Transmissões ao vivo, visibilidade e novas oportunidades: o impacto da inteligência artificial no mercado dos Jogos Olímpicos
Novas tecnologias empolgam em Paris, e começam a preparar um novo caminho para o mercado e o entretenimento
Por Aika Ortiz (*)
Em 2024, as Olimpíadas voltaram a Paris após 100 anos. Sendo o principal evento esportivo do mundo, com referências de séculos passados, os Jogos Olímpicos carregam um legado tradicionalista, com conceitos, ideologias e até modalidades. No entanto, enquanto a tradição permanece intacta em diversos pontos de sua essência, o modo como o evento é organizado, vivenciado, e principalmente assistido, está em constante evolução – e ao que tudo indica, não irá parar tão cedo.
Nesta edição Paris, a ‘Cidade Luz’, foi palco para uma transformação inevitável, onde a inteligência artificial se tornou implacavelmente presente (e se tornando alvo de sentimentos mistos de admiração, receio e investigação por parte do público). A avalanche de otimizações de processos e resultados quase instantâneos na coleta e entrega de dados veio para avisar aos espectadores, participantes e investidores que a tecnologia não necessariamente precisa mudar as tradições, mas, certamente, levará alguns conceitos a um patamar inédito.
Um dos avanços mais significativos foi a inclusão de soluções voltadas para a acessibilidade. Pensando em todos os espectadores, novas ferramentas foram empregadas não só para trazer novos conceitos para as transmissões, mas, também, para aprimorar a experiência de pessoas com deficiência auditiva e visual.
Dessa vez, a tecnologia permitiu a geração automática de legendas em tempo real e a tradução simultânea para a linguagem de sinais. A IA também forneceu descrições de áudio detalhadas, transformando as imagens em palavras, de modo que o público com deficiência visual pudessem entender o andamento das modalidade esportivas de forma mais vívida e precisa.
De acordo com Joana Timóteo, diretora de eventos esportivos da Rede Globo, o resultado alcançado é fruto de um processo de evolução constante, que teve início na Copa do Mundo Rússia 2018 e foi aprimorado nos últimos anos, com o avanço ainda maior da tecnologia. “Os grandes eventos são sempre uma possibilidade de avançar no padrão das transmissões. Todo esse trabalho é recompensado quando vemos a resposta da audiência”, ressalta a diretora.
O impacto da inteligência artificial nas campanhas publicitárias
Outro ponto do digital que esteve presente na cobertura dos Jogos Olímpicos foi o uso da inteligência artificial por parte dos patrocinadores. De acordo com um relatório realizado em 2023 pela Deloitte, empresa multinacional de auditorias e consultorias, as grandes marcas têm investido cada vez mais em IA para otimizar suas campanhas de marketing, especialmente em eventos globais como as Olimpíadas.
Durante a exibição dos jogos, a tecnologia foi utilizada para personalizar a experiência do consumidor em tempo real, permitindo que as marcas ajustassem suas mensagens com base no comportamento e nas preferências dos espectadores. Isso resultou em campanhas mais assertivas e um maior ROI (retorno sobre o investimento), demonstrando o potencial da IA em transformar estratégias tradicionais de marketing em campanhas com um público certeiro -- assim como nos jogos, sem chances para erros.
Outro estudo realizado pela PwC, referência em auditorias de marcas em escala mundial, também destacou que as ferramentas movidas por inteligência artificial podem aumentar significativamente o engajamento do público durante grandes eventos, sobretudo esportivos. Em Paris 2024, esse fato ficou ainda mais evidente, com marcas globais como Intel e Alibaba usando a IA para criar experiências mais imersivas e interativas para os espectadores, seja através de anúncios personalizados, conteúdos gerados automaticamente ou plataformas de engajamento digital.
A nova protagonista dos Jogos Olímpicos?
Fato é fato: a inteligência artificial pode não competir diretamente nos esportes, mas certamente já ganhou seu lugar de destaque, merecendo medalhas em categorias como acessibilidade, personalização e eficiência. Não apenas construindo uma nova forma de assistir aos esportes, mas também desempenhando um papel fundamental em fazer os Jogos Olímpicos, que por si só já é um dos eventos mais assistidos e celebrados do mundo, mais acessível e democrático a todos.
Enquanto aguardamos as próximas edições, a única certeza é que, com relação a IA, o espetáculo olímpico está apenas começando a mostrar todo o seu potencial em uma era cada vez mais digital.
(*) Sob supervisão e edição do prof. es. Caíque Toledo