Apaixonada pelo ato de escrever desde sempre, estudante do interior de São Paulo já planeja a publicação de segundo livro
Sofia Andreassa, 19 anos (ou “quase 20”, como ela mesma se define). É uma jovem com hábitos normais para pessoas nessa faixa etária. Sair com os amigos, ir ao cinema, fazer faculdade e se preocupar com o famigerado dinheiro para o gastar loucamente com xerox da faculdade é uma preocupação dela e de outras milhares de pessoas mundo a fora. O que difere Sofia dos demais jovens? Ela escreve bastante, a ponto de manter um blog e de já ter publicado seu primeiro livro antes mesmo de completar maioridade. “O fato de ter um blog me obriga estar sempre escrevendo, sem dar grandes pausas” diz a estudante de jornalismo nascida na capital paulista e moradora desde os seis anos de Taubaté.
Por Geysel Rodrigues
A paixão pela escrita começou, segundo a própria Sofia, mesmo antes dela saber que aquilo era escrita. Ela afirma que já chegou mesmo a esconder ou menosprezar essa capacidade acima da média para com os textos. Aos dez anos de idade, participou de um concurso escolar, onde apenas alguns textos de toda a escola seriam selecionados para uma próxima etapa, e advinha: o texto da Sofia foi selecionado, contrariando as expectativas de todo mundo, inclusive dela mesma.
Anos mais tarde, Sofia se envolveu no universo das fanfics (ficções criadas a partir de histórias famosas, como Harry Potter ou Game of Thrones, por fãs), onde ela escrevia a própria versão da sua série favorita e começou a mandar este conteúdo para seus amigos, alguns dos quais ela usava como inspiração para criar novos personagens ou mesmo fazer várias alterações em relação à trama original. Ao chegar na marca de duzentas páginas produzidas, ela percebeu que suas histórias já haviam tomado forma e dimensão próprias, já contavam com um enredo totalmente novo, surgido da cabeça e da imaginação da jovem escritora. Dessa maneira, surgiram dois personagens que a acompanham até hoje em seus escritos, o casal Sami e o Noah. “Eu comecei a escrevê-los nessa época e nunca mais parei”, comenta. Em sua primeira publicação de 2012, aos quinze anos, o conto Crianças, vamos almoçar fora hoje conta com esses dois personagens em suas versões mais velhas, casados e com crianças pequenas que dão trabalho para almoçar fora como protagonistas.
Em dois mil e treze eu começou a escrever a história que mais tarde se tornaria o livro Existe Razão. “Sem pretensão alguma, só algo para me entreter e postar no meu blog” comenta a jovem que confessa que na época estava passando pela sua primeira grande desilusão amorosa. “Você sabe como são adolescentes de dezesseis anos” brinca Sofia sob muitos risos. Mais para o final daquele ano, ela conta que estava passando por um momento muito difícil que foi o processo de divórcio dos seus pais, quando teve aideia de compilar essa história e mandar para mais de uma dezena de editoras, a princípio sem sucesso, já que algumas delas chegavam a cobrar mais de quinze mil reais pela publicação de um livro, algo que até então era inviável. O livro só foi finalmente ser publicado em dois mil e quatorze.
Perguntada sobre qual a sua fonte de inspiração, ela responde que são as pessoas. A minha maior inspiração são as pessoas. “Eu não estou aqui para inventar nada e sim para relatar com uma visão um pouco mais sensível a realidade que acaba passando desapercebida pela maioria das pessoas” afirma. A jovem conta que todo o seu projeto de vida se baseia em perceber os detalhes do mundo a sua volta. A autora que prefere escrever sobre relacionamentos em todas as formas, mas em especial os amorosos, românticos, gosta de incluir neles todas as nuances que consegue ver. “Quando eu escrevo para mim, para o meu blog eu não estou escrevendo um texto jornalístico então não há necessidade de ser direta” comenta. “Justamente quando o fato de ser imprevisível e completamente indireto é que faz do amor algo tão bonito” completa a autora.
Sobre os planos para o futuro, Sofia diz que quer se mudar para São Paulo, para tentar conseguir um bom estágio, concluir sua graduação em jornalismo e continuar escrevendo e publicando este conteúdo. De acordo com ela, a maior dificuldade da publicação no Brasil para autores iniciantes e independentes, são os custos da publicação. As grandes editoras, que têm capital o bastante para investir, acabam preterindo este tipo de gente, muitas vezes por insegurança em relação ao retorno que pode ou não se concretizar. Quem acaba apostando neste mercado são as empresas menores, que cobram para que uma obra seja impressa. No meio literário independente há muita discussão sobre e preconceito com quem paga para publicar, mas a autora diz que não tem nenhuma vergonha de dizer que ajudou a custear publicações das quais colaborou, bem como do seu próprio livro, Existe Razão. “É uma forma de entrar no mercado literário assim como quem leva décadas para entrar no mercado porque queria a obra perfeita com uma editora bancando” afirma Sofia, que diz ainda que era a única opção palpável à época, já que não queria deixar o momento passar e consequentemente acumular frustrações. “Escritor melancólico [e frustrado]só é legal na ficção” completa a autora que já tem planos para publicar outro livro, ainda sem título ou data definidos.