Professor da Universidade de Taubaté fala sobre os desafios do rádio

O professor e doutor em Ciências da Comunicação, Galvão Júnior, destacou o papel do rádio em relação às demais mídias tradicionais

Formado em Jornalismo pela Universidade de Taubaté e doutor em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo, Lourival da Cruz Galvão Júnior decidiu escolher a área jornalística após uma longa decisão.

Por Lucas Tavares

O professor, que mora em Taubaté, se formou na cidade e atualmente trabalha na Universidade de Taubaté
Nascido em Taubaté, cidade localizada no Vale do Paraíba, interior de São Paulo, o professor de 47 anos estudou em escolas públicas e privadas na cidade. Antes de ingressar no jornalismo, ele se formou no curso de Mecânico de Autos pelo SENAI e trabalhava em fábrica multinacional na cidade, mas optou por não seguir a carreira do pai, que também trabalhava em fábrica. Após visitas em vários cursos da Unitau como Psicologia, Geografia, Medicina e História, o professor sentiu-se mais atraído pelo curso de Comunicação Social e garante que foi a escolha certa. A ligação com o radiojornalismo vem desde criança, com influências dos pais, que escutavam rádio todos os dias. Atualmente, Galvão Júnior leciona aulas na Universidade de Taubaté, onde se formou.

Vale Repórter - Qual o primeiro contato com o rádio?
Galvão Júnior - Eu comecei muito cedo. Eu participava, eu assistia programas de auditório. Aqui em Taubaté havia um programa infantil na Rádio Cacique, era um programa feito para crianças, uma coisa que a gente não vê mais em rádio e é uma pena, porque é um tremendo potencial do rádio nesse sentido.

Então você, desde cedo, escutava a antiga Rádio Cacique?
Eu acompanhava um programa na Rádio Cacique e todos os sábados eles faziam o programa e uma vez ou outra eles faziam o programa ao vivo, as crianças iam lá, eles faziam gincanas, sorteavam bicicleta e eu ia, na verdade, por conta dos prêmios. Mas eu gostava muito daquele universo do rádio, ter a possibilidade de ver quem estava falando, isso com uma idade muito pequena, com 7, 8 anos, então eu curtia muito aquilo.

Sua vida acadêmica, de certa forma, está ligada ao rádio. Como você vê essa ligação direta com a área e como foi pra você essa escolha no seu bacharelado?
Tudo o que eu fiz na faculdade foi envolvendo rádio, porque rádio é a minha paixão. Meu Trabalho de Conclusão de Curso eu fiz envolvendo rádio, onde analisei o Gilette Press aqui no Vale do Paraíba.

E depois, no mestrado e no doutorado?
No mestrado, eu analisei os marcadores conversacionais na locução de rádio, que estratégia os locutores usam para, de uma certa maneira, envolver o ouvinte na locução radiofônica. E agora no doutorado eu busquei ser coerente e fiz algo envolvendo rádio de novo, só que agora algo que me tocava, porque de 2008 pra cá eu praticamente passei a me dedicar cem por cento à vida acadêmica, eu comecei e faço isso sempre, a refletir sobre minha atuação como professor.

A convergência foi o tema do doutorado que você obteve recentemente. Como foi feita a escolha desse tema para a defesa do título de doutor?
A palavra convergência, de certa maneira, foi a base do meu trabalho. Eu analisei a convergência do rádio nas mídias digitais, na internet e como que a formação em jornalismo tá acompanhando isso. Apesar do título de doutorado ser muito pomposo, pra mim ele tem a mesma importância do que um trabalho de graduação na faculdade.

Qual sua maior experiência jornalística?
Na Difusora eu considero que fiz as minhas principais matérias. Já tive a oportunidade, por exemplo, de participar de uma coletiva no Palácio dos Bandeirantes com o Governador do Estado na época, que era o Luiz... foi muito marcante pra mim, porque foi uma entrevista no gabinete dele, foi uma coletiva na qual eu praticamente participei sozinho porque os demais ficaram apenas observando, foi um evento muito legal. Uma outra oportunidade também foi quando o Lula veio para Taubaté, foram duas entrevistas que, pra mim, foram muito marcantes, com um governador e com um cara que mais tarde virou presidente.

De que maneira você avalia a forma como o rádio é ensinado nos cursos atualmente?
O meu grande questionamento é: será que nós estamos rádio da maneira que o rádio é realizado hoje? Será que estamos ensinando o rádio que ainda é analógico ou o rádio que já é digital, que já converge na internet?

Como você vê a atual situação do rádio em relação às demais mídias hoje em dia?
O rádio, desde a época da chegada da televisão em 1950, sempre tentou sobreviver e vem sobrevivendo. Das mídias, eu acredito que é a que mais está preocupada com isso. O rádio tem se adaptado. Na minha tese eu estudei muito isso e vi que hoje o rádio tem buscado outras formas de atrair o público ouvinte e até formas de captação de recursos. Isso coloca a mídia, no meu ponto de vista, até à frente de outras que estão aí e que sempre foram tidas como mais importantes.

Qual sua avaliação sobre a modernização do rádio, como aplicativos em celulares, internet e a interação de ouvintes atualmente?
Extremamente bom, mas também extremamente ruim porque hoje todo mundo tem possibilidade de fazer uma rádio em casa e rádio quando é feito com o princípio de entretenimento, diversão e lazer, sem problemas. O problema é quando você trabalha informação. Informação, no meu ponto de vista, exige formação e formação exige estudo. Você trabalhar conteúdo jornalístico é indispensável que você tenha a figura de um jornalista pra poder cuidar dessa área. É preciso ter cuidado. Não se pode descartar a figura do profissional em jornalismo, porque ele vai entender, ele vai ter as ferramentas e as técnicas pra poder elaborar conteúdos que sejam realmente significativos para a audiência.