, quando as fortes chuvas do verão tropical evidenciam o adeus da estação, Valéria de Paula Santos se rendeu a notícias transmitidas boca a boca e se inscreveu na atividade pela segunda temporada consecutiva. “Eu fiz no ano passado. Aí, nesse ano eu estava à toa em casa e me chamaram para vim para as aulas e eu falei: ‘Ah, já estou indo’”, contou. Inclusive, a assistente social garante que a disponibilidade gratuita não foi o aspecto de maior relevância para a entrega artística, “Lógico que ajuda ser de graça, mas eu vim mais pela interação, para conversar”.
Assim, todas as quartas-feiras, durante duas horas, a turma de oito alunas locais aprende e põe a mão na massa em técnicas de pintura em caixinha e em vidro, com aspiração futura de confecção de chinelo a partir do próximo período mensal. Aliás, entre decoupage, patch aplique e outras modalidades, o artesanato dispara como líder do ranking das oficinas disponibilizadas pelo Departamento de Cultura da Prefeitura de Pindamonhangaba, seguido por teatro e yoga.
“A política cultural deve ter como objetivo orientar o desenvolvimento simbólico, satisfazer as necessidades culturais da população e contribuir para algum tipo de ordem ou transformação social”, acentuou Rebeca Guaragna, oficial de administração do departamento. Portanto, as oficinas poder semear o oferecimento de formação e difusão cultural nas mais variadas linguagens artísticas no município.
Se “a arte é a auto-expressão lutando para ser absoluta”, de acordo com Fernando Pessoa, nada mais harmonioso do que a produção cultual popular de Pinda seguir as referências locais, é o movimento artístico local manter traços de tradicionalismo. Por exemplo, o professor universitário de Antropologia e Sociologia, na Universidade de Taubaté, José Maurício Cardoso explana que “na cultura tudo aquilo que aparece como revolucionário ou inovador acaba criando uma expectativa de receio. Então, há o apelo para a zona de conforto e as produções clássicas ou que já estão consolidadas se tornam ferramentas de sustentação desses grupos sociais”.
Conservadorismo ou tradicionalismo mostram-se como plano de fundo à interação social, de conversas descontraídas entre o público dominante, caracterizado pelo gênero feminino de uma faixa etária mais velha, enquanto os oficineiros se configuram como professores e autodidatas com veia latente para o serviço social. Sendo que, a busca por atividades culturais é impulsionada pela busca de oportunidades, melhoria da qualidade de vida e das condições de trabalho e renda.
