No Brasil, existem mais de cinco mil crianças esperando para serem adotadas e mais de 30 mil pretendentes a pais e mães que desejam formar uma família. Burocracias da justiça como o processo da fila de adoção, a escolha da criança e aceitação com uma família muitas vezes atrasam finais felizes para quem espera formar um novo lar.
Por Eidy Landim
Em Lagoinha, no interior de São Paulo, a história é feliz. A economista
Cátia Villela Galheico, de 59 anos, e seu esposo Darcio Ribeiro são pais
de cinco filhos, dois biológicos e três de acolhimento. Com uma família
formada, o casal escolheu a pequena cidade de cinco mil habitantes no
Vale do Paraíba para morar e criar os filhos. Em entrevista, Cátia conta
como foi à escolha pela adoção e a construção desta nova história.Como você construiu a sua família?
Eu sou a quarta de cinco filhos, meus pais vieram de Petrópolis (RJ) para trabalhar em São José dos Campos (SP). Conheci o Darci quando trabalhava na Engesa e, em 1987, resolvi vir embora para Lagoinha. Eu vim pra cá porque eu gostaria de ter os meus filhos em Lagoinha, e, quando eu vim, eu tinha acabado de perder dois filhos antes de início de gravidez. Foi quando eu resolvi que, se eu quisesse montar minha família, eu tinha que vir embora. A médica me disse que dificilmente eu engravidaria de novo e, por causa daquela loucura de vida, que era difícil. Eu consegui ficar grávida de novo e o Alex nasceu em 6 de setembro de 1989. Logo depois, eu já fiquei grávida novamente e, em 14 de março de 1991, nasceu o Luiz Antonio.
Quando vocês resolveram adotar?
A paixão do Darcio era ter uma menina. Quando engravidei novamente, nasceu a Fabiana, prematura de sete meses, viveu apenas 12 horas. Na mesa de parto, eu fui operada e não podia mais engravidar. Naquele dia nós decidimos partir para a adoção. Nós fomos chamados, fizemos o cadastro e foi quando apareceu a Fabiana [nascida Marli]. Ela viria para cá até que resolvesse o problema da família biológica dela. Nesse momento eu não quis, pois eu tinha duas crianças pequenas em casa e daí as crianças se apegam e depois vai embora. Não, eu quero, mas quero pra ficar definitivo. Um tempo depois a justiça decidiu que ela viria pra cá. Quando ela chegou em casa com um ano e meio, o Alex já era grandinho me perguntou: “Mãe, mas a gente não pode chamar ela de Fabiana?”. Eu falei que podia, ela atendia pelo nome e ficou Fabiana Marli.
Quando vocês viram que poderia aumentar a família?
Passou um tempo, em 2000 chegou em casa a Rita Cássia, com três dias de vida todos já eram grandes e foi uma paparicação geral. A família da Rita na época não tinha condições de criá-la. Ela tem um gênio, tem uma força de vontade que o que ela quer, ela vai e ela faz, ela é determinada no que ela quer. E depois veio o Pedro Afonso, chegou em casa com 4 anos em veio para nossa casa depois de passar por outras famílias e ele é o único que ainda não está em nosso nome devido às burocracias da justiça.
Como foi sua reação com a notícia de uma nova adoção?
Eu sempre ficava muito feliz, e com o tempo me tornei um porto seguro do Fórum de São Luiz do Paraitinga (SP). Tinha uma amizade muito grande com a Maria de Fátima, assistente social do Fórum e, quando acontecia de crianças precisarem de uma família, a Maria de Fátima ligava para mim. Eu indiquei várias famílias, qualquer problema a juíza mandava ligar para mim.
Todas as crianças sabem de suas histórias?
Eu sempre criei todos sabendo. A Fabiana chegou aqui maiorzinha, ela tinha um ano e meio e uma memória recente da família biológica e depois de alguns anos ela conseguiu restabelecer um contato com os avós e tias. Contamos para a Rita a história dela quando ela tinha cinco anos, ela mesma me perguntou, no momento em que ficou sabendo ela ficou um pouco brava, chorou e no dia seguinte ela entendeu que eu a criei desde o dia que nasceu, mas a mãe biológica era outra pessoa. A Rita tem total contato com a mãe, o pai e os irmãos que moram em Lagoinha. O Pedro chegou também quando já era maior, com quatro anos e também sabia que seria adotado e sabe de toda sua história.
Qual é o principal requisito para quem deseja formar uma nova família e optou pela adoção?
Eu acho que o requisito principal é você querer ter um filho. Existem várias pessoas, aquelas que não podem ter filhos e querem adotar. O mais difícil é para quem já tem uma família e quer adotar, que é o meu caso, pois você já tem a sua família e todos querem outras pessoas junto. Isso é amor, temos muito amor para dar e queremos dar mais esse amor para novos filhos. Quem deseja adotar deve saber que a criança nunca vai ser igual a você. Ela veio de outra família, ela veio de outro ramo.
