Não era Townsville, mas a cidade foi salva

Loira e com olhos claros, a jornalista Gabriela Camargo faz resgates heroicos e salvou vidas, assim como a super poderosa personagem Lindinha

Era um dia comum para família Camargo. Estava quase na hora do almoço, quando mãe e filhas resolveram comer fora de casa, em um restaurante. Com seu carro totalmente equipado de ração, pão e água, a super heroína e jornalista Gabriela, de 29 anos, mais conhecida como Gabi, parecia adivinhar o que viria a seguir.


Por Jeferson Pereira
No caminho, ela parou em um posto de gasolina e, mesmo de longe, avistou um cachorrinho mudo e encolhido. Logo, como boa defensora dos animais, foi oferecer ajuda. De repente, tomou um susto, ao ver uma enorme poça de sangue ao redor do cãozinho. Na mesma hora, “voou” em busca de ajuda. E, dali em diante, sua rotina não foi mais a mesma.

Gabi e sua fiel escudeira e irmã Gisele – a personagem “Florzinha” dessa história – acolheram o animal vítima de atropelamento e “voaram” novamente, só que para o hospital. Entre idas e vindas, aconteceu uma demorada cirurgia que custou R$ 1 mil, valor que conseguiram arrecadar a tempo com a ajuda de seus contatos e super poderes. Porém, nem tudo foi um mar de rosas, pois, de acordo com o veterinário que atendeu ao bichinho, já era tarde demais, não dando nem dez dias de vida para o cachorrinho. Apesar do diagnóstico, passaram um, dois, três, quatro anos e, então, Sebastião – como foi apelidada a vítima – se foi. Quatro anos de muitas surpresas, amor e carinho segundo a super poderosa Gabriela, e foi assim que ela “salvou a cidade” de Taubaté, naquele dia.

Taubateana desde 1986, mas criada nos seus primeiros seis anos em Tremembé, a defensora de animais Gabi teve uma infância cheia de alegrias. “Foi lá que eu aprendi a andar de bicicleta, naquelas ruas onde não tinham carro. Uma nostalgia muito gostosa de lembrar”, recorda. Outro fato interessante, é que desde criança ela já demonstrava sinais de quem embarcaria no mundo do jornalístico. “Eu tenho algumas recordações que eu usava um toca-fitas para gravar as coisas que eu pensava, igual ‘Lucas Silva e Silva e o Mundo da Lua’ que era aquele seriado que passava na TV Cultura. A minha recordação deu uma linha que eu ia seguir a Comunicação Social”, conta.

JORNALISMO

Dúvidas sobre a escolha profissional são sempre comuns, e, para Gabriela não foi diferente. Ela pensou em fazer Fisioterapia e Enfermagem, por gostar da área da saúde e ajudar as pessoas. Pensou em fazer Música, por ter na época uma banda com os amigos, e, por último, não menos importante, a Medicina Veterinária, para salvar muitas vidas. Porém, escolheu Jornalismo, para reunir todos esses ideais em uma profissão.

Com um pai metalúrgico e uma mãe dona de casa, Gabi também já se destacava desde pequena de outras maneiras. “A partir dos onze anos que eu me soltei mais, sempre gostei de cantar e é claro, em todo momento gostei dos animais”. Na época do colégio, ela sempre foi bolsista, por conta de um convênio do sindicato do pai, estudando em escola particular. “Tenho ótimas lembranças, inclusive trago amigos até hoje dessa época”, ressalta a jornalista. Entretanto, outra situação já demonstrava a sua futura carreira no mercado de trabalho. Ela e um grupo de alunos ficaram responsáveis pelo jornal do colégio, no qual escreviam matérias que surgiam por ali. “O colégio sempre foi católico, eles se abriram pra uma novidade porque, até então, fazer um jornal falando de alunos e professores era considerado algo diferente para eles”.

Atualmente, Gabi trabalha na TV Unitau, da qual foi estagiária em Taubaté. É nesse local também que ela já passou por uns apuros engraçados, como fazendo boletins na rua e as pessoas fazendo gracinhas, piadas, erros de gravações, ou seja, algo que todo repórter de rua já passou ou vai passar algum dia. A jornalista explica sua felicidade e o motivo de continuar trabalhando: “Eu não vejo dificuldade em trabalhar aqui, porque eu acabei estando no meio de amigos e isso é muito bom”.

ANIMAIS

Desde criança Gabi já amava todos os tipos de animais. Na adolescência, também não foi diferente. Quando ela avistava um cãozinho sozinho, tinha a mesma percepção de ver um mendigo ou uma criança passando fome e ia logo tentar salvar àquele que precisava. Anos se passaram e os super poderes não foram embora, ela também tem ajuda de outra pessoa para salvar o dia, uma veterinária, amiga de Gisele – a personagem “Docinho” que faltava. É ela que faz precinhos camaradas para as irmãs quando resgatam animais das ruas.

Entretanto, ninguém agrada todo mundo. A defensora de animais não é vista como heroína por todos, algumas pessoas a julgam por ser preocupar demais com os animais e esquecer as pessoas. Mas a jornalista discorda: “Eu acho que um erro não justifica o outro né? É uma questão de políticas públicas, tanto pra um mendigo quanto para os animais”. Ainda segundo a jornalista, uma gata de rua, por exemplo, se ficar sem castração pode chegar a ter 10 mil filhotes em um curto prazo de tempo. Então, ela sempre faz o possível para castrar os bichinhos que recolhe antes de doar.

Com cinco cachorros em casa e mais dois resgatados, os sete animais de estimação são o xodó de Gabi. A maior alegria para ela é o olhar de gratidão não só dos animais dela, mas de todos os que são recolhidos como um grande agradecimento. “Quando eu alimento um animal na rua, por exemplo, e depois vou embora, eu entro no carro e eles olham pra mim com um olhar impagável, que acaba comigo. Pra mim isso é o que vale”.

Então, certamente, amor, carinho, amizade e tudo que há de bom parecem ser uma ótima receita para salvar os pequenos animais.