A prática de exercícios físicos ajudou a moradora de Taubaté a enfrentar o momento mais difícil de sua trajetória
A vida agitada sempre fez parte do dia-a-dia da taubateana Celeste Aparecida Galvão Ferreira, de 48 anos. A filha mais velha do casal Luís e Terezinha já morou em dez cidades entre as regiões Sudeste e Sul quando pequena, em consequência do trabalho do pai, ainda adolescente, Celeste voltou para Taubaté.
Por Gabriela Galvão
Hoje, a artista plástica e cabeleireira casada há vinte e sete anos e mãe de duas filhas tem muita história para contar desde o dia 25 de dezembro de 1968, data de seu nascimento, e até mesmo uma curiosidade muito inusitada sobre seu sobrenome, que passou a ser usado após uma promessa, de seu pai, para Frei Galvão. Por meio do esporte, Celeste encontrou forças para combater um câncer de mama, em meio às sessões de quimioterapia e cirurgias esteve se exercitando, dividindo tempo entre academia e corrida de rua.
De jogadora de vôlei na adolescência á corredora, Celeste sempre foi muito ativa acabou virando exemplo para familiares, amigos, médicos que a ajudaram e para pacientes que estão enfrentando a doença pela qual passou.
Qual foi a sua reação ao receber o diagnóstico de câncer? E como sua família reagiu a isso?
Foi assustador. Como se tivessem tirado o chão debaixo dos meus pés. Tive medo do desconhecido. Não tinha ideia de como seria o tratamento. Já minha família se manteve forte, algumas vezes acho que ficavam tristes e até choravam, mas nunca na minha frente, não queriam que eu os visse sofrendo. Eles foram meus anjos.
Como você encarou a doença? E quanto tempo durou?
Passado o primeiro impacto, não tinha outra opção a não ser lutar. Encarei uma doença grave, que teria um longo tratamento, mas que eu tinha certeza que tudo ia dar certo. Durou exatamente um ano, contando de quando comecei as quimioterapias, mas eu senti o nódulo no seio quatro meses antes.
Em algum momento você achou que perderia essa batalha?
Não. Jamais. Morrer de câncer não passou nem perto da minha cabeça. Tinha certeza absoluta que Deus havia me escolhido, porque sabia que eu ia ser guerreira e iria lutar com todas as minhas forças.
| Celeste na corrida General Salgado de 2012 Foto Gabriela Galvão |
Como ocorreu o tratamento?
Foi uma fase difícil. Primeiro, o diagnóstico que veio através de uma biópsia. Depois de confirmado, fiz vários exames e iniciei as quimioterapias. Fiz quatro ciclos e fiz a mastectomia e esvaziamento axilar. Depois da cirurgia, fiz mais doze ciclos de quimioterapias e vinte e oito radioterapias. Após isso, fiz mais quatro cirurgias para recuperação da mama.
Como você se sentia depois das sessões de quimioterapia?
Nas primeiras não sentia muito mal, mas conforme o tempo foi passando, o corpo foi enfraquecendo, a imunidade caindo (pausa) foi ficando mais difícil. Enjoos, câimbras, dores no corpo, queda de cabelo, pelos do corpo e unhas, e um amargor na boca. Ressecamento nasal e aftas.
Quais foram suas maiores dificuldades durante o tratamento?
Senti muitas dores, fraqueza e a insônia. Mas maior dificuldade foi não conseguir comer, minha boca alterava os sabores dos alimentos. Tudo tinha gosto ruim. Passei todo o período de quimioterapias comendo apenas frutas, bebendo muita água e água de coco.
Como você voltava à sua rotina apesar das dificuldades?
Os primeiros dois dias eu ficava quietinha, sem fazer nada, mas assim que conseguia ia voltando à rotina. Ia para academia, levava minha filha para escola, era dona de casa. Não era fácil, mas não podia e nem conseguia, ficar parada vendo a vida passar.
Que papel o esporte teve durante essa fase?
Foi muito importante, pois fez bem psicologicamente e fisicamente, a cabeça se manteve focada e o corpo forte para superar tantos desgastes que o tratamento impunha.
O que o esporte significou para você antes do tratamento? E agora?
O esporte sempre esteve presente na minha vida, sempre pratiquei e sempre adorei assistir. Sou da época que a Educação Física era obrigatória, e muito jovem comecei a jogar vôlei e, depois de casada, academia era minha rotina. Pratiquei mountain bike e, há sete anos, iniciei a corrida de rua e me apaixonei. Acredito que o corpo não foi feito para fica parado, precisamos nos mexer para manter a “máquina” funcionando. Agora significa vida. Apesar de todo o sofrimento, eu consegui recuperar meu corpo e estimular minha vida através do esporte.
| Hoje, a corrida faz parte do seu dia-a-dia Foto Gabriela Galvão |
Você fazia quimioterapia e na mesma semana participava de corridas. Como era essa experiência? Como você se sentia?
Era superação, não era fácil. Precisava buscar força onde menos esperava conseguir, muitas vezes corri com a cabeça, porque as pernas não conseguiam sozinhas.
Sua médica era contra a atividade física durante o tratamento. Como ela passou a ver a prática do esporte, levando em conta a sua história?
No início, ela foi contra, mas consegui fazer com que ela visse que o esporte poderia ser um aliado no tratamento, mas se minha imunidade caísse ou alterasse algo no meu organismo, teria que parar.
Qual a mensagem que você quer passar para as pessoas que estão passando por esse momento difícil?
O principal é: seja forte. Não vai ser nada fácil, pode demorar, mas tenha fé que tudo irá dar certo. E creia em Deus, coloque os pés, que ele irá colocar o chão depois.
