Capacete Azul: A vida de quem escolheu manter a paz como profissão

O entrevistado atua há 25 anos na carreira militar e já percorreu o mundo em Missões Especiais da ONU

Por Giovanna Razzante





Marcelo atuou em sua primeira missão de paz junto a ONU entre o
Peru e a Colômbia no "Conflito de Letícia" no ano de 1995.
    Os valores altruístas e humanitários foram a motivação para Marcelo Carvalho seguir carreira militar e continuar trilhando esse trajeto até os dias atuais. Oficial de carreira, 50 anos de idade, carioca de nascimento e taubateano de coração, Marcelo atualmente mora no Vale do Paraíba, mas sua profissão o levou a conhecer o mundo. Equador, Colômbia, Peru, Estados Unidos, França, República Dominicana e Haiti, foram os países que pode conhecer exercendo a função de Peacekeeper (Mantenedor de Paz) em missões da ONU (Organização das Nações Unidas).
   Um trabalho árduo, delicado, pouco conhecido, que traz consigo um grande impacto social. Marcelo já exerceu funções na área bancária e também em ensino de idiomas, mas seu destino profissional sempre esteve na Aviação de Exército Brasileiro. Atualmente trabalha no CavEx em Taubaté, atuando no gerenciamento de operações, mas em sua bagagem traz muitas histórias pra compartilhar. Em entrevista, Marcelo conta mais sobre as Missões de Paz realizadas pela ONU.

Vale Repórter - Quais são os reflexos das missões de paz nos países escolhidos?
Marcelo Carvalho - De modo geral, os principais reflexos das Missões de Paz são: estabilizaçãodo país, pacificação e desarme de grupos guerrilheiros e rebeldes, promover e garantir eleições livres, fornecer alimentos para a população carente e formar o desenvolvimento institucional e econômico dos países.

VR - Qual o objetivo principal dessas missões?
Marcelo – O objetivo principal é a estabilização do país.

VR - Em quais países, em sua opinião, as missões foram mais eficientes?
Marcelo - Atualmente, 1.743 militares brasileiros das três Forças participam de nove missões de paz ao redor do mundo. Em minha opinião, a mais eficiente atuação das tropas brasileiras ocorre no Haiti, na missão conhecida como Minustah. (Além do Haiti, militares do Brasil estão em missão de paz no Equador, Peru, Colômbia, Saara Ocidental, Costa do Marfim, Libéria, Timor Leste e Chipre.)

VR - Qual o papel dos militares brasileiros nas missões? 
Não somente os militares fazem parte das missões de paz,
outros profissionais, como engenheiros e motoristas fazem
parte desta grande força-tarefa.
Marcelo - Existem militares das mais diversas áreas atuando em Missões de Paz: médicos, dentistas, engenheiros, mecânicos, motoristas, capelães, além da tropa regular (infantaria, cavalaria e Polícia do Exército). O papel comum a todos é contribuir para a estabilização e manutenção da paz.

VR - Quais são os pilares fundamentais para a realização das missões?
Marcelo - Disciplina, hierarquia e estrita observância das regras da ONU para operação em missões de paz.

VR - Qual o papel da ONU dentro delas? E dos militares?
Marcelo -  A ONU é,basicamente, uma provedora de tropas eficientes e de baixo custo. Seus especialistas, particularmente em missões integradas, possuem amplas capacidades civis e militares necessárias para estabilizar e propiciar o desenvolvimento em situações pós-conflitos. É responsável pela estratégia e gerenciamento das operações de paz, além de prover suporte operacional e profissionais especializados nas áreas de pessoal, financeiro e orçamentário, comunicações, informação e tecnologia e logística. Os militares operacionalizam a estratégia e executam o planejamento, trabalhando sob a bandeira azul da ONU.

VR - Como ocorre a seleção daqueles que trabalharão junto a ONU?
Marcelo - O processo de seleção segue os rigorosos padrões impostos pela ONU, baseados nos perfis psicológicos e profissionais do candidato. A missão é de caráter voluntário e candidatos que dominam mais de um idioma tem prioridade no processo de seleção.

VR - Quais são os principais desafios sofridos durante esse processo nos países?
Marcelo -  As missões modernas atuam em situações muito mais complexas. Elas levam a paz a lugares brutalmente afetados por conflitos, muitas vezes internos, e onde os acordos são frágeis. Para enfrentar esses desafios, as forças de paz da ONU desenvolveram uma abordagem multidimensional com militares, policiais e civis trabalhando em várias áreas, incluindo direitos humanos e a proteção de civis.A mudança dos conflitos armados exige mudanças na manutenção de paz. Cada vez mais as forças de paz operam em ambientes de alto risco, onde a busca pela paz e a estabilidade são esquivas. Mas a manutenção de paz da ONU, ao abordar a natureza dos conflitos do século 21, tem que se adaptar a esses novos contextos, sem esquecer os princípios fundamentais que norteiam esta atividade desde 1950: atuar com imparcialidade e operar com o consentimento das partes.

VR - Somente há ações internacionais ou existem ações dentro do Brasil? Se sim, quais?
Marcelo - Somente ações internacionais.

VR - Qual foi a situação mais marcante de sua trajetória nas Missões de Paz?
Marcelo -  O fato mais marcante foi o terremoto no Haiti , ocorrido às 16h53m, na terça-feira, 12 de janeiro de 2010. As consequências desse fenômeno natural deixaram marcas profundas em todos aqueles que participaram das ações humanitárias de resgate resultantes da tragédia.