Títulos regionais, paulistas, brasileiros, sul-americanos e uma coleção de recordes que aumenta a cada dia. Esse poderia muito bem ser o perfil de um atleta experiente, porém é justamente o contrário. Todas estas conquistas fazem parte do currículo invejável da nadadora Victoria Izidro, de apenas 15 anos de idade.
Por Luis Felipe Pereira
![]() |
| Victoria chama a atenção pelo desempenho nas mais diversas provas - Créditos: Acervo pessoal |
Quando começou a praticar Natação, a jovem natural de Cruzeiro não imaginava que chegaria tão longe. “Não imaginava que fosse chegar nem perto de onde estou hoje. Olhava para os nadadores, todos altos e magros e eu era muito gordinha e baixinha. Foi tudo muito novo, quando ganhei pela primeira vez, pensei: Não é possível!” conta Victoria.
Victoria iniciou sua trajetória na Natação aos 4 anos de idade, por orientação médica, a fim de
melhorar seus problemas respiratórios. Somente aos 10 anos entrou em sua primeira competição, o Aberto de Natação Peixinhos & Golfinhos, treinada pelo próprio pai. A atleta relembra a experiência e a sensação durante a primeira prova. “Na minha primeira competição eu estava muito perdida, porque era tudo muito novo pra mim, fiquei nervosa, achei que não iria terminar a piscina. Quando terminou fiquei super feliz simplesmente por ter acabado a prova.” A partir desse momento, a cruzeirense foi descoberta pelo treinador DiGiorgio, se mudou para Guaratinguetá por conta da estrutura oferecida e sua carreira começou a decolar.
O desempenho de destaque nas piscinas é resultado de uma alimentação regrada e uma rotina exaustiva dividida entre treinos, academia, colégio e high school. O esporte trouxe diversas mudanças e adaptações para a vida de Victoria, contribuindo nos mais variados aspectos.''Depois que eu comecei a nadar tive que mudar meus hábitos alimentares e emagrecer, também me deu muita disciplina, conheci pessoas novas, muitos amigos e cidades que eu tive que viajar para competir.”, relata a nadadora. Apesar dos sacrifícios que enfrenta, ela procura sempre encarar os desafios de maneira otimista e o fator determinante para isso é o amor pela Natação, que segundo a própria Victoria é tudo em sua vida.
Porém não só de conquistas, alegrias e trabalho é feita a vida de um atleta de alto nível. Victoria enfrentou o drama de uma lesão séria durante uma prova e precisou de muita determinação para superar este período de recuperação. Outra adversidade encarada por ela e por outros esportistas no Brasil é a falta de apoio do governo. O gasto com equipamentos, alimentação, acompanhamento, viagens e competições é realmente elevado e apesar de certo investimento no profissional, não há auxílio financeiro nas categorias de base, essenciais para a formação de novos nadadores. Dentro dessa realidade, os jovens e crianças dependem dos próprios esforços e do apoio da família para vencer neste esporte. Apoio este que está muito presente na vida de Victoria, como faz questão de destacar. “Acho que eu não chegaria até aqui sem a minha família. Eles me apoiam em tudo...”, enaltece ela.
Diante da enorme expectativa em torno dela pelos resultados conquistados, a menina alegre, otimista e sonhadora(como a própria se define), vê a pressão como algo natural. “Acho que é normal, tenho que começar a me acostumar agora, porque se eu chegar onde quero, a tendência é aumentar, mas eu já estou acostumada e também tenho uma pressão sobre mim mesma”, explica Victoria. Mesmo com pouca idade, se mostra consciente em relação à realidade do esporte que pratica, e não enxerga perspectivas de mudanças a curto prazo, pelo menos enquanto não houver uma atenção maior com a base.
![]() |
Victoria
passa por uma rigorosa rotina de treinos e preparação
mirando
o sonho de disputar uma Olimpíada – Créditos:
Acervo pessoal
|
Presença frequente nas convocações da seleção brasileira juvenil, ela já possui reconhecimento e experiência internacional. O contato com atletas de outros países, contribuiu para a percepção das diferenças físicas e de preparação, o que motivou ainda mais a nadadora do Brasil a melhorar seu rendimento.''As meninas são diferentes, mais fortes, foi muito bom pra ver que a realidade brasileira não está nem perto da mundial, pra eu acordar e ver que preciso treinar muito pra competir nesse nível.” revela a jovem. Um evento recente ligado às Olimpíadas do Rio marcou a trajetória esportiva e pessoal de Victoria: ela foi selecionada para carregar a tocha olímpica, feito inesquecível e enorme para uma atleta com tão nova. “Eu não acreditei, fiquei em estado de choque. Enquanto eu estava carregando a tocha, passava um filme na minha cabeça, de tudo que eu já tinha feito e passado pra chegar ali e depois que acabou parecia que não tinha acontecido de verdade, parecia um sonho.”, relembra a menina com brilho nos olhos.
Sempre focada, Victoria busca todos os dias inspiração em seus objetivos para o futuro e em seus principais ídolos no esporte, Michael Phelps e Katinka Hosszú. Fora das piscinas, ela tem o sonho de se mudar para os Estados Unidos e se formar em medicina. Com a determinação e o sorriso característicos, a esperança do Brasil nas piscinas faz com que nada pareça impossível, superando os obstáculos a cada braçada em busca desses sonhos.


