Dos debates à decisão: a influência direta na opinião pública

 Em 2022, mais de 35 milhões de brasileiros não participaram das eleições ou tiveram os votos descartados

Por Giovanna Ferreira (*)

Foto: Reprodução / TV Globo

O que influencia a decisão da população diante das eleições? Uma proposta boa? O nome de um partido? Um furo? Ou o próprio candidato? Na verdade, todos esses fatores são essenciais para decidir um voto. Porém, assim como os outros, existe uma ferramenta que é capaz de mudar tudo às vésperas do pelito: os debates televisivos. 

Os debates são decisivos, pois mexem diretamente com a opinião do público. Atualmente, as regras dos debates são definidas por legislação, como a Lei nº 9.504/97, que estabelece condições rigorosas para a realização desses eventos nas emissoras durante o período eleitoral. Essa lei garante o princípio da igualdade entre os candidatos, garantindo que todos tenham oportunidades semelhantes de expor suas propostas e interagir com a audiência. 

Com o passar dos anos, muitas mudanças ocorreram na realização desse formato. Antigamente, os debates eram frequentemente menos estruturados e podiam ser dominados por discursos unilaterais ou um controle inadequado do tempo. Hoje, as diretrizes legais e a evolução das práticas de mediação promovem um ambiente mais equilibrado e dinâmico, onde a imparcialidade dos mediadores e o respeito ao tempo de fala são primordiais. Além da estrutura legal, o formato dos debates evoluiu para se tornar mais acessível e envolvente. 

O foco, no entanto, continua a ser a promoção de um espaço onde ideias e propostas possam ser discutidas de maneira clara e impactante. Essa troca não apenas informa o eleitor, mas também provoca reflexões críticas sobre questões sociais e políticas, ajudando a formar uma opinião pública mais consciente. Além disso, a natureza performática dos debates transforma esses eventos em verdadeiros espetáculos. A habilidade dos candidatos em se comunicar, argumentar e até se defender sob pressão pode cativar a audiência, tornando o debate uma experiência envolvente e memorável. 

“No fundo, o debate político é um importante portal da democracia. É com ele, que se aprende a discordar concordando, a transformar o inimigo em adversário, a neutralizar etnia, classe social e gênero, e a respeitar escolhas de todos os tipos”, afirma o antropólogo Roberto Da Matta, no prefácio do livro ‘Debate na veia’ do jornalista Fernando Mitre.

Debate mudou os rumos eleitorais 
Na eleição de 1989, o primeiro pleito direto após o fim da ditadura militar, 22 candidatos disputaram a escolha do público, como Ulysses Guimarães, Paulo Maluf e Mário Covas. Dentre esses 22, dois tiveram um maior alcance do interesse público e despontaram: Fernando Collor de Mello, representante do PRN, prometia uma “caçada aos marajás” e modernização política. Do outro lado, Lula Inácio da Silva, do PT, metalúrgico que surgiu como liderança política nos movimentos sindicais. 

Collor não era um dos mais conhecidos, porém obteve uma reviravolta surpreendente, o que o levou a disputar o segundo turno com Lula. Foi nesse momento em que os debates influenciaram diretamente na escolha do público. O debate do segundo turno foi realizado por um pool entre as quatro principais emissoras de televisão da época (Globo, Bandeirantes, Manchete e SBT), e, ao reprisar os melhores momentos editados de Collor e destacar Lula em situação de nervosismo, a Globo foi acusada de favorecer o candidato do PRN. No fim, o debate acabou sendo apontado foi a chave principal para que Collor vencesse a disputa com 53% dos votos válidos. 

Hoje em dia, com o avanço das mídias e do alcance televisivo, os debates políticos continuam influenciando toda uma sociedade, como na eleição de 2022. Considerado por muitos como um debate equilibrado, ele contou com aspectos positivos e negativos de controle. Candidatos do segundo turno, o então presidente Jair Bolsonaro (PL) e o então ex-presidente Lula (PT) trocaram provocações, que em determinado tempo eram ignoradas ou caiam no jogo. Para a jornalista e colunista no G1, Miriam Leitão, Lula conseguiu “fazer pontos mais importantes na questão da pandemia, que está fresco na memória de todo mundo."

Essa dinâmica ligado às redes sociais influenciam ainda mais a população. Nos debates é preciso saber que tudo o que você fala vai estar contra ou a favor do seu próprio interesse. Em busca de um processo eleitoral cada vez mais democrático, os debates acabaram se tornando protagonistas e necessários, buscando apresentar de forma clara e verídica a realidade dos candidatos, sendo o principal momento para que a população consiga enxergar, de forma não manipulada, algumas verdades escondidas nas propagandas.

(*) Sob supervisão e edição do prof. es. Caíque Toledo