Denúncias de envolvimento na política levanta preocupações sobre o impacto da organização criminosa nas eleições e administração pública
Por Daniela Alves (*)
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| Foto: Ministério Público |
Considerada a principal organização criminosa do Brasil, o PCC (Primeiro Comando da Capital) tem seu envolvimento na política investigado pela Polícia Militar de São Paulo.
As recentes investigações revelam que a influência do grupo ameaça a democracia no país, com indícios de financiamento de campanhas eleitorais e intimidação de eleitores. “Não dá para falar que são 100, 200 municípios, mas tem vários com indícios palpáveis de alguma movimentação importante do tráfico participar como financiador de campanha eleitoral”, revelou o chefe do Centro de Inteligência da Polícia Militar de São Paulo, o coronel Pedro Luis Souza Lopes, ao FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública). Segundo o coronel, as forças de segurança têm recebido material sobre a interferência da facção na política. Para ele, a rede criminosa pode estar buscando outras formas de lavar dinheiro.
Bem no centro da eleição da maior cidade do Brasil, no último dia 22 de agosto a candidata à prefeitura de São Paulo Tabata Amaral (PSB) fez uma denúncia pública do envolvimento da facção nas eleições. Em vídeos divulgados nas redes sociais, Tabata apontou que a organização utiliza seu poder para intimidar eleitores e garantir a eleição de candidatos que podem proteger seus interesses.
Na ocasião, ela também acusou seu adversário no pleito Pablo Marçal (PRTB) de estar envolvido com membros do PCC. A Polícia Civil de São Paulo investiga também dois ex-aliados do PRTB e homens de confiança de Leonardo Avalanche, presidente nacional do partido, suspeitos de trocar carros de luxo por cocaína em esquema coordenado pelo PCC. Marçal afirmou que não tem conhecimento sobre as acusações e negou qualquer associação com o caso.
Infiltração em empresas e serviços públicos
Em março de 2024, quando a organização estava sendo investigada por comandar empresas e cooperativas do transporte público na cidade de São Paulo, Lincoln Gakiya, promotor de justiça de São Paulo e do Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Repressão ao Crime Organizado), afirmou que o grupo “está por toda a parte”.
“O que nos preocupa é que a organização está tomando tamanho de máfia, se infiltrando no estado, participando de licitações de estado. Isso é característico de máfias, como a gente já viu na Itália. […] E essa operação está atuando na asfixia financeira desse grupo”, explicou Gakiya em coletiva após a operação do Ministério Público que prendeu os dirigentes das empresas de ônibus pela ligação com o PCC.
Financiamento de candidaturas
O cenário fica ainda mais alarmante com as recentes operações conduzidas pelo MP-SP (Ministério Público de São Paulo) e a Polícia Militar, que evidenciaram a extensão e influência do grupo criminoso em diversos níveis do governo. Em abril, a Operação Munditia prendeu três vereadores e um advogado, além de cumprir 11 mandados de prisão temporária e 42 mandados de busca e apreensão em prefeituras e Câmaras de Vereadores em todo o estado. As investigações revelaram que o PCC financiava campanhas eleitorais para obter favores na realização de fraudes em licitações. Após serem eleitos, segundo o MP, os políticos manipulavam contratos públicos para empresas associadas a facção criminosa, que usavam esses contratos para lavar dinheiro.
Em outro caso, revelado pelo UOL, a Polícia Civil de São Paulo investiga um esquema do PCC que movimentou cerca de R$ 8 bilhões por meio de uma instituição clandestina para financiar candidaturas políticas em municípios do estado e lavar dinheiro. Entre os principais suspeitos estão Fabiana Lopes Manzini e João Gabriel de Mello Yamawak. Fabiana, esposa de Anderson Manzini, membro do PCC, comandaria as atividades ilícitas enquanto seu marido cumpria pena. Já Yamawaki, apontado como responsável pelo núcleo financeiro da facção, teria interesse em eleger vereadores em cidades paulistas.
Fabrício Intelizano, delegado da Polícia Civil de Mogi das Cruzes, afirmou que ao menos três candidatos foram beneficiados em Mogi, Ubatuba e Santo André. Ainda segundo ele, Ubatuba se tornou um alvo para a infiltração do grupo. “O PCC tem demonstrado interesse em se infiltrar em Ubatuba. Com maior presença da polícia no porto de Santos, o crime organizado tem migrado suas atividades para São Sebastião, dada a proximidade com o Porto de Itaguaí, no Rio de Janeiro, e pelo fato de ter aeroporto próprio”, declarou o policial. A investigação começou com a Operação Decurio, deflagrada pela Polícia Civil de São Paulo visando desmantelar atividades criminosas ligadas ao PCC.
Walter Maierovitch, fundador do Instituto Brasileiro Giovanni Falcone de Ciências Criminais e autor do livro ‘Máfia, poder e antimáfia’, explicou que organizações como essa enfraquecem e afetam o poder das instituições governamentais “Como toda máfia, o PCC, se tem oportunidade, gruda no Estado e passa a corrompê-lo e a sugá-lo. De quebra, as máfias ainda enfraquecem a capacidade de o Estado implementar as leis. Toda máfia é parasitária. Todo Estado é vulnerável”.
Todas as investigações envolvendo o financiamento de campanhas eleitorais pelo PCC e sua participação em instituições públicas e privadas continuam em andamento. Fundada em 1993 na Casa de Custódia Taubaté, no interior de São Paulo, a organização se estendeu para outras regiões, se ligando ao tráfico de drogas, contrabando, dominação nos presídios e outros crimes; mas, sob acusações de estar presente também na política, a influência do grupo criminoso traz preocupações também acerca da democracia no país..
(*) Sob supervisão e edição do prof. es. Caíque Toledo

