O otimismo é a melhor ferramenta para a superação

Mulher e deficiente visual transformou sua limitação em força e hoje trabalha para ajudar outras pessoas na mesma condição


Caçula de nove irmãos, onde quatro possuíam glaucoma, Maria Gorete Cortez de Assis herdou a patologia e na adolescência chegou a perder totalmente a visão. Determinada e com uma personalidade forte, ultrapassou barreiras que pareciam impossíveis, é formada em pedagogia e pós graduada em psico-pedagogia, possui habilitação em autismo e especialização na área de deficiência visual.

 Por Rafaela Pereira 

Gorete sente que sua maior felicidade é ajudar outras
 pessoas (Arquivo Pessoal)
Com o conhecimento que adquiriu dedica sua vida em prol da luta em defesa direitos das pessoas com deficiência e acredita que a principal forma de reabilitação é a família. Filha de Benedito e Vicentina, nasceu em Itajubá, sul de Minas Gerais e aprendeu com a simplicidade dos pais que o segredo é manter a fé e acreditar em si mesma. Atualmente tem 49 anos, é casada há 13 com um cadeirante, mora em São José dos Campos, é coordenadora técnica educacional em um setor de reabilitação na clínica Pró-visão. Realizada pessoal e profissionalmente, diz que ainda tem objetivos em sua vida e revela os desafios de ser uma pessoa com deficiência. 

Como a senhora se adaptou a viver com a deficiência? 
No primeiro momento que eu perdi o resíduo visual que eu tinha comecei a encarar a vida de uma outra forma. Eu sempre pensei com muito otimismo, mas a falta de uma visão traz pra gente certa dificuldade, é algo sensorial que você tinha e que não tem mais. Então eu passei a fazer tudo com as mãos. 

Qual tipo de dificuldade a senhora enfrentou no âmbito escolar?
Na ocasião que eu fiz a minha faculdade e até mesmo uma das pós-graduações nós não tínhamos um recurso, que hoje temos em mãos, que é o recurso tecnológico. Eu tinha que comprar os materiais em tinta e pedia para as pessoas gravarem os livros para mim. Com relação às provas eu nunca permiti ter uma prova de graça, com paternalismo. Eu batalhava muito, porque eu tinha que ler todos materiais gravados, desempenhar os meus trabalhos, monografias, trabalhos científicos e ainda levar os trabalhos em braile e transcritos a caneta. 

Como a senhora se sente ao poder ajudar outras pessoas com deficiência? 
Eu entendo que quando a gente pode dizer que elas estão limitadas, mas que elas são capazes isso faz com que eu me torne muito mais feliz, sempre idealizei promover para elas o melhor. E todas as vezes que passei dificuldade eu pensei no futuro melhor não para mim mas para as pessoas, para que pudessem enfrentar bem menos dificuldades do que eu enfrentei no passado.

Como funcionam as leis em defesa das pessoas com deficiência? 
Se a legislação coloca a importância da inclusão e como pesquisadores afirmam e nós também acreditamos que a inclusão é importante então o governo precisa pensar melhor sobre isso, precisa de investir mais em seus profissionais para que as pessoas de fato possam ter um acesso eficaz. 

Como o mercado de trabalho pode valorizar o profissional sem levar em consideração sua deficiência? 
O mercado de trabalho ele coloca muito empecilho, ele recebe a pessoa com deficiência porque tem a lei de cotas que é a 8.213 que assegura a inserção de pessoas com deficiência no mercado de trabalho. As empresas acham que nós ainda somos um peso, mas nós que entendemos a legislação, dizemos que a pessoa com deficiência tem potencial, ela é competente, ela consegue. 

A Pedagoga acredita que a autoconfiança
é importante  para a superação
(Rafaela Pereira)

Como o preconceito pode influenciar nas conquistas de pessoas com deficiência?
Nenhum ser humano encara com tanta tranquilidade o preconceito. A gente tem que trabalhar constantemente o interior da gente porque por desconhecimento muitas vezes e por dificuldades elas trazem consigo o preconceito. Mas a gente vai aos pouquinhos quebrando isso. 

Como foi a experiência de vistoriar a Vila Olímpica para as Paraolimpíadas? 
Nós, pelo Conselho Nacional dos Direitos da pessoa com Deficiência fizemos visita em vários locais, analisando a acessibilidade se de fato o nosso governo preparou a acessibilidade conforme é assegurada pela legislação, para que os espaços físicos pudessem receber as pessoas com deficiência para as paraolimpíadas. Nós encontramos boa parte dos locais acessíveis e locais que estavam ainda sendo preparados. Para mim foi uma grande oportunidade da qual não me esqueço. 



Qual a importância do esporte para a pessoa com deficiência? 
Qualquer ser humano mantem o equilíbrio pelos órgãos sensoriais: visão, audição e quando a pessoa perde esses sentidos ela perde parte do equilíbrio. Quando ela faz educação física ela vai trabalhar os conceitos, o espaço físico, a questão motora, o psicológico dela e isso faz com que ela tenha boa reabilitação, uma boa orientação e mobilidade, um bom uso de bengala e um encorajamento para seu futuro. 

Como as diferenças podem inspirar novas descobertas? 
Nós temos que entender que as diferenças elas são capazes de transformar a sociedade, as pessoas e tudo aquilo que nós acreditamos. O mundo só pode ser melhor porque todos nós somos diferentes, porque são os desafios da vida que nos fazem crescer. Nós temos que surfar nas marés e não ir contra elas, porque quando surfamos a gente supera, mas se a gente se esquiva nós somos incapazes de atingir o nosso objetivo.