Consumo, logo existo

Os jovens e as influencias do consumismo

Por: Paula Alvares e Maitê Neves

 ‘Compro, logo existo’, tal expressão poderia resumir a situação atual dos jovens que, seduzidos pelas vitrines chamativas, os diversos shoppings centers e a facilidade dos cartões de crédito, retratam o . As mensagens coloridas das lojas chamam atenção para liquidações, descontos e pagamentos em diversas parcelas. Alguns esperam 31 horas em fila para adquirir o ‘novo iPad’, outros acampam durante dias para comprar o convite do show – e depois - assistir seu artista preferido, os mais novos ou mimados exigem que os pais satisfaçam seus desejos. Assim, a juventude adentra nesta selva de pedra. Os sonhos que o consumo permite realizar podem se transformar em ilusão com o tempo e o amadurecimento ou, se no ‘fim das contas’, falta dinheiro e o orçamento aperta.
‘capitalismo selvagem’

Uma pesquisa da Serasa Experian mostra que a participação de consumidores com idade entre 18 e 25 anos na demanda de crédito no Brasil corresponde a 18%, o maior percentual desde 2008, quando o levantamento teve início. De acordo com o SPC (Serviço de Proteção ao Crédito), entre janeiro e fevereiro de 2012, no entanto, o percentual de jovens entre 18 e 24 anos entre os inadimplentes saltou de 11,76% para 16,15%. Tais números são comprovados nas revistas e jornais que alertam para o consumo crescente dos jovens que, por inexperiência ou pelo simples prazer de comprar, giram a economia. O salário recebido, a remuneração do estágio e até o ‘paitrocínio’ são levados por motivos diversos que também podem ser coloridos, modernos, descartáveis ou momentâneos, como: roupas da moda, sapatos, acessórios, eletrônicos, baladas e passeios.

Para o estudante de Comunicação, de 22 anos, Álef Vidal, o consumo está atrelado ao “sentimento de poder”, de se sentir satisfeito ao possuir algo de que desejava. “Comprar alguma coisa que eu gostei e é supérfluo: é um desejo realizado, tipo, matei a vontade, eu tenho aquilo agora”, assegura o universitário que trabalha como auditor chefe em um hotel de Taubaté. Álef mora em uma república e, além de pagar o aluguel, a faculdade e as contas de água, luz e internet, enfrenta a fatura do cartão de crédito no fim do mês. “Não uso muito a grana porque quase sempre estou sem, uso o cartão e depois pago com o próximo salário”, conta. Em seguida, admite sempre gastar mais do que ganha- o que para ele é “uma tragédia”- com saídas aos fins de semana e comendo fora de casa. “Não economizo, gostaria que minha vida financeira fosse bem diferente, gostaria de ser mais regrado e ter mais prioridades”, confessa.

Enquanto Álef lamenta o gasto desnecessário, a também estudante de Comunicação, Vivian Gasperotto, de 19 anos, diz que busca se controlar nas compras. – Ouça a entrevista aqui.

A universitária se diz satisfeita com o que recebe de seu estágio remunerado destinado a poupança, gastos com estudos, manutenção de seu próprio veículo e seus “luxos”.  “Desde quando passei a receber meu salário, procuro me organizar melhor e poupar para o futuro”, afirma. Mas, como toda mulher moderna e vaidosa, Vivian não resiste a liquidações, especialmente por roupas e sapatos.

O economista e pesquisador do Nupes (Núcleo de Pesquisas Econômico-Sociais da UNITAU), Prof. Dr. Luiz Carlos Laureano da Rosa, explica que não se pode generalizar o comportamento do jovem, uma vez que cada um tem sua forma de agir e respostas únicas que se remetem a sua estrutura de personalidade, mas observa que, independente da classe que pertencem, os jovens acabam tendo comportamentos semelhantes quando se trata de consumo. Para ajudá-los antes de fazerem suas compras, o professor cita algumas dicas importantes, como: só gastar o que se tem, pagando de preferência à vista e deixando o crédito para eventualidades; procurar ser objetivos e bons financistas, sem justificativas na necessidade ou no merecimento próprio para gastar além do que se tem. “Definir as prioridades, sem desequilibrar o orçamento e acabar comprando, o que querem nos vender; o que é visto com os outros; o que achamos que esperam que tenhamos; o que achamos que trará felicidade ou prestígio”, esclarece Laureano. Consciência sobre o que se tem e o que realmente necessita e planejamento econômico são palavras chaves para os jovens usufruírem os ‘prazeres capitalistas’ com moderação, sem sofrer as consequências do sistema.