Vidas Invisíveis: perfil e desafios da população em situação de rua

 

Relatório federal revela o perfil da população em situação de rua e fontes locais mostram como municípios como Taubaté tentam intervir diante de vulnerabilidades persistentes

Por Maria Souza (*)
(Foto: Agência Brasil)

Pessoas que passam noites dormindo em praças, embaixo de viadutos e pontes são consideradas pessoas em situação de rua. Na maioria dos casos, essa população passa dias — e quase a vida inteira — nessa condição, havendo pouca ou nenhuma perspectiva de mudança de vida. Segundo estatísticas da ONU (Organização das Nações Unidas), 150 milhões de pessoas vivem em situação de rua no mundo, e 1,6 bilhão vive sob condições inadequadas de habitação.


É um grupo heterogêneo que possui, entre suas diversas diferenças, motivos variados que os levaram a estar nessa condição: pobreza extrema, vínculos familiares interrompidos ou fragilizados e a inexistência de moradia convencional regular. As características acima foram conceituadas em 2005 pelo Ministério do Desenvolvimento Social como os fatores intrínsecos à condição de rua e constam na Política Nacional para a População em Situação de Rua.


Como uma das medidas relativas, adotadas desde o início de 2023, o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania publicou um levantamento onde é é mostrado qual é o perfil da população em situação de rua no Brasil. O diagnóstico se baseia nos dados das pessoas cadastradas no programa Cadastro Único, e, revela um perfil majoritariamente masculino (87%), adulto (55%), com idade entre 30 e 49 anos, e composto principalmente por pessoas negras (pardas — 51%; pretas — 17%). A maioria sabe ler e escrever (90%) e já teve emprego com carteira assinada (68%).


Chama a atenção o percentual de pessoas em situação de rua com deficiência (15%). A deficiência física é a mais frequente (47% entre as pessoas em situação de rua com deficiência), seguida por transtornos mentais (ainda que não sejam necessariamente deficiências, mas contabilizados dessa forma no Cadastro), com 18%, e deficiências visuais (16%).


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Na cidade de Taubaté, interior de São Paulo, em maio de 2025 eram 433 pessoas em situação de rua catalogadas pela prefeitura. O número foi mapeado por meio de cadastramento feito pelo Centro Pop, espaço de abrigo e oportunidades para esses moradores. — órgão que desempenha papel fundamental na assistência às pessoas em situação de rua — neste ano.


As equipes do Centro Pop atuam com técnicos capacitados para abordagem social, assistentes sociais, psicólogos e educadores sociais, que realizam o acolhimento inicial, orientações e encaminhamentos para outros serviços da rede pública de saúde, assistência social e habitação.


“Realizamos uma escuta ativa e acolhedora, com empatia, respeitando a individualidade de cada pessoa e suas vulnerabilidades. O objetivo não é apenas oferecer assistência emergencial, mas construir, junto com a pessoa, alternativas reais de reintegração social e familiar”, afirma Daniele Calcanhoto, coordenadora técnica do órgão, que explicou como é feito o processo de acolhimento, envolvendo abordagem técnica especializada com foco na humanização do atendimento. 


Morar nas ruas não é uma condição fácil. Além da vulnerabilidade e da invisibilidade, esse grupo enfrenta uma série de dificuldades: violência, falta de saneamento básico e higiene, insegurança alimentar, abandono e precariedade. Outro problema crônico nos grandes centros urbanos é a falta de vagas em abrigos e albergues públicos — locais destinados a acolher pessoas em situação de rua.


Diante dessa problemática multidimensional, é evidente que apenas a união entre estados, municípios e o Governo Federal pode promover avanços concretos no enfrentamento da situação de rua. É fundamental considerar o tema como prioridade na agenda pública, com a criação e efetivação de políticas integradas, sustentáveis e eficazes que possam, de fato, reduzir e transformar a realidade dessas pessoas em extrema vulnerabilidade.


(*) Sob supervisão e edição do Prof. Me. Caíque Toledo