Beatles: Quatro partes de um mesmo ser


 Por Amanda Simpson
      
      
      Quem nunca ouviu falar dos Beatles? Praticamente quase ninguém. Algumas pessoas podem até não gostar dos Reis do Iê-Iê-Iê, mas com certeza já ouviram as clássicas All You Need Is Love, Come Together, Yellow Submarine, Help, ou então dançaram a famosa Twist And Shout em alguma festa temática dos anos 60.
      
       Formada em Liverpool em 1960, Os Beatles foram a banda comercialmente mais bem sucedida e aclamada da história da música. John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr, conhecidos também como Os Garotos de Liverpool, foram os responsáveis pela explosão desse rock britânico que apaixonou e ainda apaixona muitas pessoas de várias faixas etárias e de todos os cantos do planeta até os dias de hoje.
     
       “Qual é a sua música preferida?” – essa deve ser a pergunta mais difícil de ser respondida pelos beatlemaníacos. Escolher uma única música favorita no meio dessa ampla discografia é quase uma missão impossível, a maioria provavelmente irá responder “Ah, eu gosto bastante dessa, mas também tem aquela outra que é demais”, enfim, poucos saberão responder sem hesitar, escolher mais de uma ou pensar duas vezes. Agora, quando o assunto é sobre o Beatle preferido, aí as coisas ficam mais fáceis. A grande maioria dos fãs da banda acaba se identificando mais com um do que com os outros, talvez pela presença marcante do ídolo dentro da banda, pela personalidade e gostos em comum, ou pelos valores morais e culturais dos quais ambos compartilham. 

       Cecília Guimarães, 20, diz se identificar mais com o líder da banda – se é que podemos dizer assim – John Lennon. Para ela, Lennon era o ousado do grupo no sentido de quebrar os paradigmas da época, “ele parecia não ter medo de fazer algo diferente”, comenta. John possuía uma personalidade marcante e forte, talvez a mais forte da banda. Atrevido e polêmico, ele parecia não temer mudanças e estava sempre inovando, não apenas musicalmente, mas como também em sua vida pessoal. Prova disso foi a fase em que ele mergulhou de cabeça no ativismo político gravando o sucesso “Give Peace A Chance” em 1969 contra a Guerra do Vietnã.

(Imagine - John Lennon)

     Em sua carreira solo na luta pela paz, outros sucessos como, por exemplo, Imagine, estouraram na mídia e são lembrados até hoje. “Ele me inspira a não ter medo de arriscar, não ter vergonha de não ser como a maioria, e a lutar pelo que eu acredito – seja pelo 'pense globalmente, atue localmente' ou pelo 'Bed In Peace'”, conta Cecília. 

       A parceria Lennon/McCartney (assinada na maioria das canções dos Beatles) foi uma das mais influentes na história do rock. Fora seu trabalho dentro da música, McCartney é ativista dos direitos dos animais, a favor da comida vegetariana e apóia a educação musical. Atualmente com 69 anos, o Beatle Paul, ainda transborda charme e muita energia nas turnês que ainda faz ao redor do mundo. Luís Felipe Santos, 18, conheceu Beatles há algum tempo na escola quando uma professora de inglês levou para a sala de aula a música Yesterday. Talvez por isso Paul seja o preferido de Luís, já que a primeira canção escutada seja de sua autoria. “McCartney é genial, ele ainda parece transpirar alegria em cada coisa que ele faz”, diz Luís, “acho que o que me inspira nele é esse espírito jovem que ele tem”.

(Jet - Paul McCartney & Wings)

      Não foi apenas a parceria presente nos Beatles que trouxe sucesso para o nome de peso McCartney. Em sua carreira solo ele formou os Wings e lançou álbuns de grande repercussão como “Band On The Run” e “Venus And Mars”.

      John marcou sua história através da ousadia e da busca pela paz, Paul continua aí, firme e forte, contagiando o público com todo esse ânimo... Já o George, conhecido também como “o Beatle quieto”, é lembrado por ter sido um dos cem maiores guitarristas de todos os tempos (precisamente o 11º segundo a revista Rolling Stone), e também um admirador do misticismo indiano. Harrison introduziu um pouco desse lado místico de sua personalidade nas músicas que ele compunha, tanto para o quarteto de Liverpool, quanto para sua carreira solo. Lucas Rudiero, 19, comenta que Harrison é uma das três pessoas que mais o inspiram. “George me inspira no jeito de ver a vida. Apesar desse lado espiritualista dele e de eu ser ateu, eu ainda encaro algumas coisas de forma semelhante a ele. Para mim, Something e Here Comes The Sun são duas das músicas mais bonitas do mundo... Ele pega a beleza da vida e faz música com ela, isso é lindo”, comenta Lucas.

(My Sweet Lord - George Harrison)

       Para completar o famoso Fab Four, falta um personagem que, apesar de não receber tanta evidência, foi fundamental para a formação de uma das maiores bandas de todos os tempos. Ringo Starr compôs apenas duas canções como um Beatle (Don’t Pass Me By e Octopus’s Garden), mas, embora não fosse autor de muitas composições, o baterista cantava e fazia uma ou outra participação em algumas músicas nas gravações e shows da banda. Ringo era o mais calmo e tranquilo e, após o fim do grupo, foi o que manteve a melhor relação com os outros três ex-integrantes.

       Comparado com Lennon, McCartney e Harrison, Starr é o que possui a menor legião de fãs, talvez isso se deva ao fato de que sua presença e personalidade não deixaram muitas marcas dentro dos Beatles. No entanto, para Max Moschen, 20, Ringo pode até não ter revolucionado individualmente a história da música como os outros Beatles fizeram, mas, de algum modo, ele também serve de inspiração para muitas pessoas. “Ringo Starr é a prova de que não é preciso ser o melhor em tudo para ficar satisfeito consigo mesmo. Sua presença no mundo da música e em uma banda como os Beatles, nos mostrou que às vezes é bom fazer parte de algo maior do que nós”, conclui.

(Octopus' Garden - Ringo Starr)

        Atualmente, só dois dos quatro membros estão entre nós, Paul e Ringo continuam seus trabalhos individuais como músicos por aí. De qualquer forma, essas quatro personalidades tão singulares e distintas se misturaram e formaram uma banda que estourou nos anos 60, mas que, em pleno século XXI, ainda não saiu da moda. Foram esses perfis diferentes que construíram uma imagem clássica de rock britânico, com letras simples, acordes não complicados e muito carisma. Paul McCartney disse uma frase uma vez que é capaz de finalizar e traduzir com genialidade os Beatles: “O fato é que somos a mesma pessoa. Somos apenas quatro partes de um ser”.